Então, o Bocalom, filiado ao PL e coligado com partidos de viés de direita enfiou 54,7% dos votos úteis e ganhou a eleição para prefeito de Rio Branco no primeiro turno. O adversário que o ameaçava, Marcus Alexandre, filiado ao MDB e apoiado por toda a esquerda ficou nos 34,7%, ou seja, levou um capote de 20%. Os outros dois somaram 10,5%.
Um monte de gente se dedicou nas últimas horas a explicar as causas do resultado. O que mais contribuiu para que das urnas saíssem essa vitória acachapante? Dos perdedores, incluindo os auxiliares e a torcida na imprensa, se ouve que foi a máquina governamental, teria o Gladson Cameli usado a poder público de modo “escancarado” disse um, “os servidores foram pressionados a votar no Bocalom” disse outro. Para outros, foi também a campanha morna do Marcus que deveria ter deixado o bom mocismo de lado e partido pra canelada.
Bem, desconfio que a turma perdeu e não se achou ainda, ou, não quer dar o braço a torcer. Acusar o adversário de “usar a máquina” é tão velho quanto hipócrita, isso porque em alguma medida a legislação já permite que obras e serviços tenham continuidade e disso se aproveitam TODOS desde sempre, logo, não constitui fato novo e deveria ser metrificado na apresentação da candidatura. Aliás, o Marcus esperou a adesão do governador até o último minuto, ou seja, queria para si a vantagem de contar com o apoio governamental. O Bocalom executou obras no período? Claro, ele continua prefeito e, assim como todos os outros, mantém os meios de ação enquanto disputa a eleição. Nada disso é novo. Se, por acaso, houve algum crime (não vi, não acredito), por que a Justiça não agiu? Quanto a obrigar o eleitor a votar assim ou assado é falso. Na solidão da urna o sujeito vota em quem quer.
O que dizem hoje aqueles que fizeram fila na imprensa para dizer que a eleição de prefeito é a eleição do buraco e que ideologia não tem nada a ver? Desconfio que caíram nele. Tanto acreditavam nisso que esconderam o vermelho e o PT da campanha, jogaram Lula e Jorge Viana para debaixo do tapete, evitaram qualquer tema ideológico e, realmente, levaram o debate para os buracos, as calçadas e a falta de água. Não funcionou, o Bocalom enfrentou a discussão de síndico, mas não desgrudou do bastão ideológico. Do lado de Marcus, para se ter uma ideia, a simples aparição do Lula na véspera o apoiando é dada por muita gente experiente como uma trairagem interna. Será? Quem teria tanto poder na direção nacional? Quem autorizou a peça?
Ocorre que, para desespero de alguns, os campos ideológicos estavam marcados desde o início e disso se aproveitou Bocalom. Enquanto Marcus Alexandre escondia seus apoiadores esquerdistas, Bocalom se esmerava em mostrar Bolsonaro, Marcio Bittar e outros apoios marcadamente de direita. Estiveram aqui o próprio Bolsonaro, Michele Bolsonaro (duas vezes) e até o Nikolas Ferreira, jovem fenômeno conservador ao nível nacional. Isso valeu a fidelização do eleitor bolsonarista que no Acre é majoritário.
A marcação ideológica dos candidatos ocorreu no Brasil inteiro. Vejam o caso de Fortaleza, no Ceará, onde o jovem André Figueiredo levou a disputa para o 2º turno, derrotando com 40% dos votos toda a cacicada vermelha do Camilo, o atual prefeito aliado de Ciro Gomes, o Capitão Wagner, e o Senador Girão, basicamente defendendo uma pauta de direita totalmente alinhada com Bolsonaro. Em Curitiba, se deu o mesmo com a jornalista Cristina Graeml. Em Belo horizonte, idem. Em Goiânia ibidem. Então, mesmo considerando que uma vitória eleitoral é feita de muitos fatores, continuo afirmando e, demonstrando, que a marca ideológica é o principal.
Tratada como prévia de 2026, o cenário eleitoral de hoje autoriza afirmar que a esquerda, para desgosto de seus líderes e esbirros na imprensa, continua em processo de emagrecimento. Em São Paulo, onde se estabeleceu há décadas, Boulos ficou em segundo e vai enfrentar o atual prefeito apoiado pelo Bolsonaro que provavelmente contará com o apoio do eleitorado do Marçal. Lá também estão em dúvida se Lula ajuda ou atrapalha, talvez o escondam como fizeram por cá. De resto, até no Nordeste a esquerda definha, como em Maceió, em Fortaleza, em Natal etc.
No Acre, a eleição de Rio Branco e também a de Cruzeiro do Sul, principalmente, produzirão um desenho para 2026 que provavelmente levará alguns personagens para o pijama ou o purgatório. Mas isso é assunto para a próxima.
Valterlucio Bessa Campelo escreve às segundas-feiras no site AC24HORAS e, eventualmente, no seu BLOG, no site Liberais e Conservadores do jornalista e escritor PERCIVAL PUGGINA, no DIÁRIO DO ACRE, no ACRENEWS e em outros sites. Quem desejar adquirir seu livro de contos mais recente “Pronto, Contei!”, pode fazê-lo através do e-mail [email protected].