A farmacêutica indígena Artemizia da Silva Araújo, do povo Nukini, recebeu dos Conselhos Federal e Regional de Farmácia do Acre, em Cruzeiro do Sul, a Comenda de Honra ao Mérito Farmacêutico. Ela foi homenageada na última quarta-feira,4, em evento que reuniu os farmacêuticos na sede do Ceanom pela- Conselheira Federal de Farmácia, Isabela Sobrinho, e pela Presidente do Conselho Regional de Farmácia do Acre, Marcia Rafaelle. Artemizia é a responsável pela Central de Abastecimento Farmacêutico do Distrito Sanitário Especial Indígena – Dsei do Alto Rio Juruá. Foi estudar farmácia para levar adiante, com conhecimento científico, os ensinamentos da avó que usava ervas como medicamento e era parteira.
“Essa Comenda é para homenagear e para dar um mérito aos trabalhos de destaque. Então, eu fui selecionada, fui escolhida entre os farmacêuticos do Acre em função do trabalho que eu desenvolvo na saúde indígena, no Dsei. Atendo 14 etnias e em média 20 mil indígenas. Eu trabalho com medicamentos industrializados, mas eu faço a junção da medicina tradicional indígena, considerando os conhecimentos que adquiri com a minha avó Maria Luiza” conta.
Artemizia saiu da Terra Indígena Nukini, próximo ao Parque Nacional da Serra do Divisor, com 10 anos. Estudou em Mâncio Lima e fez faculdade de Farmácia no centro Universitário do Norte em Manaus.
“A gente veio para Mâncio Lima porque lá na Terra Indígena não tinha mais estudo para nós. A mamãe trouxe os filhos, aí aqui eu continuei o ensino fundamental, depois o ensino médio. Com muito esforço minha mãe me encaminhou para Manaus, onde uma da minhas avós morava. Eu comecei a fazer a faculdade, estudei bastante e foi muito difícil. Eu cheguei a vender bombom pra poder manter os meus estudos, fiz várias seleções pra bolsista, pra estágio, pra ter uma renda mais pra poder manter a faculdade, então assim foi bem sofrida a minha formação. A família ajudava de uma forma na distância, mas não muito, porque nessa época a gente era muito humilde.Me formei, graças a Deus e retornei para a minha cidade, ao meu estado, para trabalhar com os povos originários porque o meu pai trabalhou com os povos indígenas e também a minha avó, que era parteira, e aí eu escolhi farmácia. Porque era uma das áreas mais parecidas com a dela, que ela fazia medicamentos caseiros. Ela fazia misturas, então a área de farmácia era muito parecida com o que ela fazia e aí isso de alguma forma indireta me influenciou muito”, conta.
Ela é a criadora de um projeto pioneiro de manipulação de fitoterápicos a partir de plantas medicinais utilizadas pelos povos indígenas, um trabalho que tem sido referência na promoção da saúde e na valorização das medicinas tradicionais.Seu empenho na valorização da cultura e da medicina indígena fortalece a saúde das comunidades do Alto Juruá, ao mesmo tempo em que evidencia a importância de integrar os saberes tradicionais às práticas farmacêuticas modernas.
“O diferencial desse trabalho é porque nós vamos até as aldeias e encontra plantas medicinais indígenas e a gente produz fitoterápicos e fitocosméticos com o objetivo de valorizar a medicina tradicional indígena. A gente quer fazer com que os indígenas percam o costume de usar medicamento industrializado, produzam seus próprios fitoterápicos e fitocosméticos e possam resgatar essa medicina. Então, tem sido um trabalho bonito e bastante reconhecido e eu agradeço muito aos Conselhos”, conclui Artemizia.