O assunto que pautou a crônica política durante a semana foi a suposta ameaça de morte a que o prefeito de Rio Branco, Tião Bocalom, estaria sujeito. Ameaças estas tramadas por integrantes de uma facção que atua na cidade. Primeiro é preciso reforçar o que muita gente não entendeu diante das notícias que foram publicadas.
O prefeito não recebeu nenhum telefonema ameaçador. Não houve isso. O que aconteceu foi que a Polícia Civil, durante trabalho de rotina, fazendo monitoramento de telefonemas entre os “meninos danados” identificou um suposto plano de execução do prefeito. As reportagens foram claras, mas muita gente, ainda assim, não entendeu. Muitos leitores pensaram que o prefeito estava machucando o violão tocando “Detalhes”, de Roberto Carlos, como só ele faz, quando recebeu o telefonema covarde. Não foi isso.
O prefeito não estava sabendo de nada. Estava trabalhando normalmente quando foi informado do problema. O Gabinete Militar tomou as providências e pediu ajuda também à Polícia Federal no reforço das investigações.
Em um movimento beirando o hilariante, o senador Marcio Bittar (União Brasil/AC) também disse estar se sentindo ameaçado. O argumento é que se Bocalom é vítima de uma suposta trama assassina, ele, Marcio, também será, por ter sido um dos arquitetos da vitória liberal no primeiro turno das eleições em Rio Branco. Não ria, leitor incrédulo! Não ria! Você não imagina como pulsa o peito acelerado de um homem cívico!
O ex-governador Jorge Viana também já disse ser ameaçado pela atuação do então Esquadrão da Morte, o fantasma dos gestores com imaginação de herói nos anos 90. O efetivo trabalho do então procurador da República Luis Francisco no combate ao Esquadrão encontrava no Palácio Rio Branco as cores e o reflexo ideais, em um espelho calculado para brilhar. Aquieta-te, leitor danado!
Piadas à parte, é preciso falar sério. Todas às vezes em que uma autoridade pública, constituída democraticamente, é ameaçada de morte é preciso tratar o fato (caso seja fato) com a gravidade que ele exige. Cabe à Polícia Civil intensificar as investigações e a autoridade ameaçada ter a segurança reforçada. Que o prefeito teve reforço na segurança… isso aconteceu. Mas que a Polícia Civil “intensificou as investigações”… isso não se pode assegurar. Presume-se que sim.
O ac24horas não trata o assunto de forma irônica. Trata com a ressalva que a situação merece. É preciso investigar, prender, manter preso e julgar. O Acre já tem exemplos na crônica política de como a negligência no trato dessas ameaças são fatais. Os exemplos mais conhecidos são Wilson Pinheiro e Chico Mendes. Então, é preciso conduzir o problema com seriedade.
É bem verdade que os assessores de Bocalom não o ajudam. À exceção do chefe do Gabinete Militar, Cel. Ezequiel Bino, que conduziu o problema sem afetação e com serenidade, os demais, no afã de bajular, tornaram hilariante a cena toda, com teses que não merecem nem ser citadas, tamanho o delírio. Os assessores mais apressados em agradar o chefe gritaram o que o senador Marcio Bittar sussurrou, na tentativa de dizer que as mãos petistas estavam unidas às mãos de faccionados.
O destaque do desequilíbrio ficou por conta do líder do prefeito na Câmara de Vereadores de Rio Branco, João Marcos Luz, que chutou o decoro e chamou o presidente do PT do Acre, Daniel Zen, e o único vereador eleito pelo PT na Capital, André Kamai, de “vagabundos” na tribuna do parlamento.
Daniel Zen e André Kamai também perderam a oportunidade de oferecer equilíbrio à cena. Falar que a suposta ameaça de morte pode ter acontecido por “compromissos não cumpridos” merece reflexão. Após, acertadamente, tratar da necessidade de investigação; de afirmar que “é algo muito grave” e pedir pela punição dos responsáveis, Zen ataca com uma sugestão juvenil.
“Haveria algum compromisso não cumprido entre o prefeito e a facção que justificaria essa ameaça?” Como assim? Quais “compromissos” podem existir entre um prefeito democraticamente eleito e uma facção? A sugestiva acusação de Zen é igualmente grave. O histórico de bom parlamentar e professor da escola de Direito da Ufac lhe desautorizam a tratar assunto tão grave de forma tão superficial. Caso Zen tenha alguma prova contundente do que diz, precisa urgentemente apresentar.
Uma pergunta, no entanto, precisa ser respondida: se o Acre ainda (frise-se: ainda) não é um México na relação política entre facções e lideranças, como sugere o dirigente petista; se o atual prefeito da Capital em nada tem a ver com facções, qual foi a política pública executada por Bocalom que ameaçou o comércio desta ou daquela facção? Certamente, a política habitacional não foi; a de Saúde muito menos; a de Educação, então, nem se fala; a política agrícola nem entrou na agenda! Ficam a dúvida e o desejo de que o equilíbrio prevaleça na cena política local.