O dólar abriu a sessão desta quarta-feira (5) em queda, em um dia mais curto de negociações no Brasil por conta do feriado de Quarta-Feira de Cinzas. As negociações da moeda e do Ibovespa começaram apenas às 13h.
Com o feriado por aqui, as atenções ficam voltadas para o exterior, onde os mercados já estão na ativa. O destaque fica, mais uma vez, com os desdobramentos do “tarifaço” do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Na última terça-feira (4), as tarifas de 25% sobre todos os produtos que chegam aos EUA do Canadá e do México entraram em vigor, assim como uma taxa adicional de 10% sobre todas as importações da China. Os países responderam com ameaças e novas tarifas em retaliação aos EUA, o que estressou os mercados globais.
Nesta quarta, porém, o Secretário do Comércio dos EUA, Howard Lutnick, disse em entrevista à Bloomberg TV que o país deve nunciar medidas de alívio nas tarifas para determinados setores e que as taxas podem se retiradas caso Canadá e México limitem a entrada de imigrantes ilegais nos EUA.
Com a leve mudança no tom das comunicações do governo americano, os mercados globais operam em terreno positivo, com maior otimismo dos investidores.
O Ibovespa, principal índice acionário da bolsa de valores brasileira, a B3, opera praticamente estável.
Dólar
Às 13h13, o dólar operava em queda de 2,03%, cotado em R$ 5,7963. Veja mais cotações.
Na última sexta-feira (28), a moeda americana teve alta de 1,50%%, cotada a R$ 5,9162.
Com o resultado, acumulou:
• alta de 3,24% na semana;
• avanço de 1,35% no mês; e
• perdas de 4,26% no ano.
Variação do dólar em 2025
Ibovespa
No mesmo horário, o Ibovespa tinha alta de 0,11%, aos 122.936 pontos.
Na sexta, o índice teve baixa de 1,60%, aos 122.799 pontos.
Com o resultado, o Ibovespa acumulou:
• queda de 3,41% na semana;
• perdas de 2,64% no mês;
• alta de 2,09% no ano.
Variação do Ibovespa em 2025
O que está mexendo com os mercados?
Depois de um dia de quedas generalizadas nas bolsas internacionais por conta dos temores de guerra comercial entre EUA e os países contra os quais Trump impôs as primeiras tarifas de importação, o mercado opera com maior otimismo dos investidores, na expectativa por um tom menos duro do governo norte-americano.
Nesta quarta, o Secretário de Comércio dos EUA disse que um anúncio sobre tarifas sobre produtos do México e Canadá era esperado para mais tarde na quarta-feira, depois que ele falou com o Presidente Donald Trump, que está avaliando possíveis setores, como automóveis, que poderiam ver algum alívio potencial.
Além disso, Trump deve conversar com os líderes do Canadá e do México nos próximos dias ara tentar chegar a acordos sobre as tarifas.
Howard Lutnick também disse que tarifas recíprocas mais amplas ainda viriam em 2 de abril, mas de forma escalonada, com algumas sendo cobradas imediatamente e outras levando semanas ou meses antes de serem impostas.
A perspectiva de que os EUA podem ser mais flexíveis com a política tarifária agrada o mercado porque diminui a cautela com a possível pressão inflacionária decorrente das medidas.
Taxas maiores aos produtos que chegam aos EUA tendem a elevar os preços dos insumos e produtos no país, encarecendo a produção de diversas cadeias produtivas e os preços para o consumidor final — movimento que pode pressionar a inflação americana.
Uma inflação maior nos EUA pode levar o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) a elevar suas taxas de juros.
Isso aumentaria, também, a rentabilidade dos títulos públicos do país, considerados os mais seguros do mundo, o que leva investidores a retirarem seu dinheiro de ativos de risco e migrarem para esses títulos, influenciando o preço do dólar e, consequentemente, a inflação em todo o mundo.
O ‘tarifaço’ de Trump
Nesta terça, entraram em vigor as tarifas de 25% que Trump impôs sobre todas as importações que chegam do México e do Canadá aos EUA, além de tarifas adicionais de 10% sobre tudo que vem da China.
As taxas sobre México e Canadá foram adiadas por 30 dias, mas o presidente norte-americano afirmou que o início da tarifação é consequência da contínua entrada de drogas provenientes dos países taxados nos EUA.
