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Por que os candidatos não se importam ?

Foto: Pedro Devani/Secom

A busca pelo bem comum é a razão de ser da política. Ela se realiza na prática democrática do jogo de poder que pretende equilibrar divergências e diferenças entre as pessoas e grupos sociais, construindo meios adequados de tomada de decisão e de administração dos interesses coletivos. É o modo como cada pessoa afirma e negocia suas convicções, desejos e necessidades, encontrando meios-termos que permitam uma convivência social pacífica e respeitosa.


No entanto, esse saudável exercício democrático, por ora, entre nós, parece estar morto. Basta olhar para o cenário da eleição em curso para perceber que ela, a política, perdeu o rumo e o sentido. E, ao que parece, vai demorar para reencontrá-lo.


Essa é conclusão natural de um contexto em que, enquanto florestas pegam fogo, espessas nuvens de fumaça cobrem o céu e o ar está a cada dia mais irrespirável, a esmagadora maioria dos candidatos a prefeito e vereador age como se nada estivesse acontecendo – na capital e no interior.


Enquanto crianças e idosos sofrem criticamente com a fuligem e o carbono que nos intoxicam; enquanto nossos pulmões vão acumulando cicatrizes de um ar absurdamente poluído, os políticos que deveriam liderar a sociedade na direção do bem comum, repita-se, nada apresentam sobre o que fazer para evitar que essa situação persista ou piore no futuro. Nos programas eleitorais diários, não se fala no tema. Debates e sabatinas seguem o mesmo padrão. Parece que está tudo normal, e que o ar poluído, centenas de vezes acima do razoável, é algo “da vida”.


Quem age assim flerta com o crime e demonstra importar-se mais com a gritaria que meia dúzia é capaz de fazer do que com os interesses e necessidades do conjunto da sociedade.


Veja, o fogo e a fumaça que têm tornado nossas vidas um inferno são produtos de crimes – crimes contra as leis, a natureza e as pessoas. O direito a um ambiente saudável está consagrado em nossa Constituição no mesmo nível do direito à vida e à propriedade privada. Inúmeras leis, decretos e normativas estabelecem como isso deve ser assegurado.


E, no entanto, neste momento, grileiros estão colocando fogo em florestas de terras públicas para tomar posse e transformar o patrimônio do povo em riqueza pessoal. Fazem isso desdenhando das leis e apostando na impunidade. Rios e nascentes estão secando; animais, plantas e recursos inestimáveis de biodiversidade estão desaparecendo. Nossas florestas, verdadeiras bombas bióticas capazes de produzir chuvas que irrigam grande parte


da América do Sul, estão perdendo suas árvores e toda a riqueza de vida que as sustentou em equilíbrio até aqui.


Tudo é resultado da ganância de criminosos que veem as terras amazônicas como um meio fácil de enriquecer. Não são produtores rurais, tampouco empreendedores do agronegócio buscando produzir riquezas com investimento pesado e alta produtividade. Muito menos agricultores familiares. Quem derruba duzentos, trezentos ou mil hectares de floresta e põe fogo de uma vez não pertence a nenhuma dessas categorias. Trata-se de criminosos que aproveitam a fragilidade da natureza provocada pela seca intensa para pôr em marcha sua busca desenfreada por acumulação patrimonial pessoal.


A política, cuja missão fundamental, como foi dito, é cuidar do bem comum, tem a obrigação de tratar do problema. Ignorá-lo só reforça a sensação, cada vez mais presente, de que candidatos e estruturas partidárias vivem em um mundo paralelo, apartado do que realmente acontece com as pessoas.


E por que isso está acontecendo? Porque a política deixou de cuidar do bem comum; perdeu a capacidade de tratar de assuntos “delicados” e “estruturantes” para virar meio de vida de uma maioria que faz uso dela em benefício próprio. As fake News, o discurso de ódio e a proliferação de esquemas de compra de votos são os meios de ação política que tornam isso tão fácil.


Olhe ao seu redor e veja se enxerga alguma liderança política capaz de explicar o que está realmente acontecendo. Nada. Nossos corpos estão sendo marcados pela fumaça tóxica, pela fuligem que respiramos dia e noite, tal como pessoas expostas a uma explosão atômica que, em algum momento, desenvolverão câncer, e nada é dito a respeito. Infelizmente, a tendência é piorar.


Quando se substitui a força do discurso, a divergência saudável e a liberdade de decidir por mentiras e meias-verdades disseminadas nas fake News das redes sociais, pela intolerância do discurso extremista – muitas vezes de cunho religioso – e pelos esquemas eleitorais que transformam votos em barganhas de curto prazo, a política perde o sentido e a direção.


O povo, sabiamente, já percebeu que o voto é tão somente a forma de decidir quem serão os privilegiados cheios de mordomia no próximo período. Não espera mais que isso dos eleitos nesta e em qualquer outra eleição.