O político acreano mais experiente ainda no exercício do mandato, deputado federal Flaviano Melo (PMDB), analisou os principais assuntos pós eleitorais. Reeleito para o seu terceiro mandato na Câmara Federal, Flaviano que já foi também governador do Acre, prefeito de Rio Branco e senador está empenhado junto com o PMDB em apresentar uma proposta para a Reforma Política. Além disso, nessa entrevista exclusiva, o parlamentar analisou as causas das seguidas derrotas da oposição para a FPA aos cargos executivos. E traçou um quadro para o futuro político da Nação.
Nelson Liano Jr. – Numa eleição tão disputada para Câmara Federal aqui no Acre e, com gente com campanhas mais estruturadas que a sua, qual é o segredo de manter a sua votação dando a impressão que são votos cativos?
Flaviano Melo – Meu votos são consequência de um trabalho prestado ao longo de muitos anos. Isso começou com meu pai (Raimundo Melo) que morreu há 30 anos e ainda hoje encontro muita gente que vota em mim por causa do trabalho dele. Pessoas que o admiravam. Em seguida passou para o meu irmão (José Melo) que também trabalhou muito. E eu pelos cargos que passei também fiz muita coisa no Estado e continuo trabalhando pelo povo do Acre. Destinando emendas, defendendo a democracia e exercendo o meu mandato de forma correta. Então não existe mácula na minha carreira política. Isso que me leva a ter uma votação constante.
NL- Como o senhor analisa o resultado eleitoral do Acre? Mais uma vez a diferença entre a FPA e a oposição para o Governo ficou num percentual muito baixo.
FM- Todos nós sabemos que o Acre é um estado politicamente dividido. Metade da população aprova o atual Governo e a outra é contra. E nós da oposição se quisermos ganhar a eleição temos que conseguir uma vantagem de mais de 5%. Com a reeleição num estado pequeno perder é muito difícil. Então se houver uma vantagem de 2 ou 3% no dia da eleição sempre se tira. Que foi o que aconteceu agora. Qualquer pesquisa nossa dava o nosso candidato com 2 ou 3% na frente. E eu dizia que ainda era pouco porque era possível reverter. Foi o que aconteceu. Eles conseguiram tirar essa diferença nos últimos dias da campanha. A oposição precisa estar mais atenta e apresentar coisa nova. Candidato novo. O povo quer cara nova. Nas últimas quatro eleições nós perdemos com os mesmo candidatos. Então vamos procurar gente nova para renovar e ganhar esses 10% que faltam para assumir o Governo.
NL- Um dos principais pontos do debate eleitoral local e nacional foi a questão da Reforma Política. Com a sua larga experiência no Congresso Nacional como senador e deputado federal qual vai ser a sua postura e a do PMDB sobre o tema?
FM – O PMDB como sempre dá um passo ligado ao que está pensando o povo. Nas “Diretas” foi o PMDB quem puxou, a eleição do Tancredo Neves e a redemocratização do Brasil também foi o PMDB que comandou o processo. E, agora, o povo quer a Reforma Política e o PMDB já está agindo. Logo depois das eleições nós reunimos as principais lideranças do partido. Nesse quórum extremamente representativo nós decidimos preparar uma proposta de Reforma Política e partidária para apresentar ao novo Congresso Nacional. Formamos uma comissão e a Fundação Ulysses Guimarães está tocando esse projeto. A Fundação preparou um questionário e mandou para todos os membros do PMDB e qualquer pessoa pode responder. É só entrar no site do PMDB e responder. Só precisa colocar o nome para não haver duplicação. Assim vamos sistematizar as respostas e apresentar uma proposta vinda das bases populares. Nenhum partido ainda fez isso e nós já saímos na frente. Têm coisas que precisam mudar. A reeleição tem que acabar. Vamos aumentar os mandatos para cinco anos sem reeleição. Qual sistema para os proporcionais? O voto distrital misto? O sistema eleitoral atualmente mais perfeito é o da Alemanha. Lá é o voto distrital misto, metade dos deputados é eleito nos distritos em votação majoritária. O Acre, por exemplo, seria dividido em quatro distritos. Em cada um seria eleito uma quantidade de deputados e o resto em listas partidárias. Os mais votados seriam os eleitos. Os melhores cientistas políticos do mundo inteiro dizem que é o sistema mais perfeito. O vice-presidente da República Michel Temer (PMDB) sugeriu há um ano o voto majoritário. Os partidos apresentam candidatos e os mais votados entram. Assim acaba o coeficiente. Mas isso tudo tem que ser votado. E o PMDB fará a sua sugestão de Reforma até o começo da próxima legislatura.
NL- O senhor apoiou aqui no Acre o Aécio Neves (PSDB). Mas a Dilma (PT) que tem o Michel Temer de vice ganhou. Como é que fica essa situação? Como deputado federal o senhor será base do Governo de novo?
FM – Continua tudo do jeito que aconteceu nas eleições passadas. Nós apoiamos o Alkmin (PSDB) e o Serra (PSDB) e perdemos as eleições. E lá o PMDB é aliado da Dilma. Nós votamos com o partido. Agora, o que está acontecendo é que desde que o Eduardo Cunha (PMDB) assumiu a liderança do PMDB na Câmara Federal o partido passou a ser mais crítico. Deixou de ser aquele partido subserviente. O PMDB vota com o Governo aquilo que acha correto. Muita coisa a gente votou contra e vai continuar assim. Quando o Eduardo Cunha começou a ouvir a bancada percebeu isso e atendendo a vontade dos deputados ficou com a bancada na mão. Hoje tem o apoio de todos nós para ser o novo presidente da Câmara.
NL – Como vai ser a participação do PMDB a nível dos ministérios?
FM – Não tem como diminuir a participação do PMDB. Porque é aquele partido que ninguém governa sem ele. O tamanho do PMDB na Câmara e no Senado não pode ser jogado fora por nenhum presidente da República.
NL -Acabada a eleição sempre tem o choro dos derrotados. Mas aí se começou uma especulação sobre o possível impeachment da presidente Dilma. Tese puxada pelo PSDB que relaciona o impeachment com o escândalo da Petrobras. O que o senhor acha disso?
FM- O impeachment em função do resultado da eleição é brincadeira. Não se pode sair de uma eleição e pedir o impeachment de quem ganhou. Um verdadeiro absurdo. Agora, essa investigação da Petrobras é muito séria. Duvido que alguém tenha a condição de dizer onde isso vai acabar. O Collor começou com esses desmandos e chegou onde chegou. Vamos esperar, mas os números do Petrolão são absurdos. Se repatriou da Suíça não sei quantos milhões, o outro recebeu mais dezenas de milhões. “E o povo não faz nada?” me perguntou um eleitor. Acho que o povo já já vai tomar uma posição. Não sou eu que decido o que o povo vai fazer. Mas isso não fica assim. Mesmo porque os números são muito mais violentos do que do Mensalão. Então a situação é complicada e eu temo por isso.
NL- Aqui no Acre também teve um assunto que virou nacional. O derrame de carteiras de pescadores profissionais para se receber salários no período do defeso. Como senhor avalia essa situação que, inclusive, tem relações com a disputa para as vagas de deputados federais?
FM- Segundo as minhas informações o caso está sob investigação da Polícia Federal e o Ministério Público deve estar acompanhando se realmente houve compra de votos. Se as denúncias forem verdadeiras é uma pena saber como é que a turma ganha mandato comprando voto com a distribuição de carteiras de pescador.