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Os contrastes econômicos das regionais acreanas em 2022

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou, na quinta-feira (9/10),  os resultados preliminares do Censo Demográfico 2022: Trabalho e Rendimento e Deslocamento para trabalho e para estudo. O resultado é importante porque, o IBGE tem pesquisas amostrais sobre esses temas, mas o Censo Demográfico traz uma riqueza que são os recortes geográficos que possibilitou colher os dados por municípios brasileiros.


Os dados do Censo Demográfico de 2022 revelam que o Acre possuía 624 mil pessoas com 14 anos ou mais de idade, das quais 313 mil (50,2%) integravam a força de trabalho — ou seja, estavam ocupadas ou em busca de ocupação — enquanto 310 mil (49,8%) encontravam-se fora dela, grupo que inclui estudantes, aposentados, donas de casa, outros inativos e aqueles que não estão dispostos a trabalhar. A taxa de desocupação estadual (6,0%) situou-se em torno da média nacional e um pouco abaixo da média regional, observada no mesmo período, refletindo um mercado de trabalho relativamente estável.


A análise regional mostra que o Baixo Acre, que concentra a capital Rio Branco e os principais centros urbanos, responde por mais da metade da força de trabalho estadual (192,6 mil pessoas) e apresenta taxa de desocupação de 5,8%, próxima à média do estado. No Juruá, segunda regional mais populosa, a taxa é a mais alta (7,6%), indicando maior vulnerabilidade no mercado de trabalho de Cruzeiro do Sul e municípios vizinhos. O Purus (6,9%) também registra desocupação elevada, refletindo limitações estruturais e baixa diversificação econômica.


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Por outro lado, as regionais do Alto Acre (4,4%) e Tarauacá/Envira (4,7%) exibem as menores taxas de desocupação, possivelmente associadas à presença de atividades agroextrativistas, agropecuárias e ao peso do emprego público, que garantem relativa estabilidade ocupacional. A presença da empresas agroindustriais (Dom Porquito e Acreaves), além do turismo com os países vizinhos, influenciaram positivamente o baixo desemprego no Alto Acre. Em síntese, o mercado de trabalho acreano é fortemente concentrado no Baixo Acre, mas as regiões interioranas mantêm participação significativa e níveis de desemprego moderados, com destaque para o desempenho positivo do Alto Acre e para os desafios persistentes no Juruá e Purus.


Participação desigual: a força de trabalho nas diferentes economias regionais do Acre


Os dados do Censo Demográfico de 2022 (IBGE) mostram que a taxa de participação na força de trabalho — proporção da população de 14 anos ou mais que está ocupada ou procurando emprego — varia significativamente entre as regionais do Acre, refletindo diferenças econômicas e demográficas no estado. A regional do Baixo Acre, que concentra a capital Rio Branco e os principais polos urbanos, apresenta a maior taxa de participação (54,3%), acompanhada de uma taxa de desocupação de 5,8%, o que indica um mercado de trabalho mais ativo, porém também mais competitivo, influenciado pela urbanização e pela busca por empregos formais.


No Alto Acre, a participação é de 51,7%, com desocupação de apenas 4,4%, a menor do estado — um quadro de relativa estabilidade, provavelmente associado à combinação entre atividades agropecuárias, agroextrativismo, a presença de empregos públicos municipais e a presença da empresas agroindustriais (Dom Porquito e Acreaves), além do turismo com os países vizinhos. Já o Juruá apresenta taxa de participação de 47,9%, a terceira maior, mas com a mais alta desocupação (7,6%), revelando um desequilíbrio entre a oferta de mão de obra e a capacidade de geração de empregos formais na região de Cruzeiro do Sul e arredores.


Nas regionais mais isoladas, a inserção no mercado de trabalho é bem menor: Tarauacá/Envira (36,6%) e Purus (40,4%) apresentam as menores taxas de participação, associadas à predominância de atividades de subsistência, grande quantidade de população indígena, baixa escolaridade e ausência de oportunidades regulares de trabalho. Ainda assim, suas taxas de desocupação — 4,7% e 6,9%, respectivamente — indicam que, entre os que estão ativos, o desemprego não é elevado, embora o trabalho informal e de baixa produtividade predomine.


Acre mantém renda próxima à média do Norte, mas distante do padrão nacional


Os dados do Censo Demográfico de 2022 (IBGE) mostram que o rendimento nominal médio mensal das pessoas de 14 anos ou mais de idade ocupadas no Acre foi de R$ 2.242,74, valor ligeiramente superior à média da Região Norte (R$ 2.237,96) e bem abaixo da média nacional (R$ 2.850,64), conforme demostrado no gráfico a seguir. Isso confirma a permanência de uma defasagem estrutural de renda entre o Acre e o conjunto do país, ainda que o estado apresente um desempenho próximo ao da média regional.



Entre as regionais acreanas, observa-se pequena variação interna, mas com diferenças significativas quando comparadas ao Brasil. As regionais Baixo Acre (R$ 1.809,56) e Alto Acre (R$ 1.819,14) apresentam os maiores rendimentos médios do estado, reflexo da concentração de atividades administrativas, serviços públicos e comércio formal nas áreas urbanas, especialmente na capital Rio Branco e nos municípios fronteiriços. Já o Juruá, com R$ 1.521,45, tem o menor rendimento médio regional, evidenciando um mercado de trabalho mais restrito e pouco diversificado.


Nas regionais Tarauacá/Envira (R$ 1.660,34) e Purus (R$ 1.712,70), os valores permanecem baixos, refletindo economias baseadas em atividades agroextrativistas e informais, com baixa remuneração e limitada presença de empregos com carteira assinada. Essa distribuição demonstra que as regiões mais urbanizadas e próximas da capital concentram melhores oportunidades e rendimentos, enquanto as áreas interioranas e rurais enfrentam forte desigualdade de renda e dependência de transferências públicas.


Os resultados do Censo Demográfico de 2022 evidenciam que o mercado de trabalho acreano combina avanços importantes e desigualdades estruturais persistentes. O estado apresenta níveis moderados de desocupação (6,0%) e uma participação na força de trabalho de cerca de 50%, mas com forte concentração de oportunidades nas regiões mais urbanizadas, especialmente no Baixo e Alto Acre, onde se concentram serviços públicos, comércio e agroindústrias. Em contraste, as regionais Juruá, Purus e Tarauacá/Envira enfrentam baixa inserção produtiva e rendimentos menores, refletindo economias locais dependentes do extrativismo e do funcionalismo público. Embora o rendimento médio do Acre (R$ 2.242,74) se aproxime da média da Região Norte, ele ainda se mantém bem abaixo do padrão nacional (R$ 2.850,64). Esses resultados reforçam a necessidade de diversificação econômica, interiorização das oportunidades e valorização do trabalho rural e agroextrativista, pilares essenciais para reduzir as desigualdades regionais e promover um desenvolvimento mais equilibrado no estado.



Orlando Sabino escreve às quintas-feiras no ac24horas