Há uma semana, o PSD trouxe uma surpresa para o cenário nacional. O desempenho nas urnas reconfigura as forças políticas para 2026 em novas bases e com o presidente da sigla, Gilberto Kassab, com possibilidade de ditar alguns rumos estratégicos para definição de chapas nas disputas de estados importantes: não se conquista 882 prefeituras no primeiro turno das eleições e se disputa o segundo turno em 10 outras impunemente.
É preciso estar entranhado na lógica do poder para conquistar os espaços que o PSD tem conquistado. O antigo PSD, que abrigava Juscelino Kubitschek no ambiente democrático pós-Vargas, não era apenas fisiológico. Era tão orgânico na fisiologia do poder que é atribuída a Tancredo Neves uma frase que ficou para a história da crônica política: “Entre a Bíblia e o Capital, o PSD fica com o Diário Oficial”.
Após o Golpe Civil-Militar de 1964, o PSD não ressurgiu das cinzas. Simplesmente porque ele não havia se tornado cinza. As lideranças do partido se plasmaram, se misturaram aos sabores da Arena. Na Democracia pós “Diretas Já”, foi preciso mais cinco presidentes, um PDS, um PFL e um DEM para que, em 2011, o então prefeito de São Paulo sacasse o “Social e o Democrático” e assaltasse a cena política com o velho espírito já tão conhecido de todos. Velho ou não, fisiologista ou não, o fato é claro: o PSD tem sido pragmático. E os números mostram isso.
Em 2016, sentou na cadeira de 541 prefeituras no país. Em 2020, alcançou 656. E agora em 2024, saltou para 882 prefeituras, com possibilidade de chegar a 892. Para surpresa de ninguém, o “crescendo” da sigla ocorreu no ambiente político criado por Michel Temer e Bolsonaro na Presidência.
Mas não apenas isso. Atualmente, é preciso reconhecer que o PSD transita com desenvoltura nas fragilidades das articulações petistas. Nos rincões do Brasil, faz as defesas conservadoras que os ouvidos matutos gostam de ouvir, mas, na hora de ocupar cargos federais, sabe bem usar da retórica e apelar para cacoetes que rimem com “República” e “Democracia”, inclusive na gestão petista.
O PSD se apresenta como uma porta de entrada para o PT conseguir dialogar com a fauna conservadora do Congresso. Entre o Centro e a Extrema Direita, o PSD está no meio do caminho, manejado criteriosamente por Kassab. Não foi surpresa para ninguém a aproximação com o presidenciável Tarcísio de Freitas. Também não surpreendeu ninguém o PSD compor com o atual Governo de São Paulo, mesmo ainda com o partido estando presente na equipe de Lula.
Essa desenvoltura toda de Kassab e auxiliares mais imediatos não é acompanhada, no Acre, pela maior liderança regional do partido, o senador Sérgio Petecão. Por aqui, o PSD anda miúdo e falando baixo. Só encabeçou chapa em três municípios: Plácido de Castro, Rodrigues Alves e Senador Guiomard. Das três disputas, venceu em apenas uma, Rodrigues Alves. E isso deveria acender um sinal de alerta para o senador.
Aliás, Petecão precisa atentar para um veneno que foi, até a eleição de 2018, um dos seus trunfos mais poderosos: a personagem bonachona, brincalhona. É a personagem que tenta encarnar o acreano “boa praça”, que não se indispõe com ninguém; aquela figura que entende que política pública se faz com casa de porta aberta, servindo café para todo mundo o tempo inteiro, pagando velório à população de baixa renda e distribuindo “completos” (como o acreano chama os uniformes de times de futebol) e bolas por onde anda.
O que antes gerava contentamento nos eleitores que gritavam eufóricos o pegajoso “É Petecão! É Petecão!”; o que antes gerava gargalhadas quando uma campanha foi vencida com dois bonecos de pano que dramatizaram o “peso” do camarada Edvaldo Magalhães ao ponto de a corda arrebentar no lado do comunista, hoje tudo isso é visto com desconfiança pelo eleitor.
Como os problemas de infraestrutura; os problemas da Saúde; o desempenho vergonhoso da Educação acreana não têm graça alguma, o eleitor vai saturando, ficando sisudo. Gracejo demais faz o público se sentir o palhaço da vez. Entre todos, o dono do último sorriso tem mais força, mesmo quando o riso é de canto de boca, após o “confirma”.