Sophie Charlotte, protagonista de Três Graças, interpreta uma heroína que foge da cartilha de mocinha sofredora: Gerluce trabalha para sustentar tanto a mãe quanto a filha e enfrentará a engrenagem dos vilões que fraudam remédios para desviar uma verdadeira fortuna, prejudicando a saúde de pessoas carentes. “Ela é atropelada pelos acontecimentos e se revolta com a desigualdade”, explica a atriz.
Ao descobrir o esquema, a personagem passará a agir como justiceira. Roubará o dinheiro dos criminosos para comprar medicamentos que serão distribuídos gratuitamente aos doentes que foram lesados pela quadrilha comandada por Ferette (Murilo Benício).
Sophie afirma que pediu um papel assim: “Eu realmente verbalizei, para mim mesma, que eu estava interessada em contar justamente uma dessas histórias. Histórias que merecem ser contadas, de uma mulher assim, exatamente como é a Gerluce”.
Ela diz que, na nova novela das nove da Globo, foi convocada para lidar com uma protagonista em choque permanente com a realidade. “Tive de tentar entender como eu ia dar conta de uma personagem que está nesse lugar de perceber essa engrenagem, enxergar essa desigualdade e, ao mesmo tempo, manter a esperança, a força vital de alegria”, explica.
A atriz afirma que Gerluce é uma mulher que sublinha o “mistério brasileiro” de sobreviver sem colapsar em condições que a desafiam todos os dias:
“Quando nós pensamos no Brasil, também pensamos nesse contraste, que, para mim, é um grande mistério lindo nosso, de como conseguimos equilibrar coisas que parecem tão opostas.”
O processo de criação de Sophie foi sustentado pelos colegas. “A gente tem um elenco que é um luxo no melhor sentido de talento, de dedicação… Isso foi enriquecendo o meu trabalho”, comenta.
Gerluce é a força motriz da novela
Os autores Zé Dassilva e Virgílio Silva, que escrevem a novela com Aguinaldo Silva, afirmam que a história parte de um imperativo realista. “É uma trama sobre esperança… A Gerluce é alguém que vai colocar essa situação em xeque”, diz Dassilva.
Virgílio Silva pondera que não há romantização das dificuldades por que pessoas pobres passam: “Elas sabem da realidade delas… Matam um leão por dia, mas não há lugar para tristeza. A vida é batalha, mas a vida é boa de qualquer maneira”.
Para completar, o diretor artístico Luis Henrique Rios enquadra a novela como um diagnóstico ético do país: “O Brasil é um país de desigualdades profundas. Três Graças é sobre o grande dilema ético desse país: quanto vale a vida? E para quem?”.
Segundo ele, em Três Graças, a favela deixa de ser apenas carência para ser potência com Gerluce, sua família e amigos. “É um lugar onde as pessoas realizam sua existência com fé e profunda esperança”, declara Rios.
Mas nada de documentário, avisa o diretor. O dilema virá embrulhado em espetáculo de entretenimento diário. “A novela é intensa, mas pensada para que as pessoas cheguem em casa, assistam e se divirtam”, conclui.