Nada circulou mais nas conversas de botecos e padarias durante a semana do que o tal do “problema do Pix”. Foi uma festa. Teve de tudo: do camarada que pede emprestado R$ 10 para tomar “uma meota”, mas não perdeu a oportunidade de criticar o governo, até o erudito de botequim, que cita artigos de conhecidos jornalistas como se lhe fossem próprios. Todos queriam opinar sobre um governo que sangrou em praça pública.
Aos fatos: uma normativa da Receita Federal, absolutamente correta, trivial até, foi criticada nas redes sociais (com desinformação ou não: não é esta a questão central) e o Governo Federal, surpreendentemente, recuou. A coletiva do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, com os representantes da Receita Federal e da Advocacia Geral da União demonstrou, de forma inequívoca, que o presidente Lula está sendo governado.
Há uma “barbeiragem”; há falta de coesão nas ações de governo; há um presidente que demonstrou, sem margem para dúvidas, que está disposto a abrir mão das ações mais elementares do órgão que lhe cuida do cofre para evitar sonegações porque foi criticado neste ou naquele detalhe. Para usar uma frase acaciana, seria possível dizer que Lula não governa; é governado pelas circunstâncias e pela temperatura das redes sociais. Em boa medida, todos o são. Mas o episódio do “problema do Pix” desta semana beirou o constrangimento.
Operadoras de cartões de crédito e bancos informarem movimentações acima de R$ 5 mil para pessoas físicas e R$ 15 mil a pessoas jurídicas para evitar lavagem de dinheiro e sonegação fiscal é novidade desde quando? Isso já é feito. Bancos privados, bancos públicos, cooperativas de crédito informam ao Fisco sobre essas movimentações. Isso não é de hoje.
Se o cidadão que pede dinheiro emprestado para tomar pinga não perdeu a oportunidade de criticar o governo, qual é o problema disto? Ele tem o direito de criticar. Bêbado ou não; sóbrio ou não é um direito que lhe assiste. Quem não tem o direito de recuar diante de um ato até banal da administração pública é o Governo Federal. Mas o fez porque inseguro da própria ação já praticada; o fez porque se comunica mal.
Não seria demais raciocinar que o garoto Nikolas Ferreira, um menino de 28 anos, deputado federal por Minas Gerais, foi, ele mesmo surpreendido pelo recuo oficial. Ele gravou um vídeo contestando a medida. Um vídeo simplório, como quase todos o que o rapaz produz. Pois bem, eis que o tal vídeo simplório teve quase 300 milhões de visualizações. Para se aproximar do número real, 290 milhões de visualizações na última contagem repercutida por opositores do parlamentar. Gente do Brasil e fora dele; gente que nem fala Português assistiu ao que o menino falou.
“Ah!… Mas ele é o maior propagador de fake news! Ele usa a estrutura paga pelo Estado para monetizar nas redes sociais e ganhar muito dinheiro com a estrutura pública…!” As falas do que restou da militância petista cansam. É bom desenhar para não restar dúvidas: A QUES-TÃO É OU-TRA! O problema é que houve um recuo do governo, após uma normativa trivial criticada em redes sociais. E isso demonstrou fragilidade e falta de comando, justamente na seara da Economia, uma área da gestão em que o país não pode demonstrar vacilos em um cenário internacional cada vez mais multipolarizado em disputas de gigantes.
A cena é a seguinte: a China com as contas no azul da balança comercial em quase US$ 1 trilhão e crescendo 5% ao ano; os Estados Unidos acenando com radicalismos protecionistas com impactos comerciais em todo o mundo. E o governo brasileiro? Bem… o governo brasileiro está com receio de qual será o próximo vídeo do menino Nikolas Ferreira. É de lascar!