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Entrevista com Suely Melo, secretária de Saúde do Estado

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Apenas uma nota de esclarecimento responderia às críticas do Sindicato dos Médicos esta semana a um comentário feito durante o programa Tribuna Livre, exibido pelo SBT e apresentado pelo jornalista Archibaldo Antunes. Mas as manifestações de apoio e de incentivo foram tão numerosas que a secretária Suely Melo se achou no dever de esclarecer a população sobre os motivos que a levaram a classificar a postura de alguns profissionais médicos como “mercenária”.


O trecho de sua fala, visto de forma isolada, parece uma ofensa que se dilui no decorrer da conversa. É possível reconhecer alguns desses maus profissionais e excluir outro tanto. Não há como negar que durante décadas o serviço público de saúde tinha como característica situações de descaso de médicos e de outros profissionais de saúde quando também não havia estrutura física, qualidade dos serviços ou capacitação de recursos humanos.


Com as melhorias feitas nos últimos anos em várias áreas da saúde, a população tem outras referências, conhece melhor os seus direitos e sabe identificar onde o governo avançou e o que é preciso ser corrigido. Mesmo com as falhas, não há como deixar de reconhecer que a oferta dos serviços no Acre saiu de um patamar perto do zero para conquistar a confiança dos usuários do SUS ao ponto de colocarem o Estado como o que apresentou os melhores índices de satisfação em pesquisa realizada no ano passado pelo Ministério da Saúde.

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Suely Melo aceitou responder às perguntas do ac24horas, enviadas por email e respondidas em horário de expediente excepcional. Neste sábado, 4, trabalhou até meia-noite na avaliação de processos e na leitura de documentos e projetos que sobraram da agenda da semana intensa em que se deparou até com rumores sobre a substituição de seu nome da pasta.


Com o apoio do governador Tião Viana diz que está tranquila e que é preciso trabalhar muito pra cumprir as metas e os índices de resolutividade dos serviços. “Nossa meta é fazer com esse usuário entre na rede e seja atendido o mais rápido e da melhor forma possível. E para isso preciso da colaboração de cem por cento dos servidores públicos”.


Em linhas gerais, como a senhora avalia o primeiro ano de governo na área de saúde pública?


Foi um ano muito positivo para o setor Saúde. Muitos investimentos, muitas conquistas e melhorias substanciais, tais como a ampliação do número de leitos na rede hospitalar, a ampliação da oferta de consultas e exames com o fortalecimento da Atenção Básica. O controle epidemiológico e vetorial da dengue em Rio Branco e da malária no Juruá foram ações impactantes e que nos trouxeram excelentes resultados, inclusive com um prêmio oferecido pela Opas (Organização Pan-Americana de Saúde) de vice-campeão na melhor estratégia de combate à malária das Américas. Em uma pesquisa de satisfação dos serviços oferecidos pelos SUS, realizada pelo Ministério da Saúde, fomos classificados como o melhor serviço de saúde do Brasil, fato que nos deixa felizes e cada vez mais nos deixa comprometidos com as melhorias do serviço de saúde. O Programa Saúde Itinerante, o Cuidando dos Seus Olhos, que realizou milhares de cirurgias de catarata, pterígio e consultas oftalmológicas, está sendo um sucesso absoluto. Ampliamos as vagas para as residências médica e de enfermagem, e o número de especialidades como a anestesiologia e a cardiologia. Estamos em fase de ampliação dos quadros de profissionais, por intermédio do contrato com o PROSAÚDE. A empresa já abriu concurso público para o provimento dos cargos no estado inteiro. Tudo isso é resultado de investimento do Governo com o objetivo de melhorar o acesso aos serviços de saúde promover a qualidade da assistência e, principalmente, a satisfação do usuário.


A gestão ainda não conseguiu resolver problemas pontuais, como as filas, principalmente no Hospital das Clinicas. Que estratégias o Estado tem para resolver esse “calcanhar de Aquiles”?


É importante dizer que o Estado teve aumento populacional e isso requer mais esforços, pois as necessidades de saúde também cresceram e mudaram. Hoje, temos que conviver com doenças típicas do envelhecimento da população, que chamamos de doenças crônicas, tais como: hipertensão e diabetes, mas também temos que dar conta de doenças transmissíveis como a dengue e a malária. Para fazer tudo isso o Estado está mobilizando muitos recursos financeiros, físicos e humanos. Investimentos e continuamos investindo pesadamente na reorganização do serviço, na ampliação da capacidade de atendimento, a exemplo da parceria com o município de Rio Branco, em que o Governo do Estado mudou o método de atendimento por ficha, para demanda livre, com a ampliação do horário de trabalho da unidade básica para doze horas ininterruptas, e com seis médicos por turno. Com esta característica temos três unidades básicas de saúde (São Francisco, Augusto Hidalgo e Eduardo Assmar). Esta ação ampliou em 200% o acesso à consulta no município de Rio Branco. Os mutirões são outra estratégia de sucesso para ampliar a oferta e cobrir a demanda, os quais vêm sendo realizados desde o início do mandato e têm dado bons resultados. Assim, conseguimos praticamente zerar as demandas de atendimento oftalmológico, ampliamos muito o acesso às cirurgias de próstata. Para responder as demandas de cirurgias eletivas, estruturamos dois centros cirúrgicos em Senador Guiomard. A fim de atender outras necessidades da população em relação a serviços, compramos vários serviços complementares de saúde tais como exames de cintilografia, angiografia cardíaca e cerebral, ressonância, densitometria óssea, dentre outros. Estamos em processo de compra de novos serviços de procedimentos cirúrgicos, saúde auditiva (desde o teste da orelhinha até implante coclear), serviços de otorrinolaringologia, e uma novidade que é a digitalização de imagens, ou seja, os exames de RX e tomografia serão digitalizados e podemos laudar esses exames em qualquer lugar do país. Desta forma diminuiremos o tempo de espera para entrega dos resultados desses exames e daremos maior agilidade ao tratamento.


