Os estados do Acre e Rondônia decidiram manter unidade de defesa sanitária pela manutenção da classificação de Área Livre de Aftosa Sem Vacinação. A decisão ocorre em meio à movimentação do Ministério da Agricultura para criação do “Blocão”: Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná formariam três blocos independentes e o restante dos Estados (incluindo o DF) formariam um único bloco, o “Blocão”.
Os pecuaristas do Acre reagiram negativamente à ideia. Entendem que o “Blocão” torna o estado vulnerável não do ponto de vista sanitário, mas no aspecto comercial. Para uma reação institucional eficaz, o presidente do Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do Acre, Francisco Thum, tratou de buscar apoio político e técnico. A articulação começou ainda em dezembro do ano passado.
Na política, os produtores se ampararam no gabinete do senador Alan Rick (União Brasil/AC), parlamentar que tem conquistado aproximação (por meio da Frente Parlamentar da Agropecuária e da Comissão de Agricultura e Reforma Agrária) do ministro da Agricultura, Carlos Fávaro. E na parte técnica, os produtores procuraram o presidente da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos, Jorge Viana.
O presidente do Idaf sabia que, para tomar decisões que definiriam os rumos da pecuária do Acre, precisaria também estar respaldado pelos parceiros do segmento. Em uma videoconferência, reuniu a Secretaria de Estado de Agricultura, Federação da Agricultura e Pecuária do Acre, Fundo de Desenvolvimento da Pecuária do Acre e os representantes de frigoríficos acreanos exportadores, Dom Porquito e Frigonosso.
Essa discussão construiu os referenciais para que o Mapa viesse a compreender a importância da unidade de defesa sanitária dos dois estados, independente do “Blocão”. A reunião ficou agendada para 22 de janeiro com o diretor de Saúde Animal do Ministério da Agricultura, Marcelo Almeida na sede do Instituto de Defesa Agropastoril de Rondônia (Ideron). Apesar da cordialidade e da simpatia do representante do Mapa, o clima entre os produtores não estava tão ameno. Havia evidente ansiedade.
As classificações acreana e rondoniense de Área Livre de Aftosa Sem Vacinação foram conquistadas em 2021, após mais de 30 anos de trabalho e investimentos de governos e produtores. Eles viram com desconfiança a movimentação do ministério para cumprir o que prometeu à Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA): apresentar um país livre da aftosa sem vacinação até 2026.
“Um país livre da aftosa sem vacinação todos nós queremos. A questão é que isso é uma conquista que exige política pública, aliada a muito investimento privado, paciência e persistência”, defende o presidente Francisco Thum, do Idaf/AC.
“O Blocão coloca tudo isso em risco. Vamos supor que um caso ocorra em um estado longe do Acre, sem tradição de produção de carne, sem que esse Estado tenha feito os investimentos e cuidados que tivemos nos últimos 30, 40 anos. O que iria acontecer conosco?”, questiona Thum, de forma retórica, consciente da resposta.
Marcelo Almeida, da Diretoria de Saúde Animal do Mapa, foi quem sugeriu que fosse feita uma nova consulta ao Amazonas, estado que já tinha acenado afirmativamente para a formação do Blocão. No início de fevereiro, representantes do Idaf, do Idaron e da Adaf (Agência de Defesa Agropecuária e Florestal do Amazonas) definem como ficará, definitivamente a composição do, agora, Bloco IV.
Praticamente 70% do rebanho bovino amazonense (hoje contabilizado em aproximadamente 2,4 milhões de animais) está concentrado nos municípios do Sul do Estado, fazendo divisa com Rondônia e, sobretudo, com o Acre. Os seis municípios do Mato Grosso que integravam o bloco, definitivamente, deixaram o grupo, alegando questões relacionadas aos custos de manutenção das barreiras sanitárias.
A Alemanha registrou caso de febre aftosa, na primeira quinzena do mês de janeiro. Há quase 40 anos não se registrava um episódio no país. De acordo com a agência Bloomberg, a estimativa é de perdas de vendas de 1 bilhão de euros, a partir das restrições às exportações. A agência informa que o caso foi registrado em uma propriedade próxima a Berlim.
“A questão da Alemanha, com o surgimento de um foco que há mais de quarenta anos não ocorria na Europa é, sim, motivo de alarde e de extrema preocupação”, avalia o presidente da Federaçáo da Agricultura e Pecuária do Acre, Assuero Veronez.
O representante da Faeac ironiza essa tentativa do Mapa de redefinir blocos de defesa sanitária. “O esforço que o Brasil fez para erradicar a doença foi muito grande e estamos hoje, por incrível que pareça, ainda assistindo a uma discussão sobre as regiões de zona livre com vacinação e sem vacinação dentro do Brasil”.
Ele celebrou com discrição a manutenção do bloco formado por Acre e Rondônia em função da segurança do trabalho desempenhado tanto por parte dos produtores quanto por parte dos governos. “Nós estávamos para sofrer uma modificação em que haveria um retrocesso para o Estado do Acre”, alertou. “Não havia nenhum acidente, nenhum incidente que pudesse justificar isso. Agora que o Acre conseguiu esse status de Zona Livre de Aftosa Sem Vacinação, nós estamos buscando mercados”. China, Itália, Emirados Árabes, Espanha e Peru são exemplos.
E a pauta de comercialização de proteína animal do Acre confirma o que diz Veronez. Em 2024, o Acre alcançou US$ 81 milhões nas exportações. Mais da metade desse volume guarda relação com a venda de carnes (bovina e suína). São números modestos comparados a outras regiões do país, mas apontam crescimento. Em 2023, o total exportado resultou em US$ 45,8 milhões.
Em 2024, a carne bovina reconquistou as exportações acreanas com mais de US$ 26 milhões. “Esse Blocão traria algum tipo de restição de comercialização de carne e isso nós não podemos permitir que aconteça”, defende Veronez.
Santa Catarina
Paraná
Rio Grande do Sul
Acre
Rondônia
Amazonas (Sul)
Mato Grosso (seis municípios na divisa com RO)