“Não podemos permitir que esse flagelo (a entrada de drogas) continue prejudicando os EUA. Portanto, até que ele pare ou seja seriamente limitado, as tarifas propostas programadas para entrar em vigor no dia 4 de março entrarão, de fato, em vigor, conforme programado”, disse Trump. “Da mesma forma, será cobrada da China uma tarifa adicional de 10% nessa data”.
Além das taxas sobre os três países, Trump também já anunciou uma série de outras medidas e semelhantes, como:
• tarifas de 25% para todas as importações de aço e alumínio que chegam aos EUA, a partir de 12 de março;
• a cobrança de tarifas recíprocas a países que cobram taxas de importação de produtos americanos, a partir de 2 de abril;
• a promessa mais recente, feita nesta segunda-feira (3), de impor tarifas de importação a todos os produtos agrícolas que chegam ao país também a partir de 2 de abril.
A alternativa para que não haja a cobrança das taxas, segundo Trump, é que “as empresas se mudem para os EUA”
Como resposta ao tarifaço, que começa afetando China, México e Canadá, estes três países foram os primeiros a anunciar novas taxas contra os EUA.
O Canadá foi o mais rápido a reagir e anunciou uma medida de retaliação ainda nesta segunda-feira. Em comunicado, o primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, afirmou que o país iria impor tarifas de 25% sobre US$ 107 bilhões em produtos dos EUA. Segundo Trudeau, parte das medidas entraria em vigor já nesta terça-feira (4), enquanto o restante passaria a valer em um prazo de 21 dias.
“Nossas tarifas permanecerão em vigor até que a ação comercial dos EUA seja retirada e, caso as tarifas dos EUA não cessem, estamos em discussões ativas e contínuas com províncias e territórios para buscar diversas medidas não tarifárias”, acrescentou o primeiro-ministro canadense.
Depois, foi a vez da China. Pequim não apenas impôs novas taxas de 10% a 15% sobre as exportações agrícolas dos EUA, como também anunciou novas restrições de exportação e investimento a 25 empresas dos EUA, afirmando “motivos de segurança nacional”.
Segundo o governo chinês, produtos como frango, trigo, milho e algodão dos EUA terão uma taxa adicional de 15%, enquanto soja, sorgo, carne suína, carne bovina, produtos aquáticos, frutas, vegetais e laticínios sofrerão uma tarifa extra de 10%. As medidas passam a valer em 10 de março.
Nesse caso, a expectativa é que as novas taxas impostas pela China afetem cerca de US$ 21 bilhões em exportações de produtos agrícolas e alimentícios norte-americanos, deixando as duas maiores economias do mundo um passo mais perto de uma guerra comercial total.
O país já tinha anunciado tarifas de 15% para carvão e gás natural liquefeito (GNL) e taxas de 10% para petróleo bruto, equipamentos agrícolas e alguns automóveis dos EUA em fevereiro, também em retaliação às medidas de Trump.
“Tentar exercer pressão extrema sobre a China é um erro de cálculo e um engano”, afirmou um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores de Pequim em uma entrevista coletiva, acrescentando que a China nunca sucumbiu à intimidação ou à coerção.
A China ainda afirmou que vai investigar alguns produtores norte-americanos de um tipo de fibra óptica por burlarem medidas antidumping, além de ter suspendido as licenças de importação de três exportadores norte-americanos e interrompido embarques de madeira serrada vindos dos EUA.
Pequim também adicionou 15 empresas norte-americanas à sua lista de controle de exportação, que proíbe empresas chinesas de fornecer tecnologias de uso duplo a empresas dos EUA, e colocou 10 empresas norte-americanas em sua Lista de Entidades Não Confiáveis por venderem armas para Taiwan. A China reivindica o país como seu próprio território, embora a ilha autônoma rejeite isso.
Por fim, veio o México. Nesta terça-feira, a presidente mexicana, Claudia Sheinbaum condenou as tarifas impostas pelos EUA e prometeu uma retaliação aos norte-americanos.
Segundo a chefe de Estado mexicana, não há justificativa para que os EUA imponham as taxas de 25% sobre as importações do México, destacando que o país colaborou com o vizinho norte-americano em questões de migração, segurança e combate ao tráfico de drogas.
“Não há razão, fundamento ou justificativa para apoiar esta decisão que afetará nosso povo e nossas nações. Ninguém ganha com esta decisão”, disse Sheinbaum em entrevista a jornalistas, afirmando que daria detalhes sobre a resposta do México às tarifas no próximo domingo (9).