Em resumo, os números têm demonstrado que ampliamos o acesso ao atendimento ambulatorial especializado, em exames, em consultas básicas, em cirurgias, etc. Entretanto, diante do desafio de superarmos o nosso déficit de profissionais no interior do Estado lançamos mão da estratégia do Programa Saúde Itinerante para levarmos atendimento especializado para todos os municípios do Acre. Para as unidades de saúde interiorizadas levamos as cirurgias eletivas, cirurgias oftalmológicas, cirurgias ginecológicas, cirurgias de próstata, cirurgias de alta freqüência, dentre outras.


“Não há privilégios de uma categoria em detrimento de outras. Isso significa que cobraremos igualmente, de todos os profissionais, o mesmo comportamento no cumprimento das suas obrigações contratuais e respeito ao serviço público e à população”.


O problema com os médicos se tornou um enfrentamento. O Estado vai manter a mesma postura?


Eu não considero assim, prefiro chamar de um grande mal-entendido. Alguns médicos tomaram pra si as minhas observações com referência à busca de alguns por enriquecimento, mesmo que isso signifique não cumprir adequadamente com suas responsabilidades. Quando falei isso não generalizei, reconheço que temos excelentes médicos no Acre, assim como reconheço que temos alguns médicos que não possuem compromisso com sua profissão e parecem ter esquecido por completo o juramento profissional que fizeram ao obterem seu diploma. Felizmente, é uma minoria que não tem ética, compromisso e responsabilidade social. Foi com a maioria que conseguimos realizar tudo que realizamos em 2011. Foi com a maioria que contamos para ampliar o acesso a cirurgias e atendimento ambulatorial; esses médicos não mediram esforços para contribuir para melhorar a saúde do nosso estado. Tudo que fizemos não se faz com minoria. Agradeço de coração aos bons médicos os quais têm todo meu respeito e apreço. Sou responsável pela política de Saúde do Acre e vou exercer essa função com muita responsabilidade. A cobrança pela efetividade do trabalho dos profissionais da medicina é importante, porque eles lidam com vida. Além disso, temos outras categorias profissionais dentro do Sistema de Saúde e não queremos tratamento diferenciado. Não há privilégios de uma categoria em detrimento de outras. Isso significa que cobraremos igualmente, de todos os profissionais, o mesmo comportamento no cumprimento das suas obrigações contratuais e respeito ao serviço público e à população. Estarei sempre ao lado da população quando se tratar dos direitos à saúde.


A oposição tem cobrado um esclarecimento ainda com relação ao escândalo da UTI no Ar. O que mudou nesse sistema de atendimento e quais foram às punições aos funcionários envolvidos?


Esse fato lamentável foi descoberto pelo Governo em dezembro de 2010. Imediatamente, foram implementadas ações judiciais cabíveis, incluindo bloqueio dos créditos do prestador de serviço e abertura de processo administrativo para apurar a conduta do servidor. Ainda em 2010 foi apurado o dano ao erário publico. Em março de 2011, a Procuradoria concluiu o processo no âmbito da administração pública que resultou no ressarcimento total dos valores desviados, mais multa e a responsabilização dos agentes.

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Que projetos o Estado vai desenvolver em 2012 no setor de saúde pública?


Neste ano teremos muitas novidades, todas elas voltadas para melhorar o acesso e qualificar o serviço. Vamos ter um grande programa de Saúde Bucal, com o qual as pessoas mais carentes terão oportunidade de cuidar de seus dentes e até, se for necessário, receber uma prótese dentária. Atendimento amplo à Saúde da Mulher e da Criança, com o Projeto Mulher Cidadã, que realizará o rastreamento de câncer de colo de útero e mama e o planejamento familiar, além da organização da Rede de Atenção – Rede Cegonha que garantirá um acesso adequado das gestantes e recém-nascidos aos serviços com acompanhamento da criança de 0 a 2 anos. Com relação à saúde auditiva, estamos contratando um serviço que garantirá desde a prevenção até a reabilitação, com a disponibilização de próteses auditivas. Ampliaremos o programa de cirurgias eletivas, das cirurgias cardíacas e dos transplantes; ampliaremos o Programa Saúde Itinerante de Especialidades, intensificaremos, ainda mais, o combate à dengue e à malária e o fortalecimento das ações de apoio técnico a todos os municípios do estado. Iniciaremos a construção do Hospital Regional do Alto Acre – Brasiléia, onde poderemos oferecer uma melhor assistência para a população daquela região, com uma unidade ampla e moderna, com equipamentos e tecnologia adequada, e com recursos humanos em quantidade e qualidade necessária. Daremos inicio à construção de mais duas UPAs, uma em Rio Branco e outra em Cruzeiro do Sul. Vários hospitais entrarão em reforma e ampliação e, já nos próximos meses, entregaremos os hospitais de Santa Rosa do Purus, Jordão, Marechal Thaumaturgo e Porto Walter. Quanto aos recursos humanos, daremos continuidade ao programa de qualificação com a oferta de cursos de mestrado, doutorado e especializações, apoiando áreas da medicina, enfermagem, nutrição, fisioterapia, dentre outras, pois acreditamos no compromisso e competência de muitos dos profissionais que atuam no SUS.


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