Não se pode pensar em desenvolvimento econômico de qualquer região sem pensar, dentre outros aspectos, na inovação tecnológica. As regiões precisam estimular mecanismos locais de inovação, seja em novos produtos ou em novos processos. Como diz o “Diagnóstico Socioeconômico do Acre 60 anos”, elaborado pelo CEDEPLAR – UFMG em 2022, contido na página 180 do Livro 3, as mudanças na economia global, especialmente a partir da década de 1970, direcionaram as atenções de pesquisadores e formuladores de políticas públicas para a importância da ciência e da tecnologia no processo de desenvolvimento econômico, nacional e regional.
O citado relatório, indica ainda que a literatura chama a atenção para as vantagens da proximidade geográfica na promoção de inovações, uma vez que favorece as relações de confiança e permite a maior fluidez dos transbordamentos de conhecimento. Tal percepção parte do entendimento que as atividades produtivas tendem a nutrir ganhos de competitividade a partir da introdução de produtos ou processos inovadores.
Ao fazer o estudo do sistema de inovação do Acre, pesquisando em várias fontes, o relatório identificou um pequeno número de instituições locais que promove inovações mesmo em quantidades pequenas e insuficientes para promoverem o desenvolvimento do Acre, destacando a UFAC, o IFAC e a EMBRAPA/AC.
Vamos centrar nosso artigo de hoje sobre a Universidade Federal do Acre, a nossa UFAC, instituição que é orgulho de todos os acreanos na qual tive o prazer de trabalhar como docente por mais de 36 anos.
O embrião da UFAC foi criado a 60 anos atrás
Leio no site da UFAC que no dia 25 de março de 1964, nasceu a Faculdade de Direito (Lei Estadual nº 15, de 08 de setembro de 1964). Depois, dez anos depois, veio a sua federalização que concretizou-se no dia 5 de abril de 1974, por meio da Lei nº 6.025. A instituição contava, a essa altura, com 857 estudantes matriculados regulamente nos seus seis cursos (Direito, Economia, Letras, Pedagogia, Matemática e Estudos Sociais), além da clientela do interior do Estado, oriunda dos cursos de licenciatura de primeiro grau (regime parcelado) em Letras, Pedagogia, Estudos Sociais e Ciências, iniciados no ano anterior, em convênio com a Secretaria Estadual de Educação.
A UFAC é o principal agente do sistema de inovação do Acre, diz o CEDEPLAR
O relatório do CEDEPLAR indicou que menos da metade das patentes analisadas pelo INPE, foi depositada por pessoas jurídicas, sendo que, dessas, aproximadamente 50% foram depositadas pela UFAC e pelo IFAC. Quanto à produção tecnológica das instituições locais de ensino e pesquisa, observa-se que a UFAC apresenta 4 depósitos de patentes no período, enquanto o IFAC apresenta 2. Dentre essas patentes de origem universitária, são contempladas tecnologias relacionadas ao desenvolvimento de máquinas especiais, de produtos farmacêuticos, de química dos alimentos e instrumentos de medida.
O Acre representa somente 4,5% dos grupos de pesquisa observados na região Norte e de 0,25% dos grupos no Brasil. Com tal representatividade, o estado figura como aqueles com menores números de grupos de pesquisa em todo o Brasil. Uma análise mais cuidadosa dos dados para o estado mostra que a principal instituição aglutinadora de grupos de pesquisa no estado do Acre é a UFAC, que apresentou em 2016 um total de 122 grupos de pesquisa. Esse número representa 85% do total de grupos de pesquisa declarados no estado para aquele ano.
Portanto, cita o relatório, que associados às evidências observadas para os grupos de pesquisa e patentes, permitem identificar a UFAC como o principal agente do sistema de inovação acreano. Nesse sentido, o progresso científico e tecnológico local passa pela consolidação dessa instituição e pelo fortalecimento de seus vínculos com outras instituições científicas, tecnológicas e com o setor produtivo no estado.
Consta também no relatório, que fica patente a quase insignificância do governo do Acre no financiamento das pesquisas no estado. A Fundação de Amparo à Pesquisa do Acre (FAPAC) é somente a 11ª colocada em termos do financiamento de trabalhos acadêmicos publicados por autores do estado, conforme dados do ISI Web of Science. A Fundação de Tecnologia do Acre (FUNTAC), aparece ainda mais abaixo nesse ranking. Observa-se, ainda, que um número razoável de publicações do estado foi financiado pela própria UFAC, de acordo com os dados analisados.
Os dados avaliados indicam ainda que a UFAC se apresenta como o principal pilar do sistema de inovação acreano, o que é evidenciado pela sua contribuição na produção científica estadual. Esses aspectos devem servir como base para os esforços futuros na construção de políticas voltadas para o desenvolvimento do sistema estadual de inovação.
88% dos professores da UFAC são doutores (534) ou mestres (220)
Essa informação, por si só, indica o potencial de recursos humanos, em todas as áreas, capaz de intensificar o processo de inovação local se vierem os estímulos e os financiamentos. Destaco a seguir alguns outros números, lançados na semana passada pela UFAC, no seu Anuário da Universidade Federal do Acre (ANUFAC).
Em 9 anos a UFAC teve defasagem de 37,2% nos recursos para a sua manutenção e expansão
Na tabela a seguir constam os valores dos orçamentos executados pela UFAC para os anos de 2014 e de 2023. Verifica-se que, em 2014, 70,1% do total executado foi para o pagamento de professores e técnicos da ativa e dos inativos. Em 2023, esse percentual cresceu para 77,5%.
Se por um lado, verificou-se um crescimento do gasto com pessoal, do outro, verificou-se uma queda significativa para os gastos com manutenção e expansão da instituição. Se os valores para este fim, fossem reajustados pela inflação no período, o valor de 2023 deveria ter sido de R$ 120,9 milhões ao invés dos R$ 86,9 milhões executados. Fato que dificulta a manutenção e a expansão da Universidade.
A UFAC é reconhecidamente uma grande expressão da educação e da cultura da sociedade acreana. Agora figura como a maior expressão do nosso Sistema de Inovação Tecnológica, requisito fundamental e estratégico para o nosso desenvolvimento econômico. Mais apoio à UFAC é fundamental.
Orlando Sabino escreve às quintas-feiras no ac24horas