Pela primeira vez na história da ornitologia um anu-branco (Guira guira) foi registrado no Acre. A ave foi avistada no último dia 20, na capital Rio Branco pelo observador mirim Rodrigo Padula, de apenas 12 anos.
“Eu estava em casa e um amigo do meu pai me falou que tinha uma ave que ele não estava conseguindo identificar, porque ele olhou no livro que eu escrevi de identificação das aves que vivem aqui no meu condomínio e percebeu que não estava lá”, conta o adolescente que publicou um guia fotográfico da avifauna urbana do Acre no ano passado.
Ele foi até a área onde o animal estava e logo percebeu que se tratava de um anu-branco, ave que é incomum para a região e não ocorre naturalmente no estado. Durante cinco minutos, conseguiu observar a espécie e fez a foto. O registro trouxe euforia, mas também um alerta.
“Quando eu vi o anu-branco fiquei muito animado, mas ao mesmo tempo um pouco preocupado, porque se essa ave está chegando aqui é porque a Amazônia está sendo degradada”, revela o jovem, que com esse encontro assumiu o “pódio” de primeiros registros para o estado do Acre no WikiAves, plataforma online que reúne informações sobre a avifauna brasileira.
De fato, a presença da espécie revela as consequências do desmatamento na Amazônia de Rondônia, que permite a chegada do anu-branco através de áreas abertas próximas à floresta.
“Se você olhar o arco de desmatamento da Amazônia, o leste do Acre, onde está Rio Branco e outras cidades estão muito desmatadas e as florestas aqui são fragmentadas, então as estradas, como a BR-364 e outras rodovias estaduais foram vetores de desmatamento, criando áreas abertas para espécies que se aproveitam disso, como o anu-branco”, esclarece o biólogo e guia Ricardo Plácido.
O anu-branco é uma espécie generalista que se adapta a diferentes ambientes, principalmente os mais abertos como regiões antropizadas que oferecem uma maior facilidade para a alimentação e reprodução da ave, que não realiza voos altos em migrações longas e amplia a distribuição aos poucos.
“O anu-branco é um indicador de áreas convertidas. Provavelmente ao longo do tempo a população deve se estabelecer aqui no Acre e começar a se reproduzir até se tornar uma espécie residente”, ressalta Plácido.
Para ele, a presença da espécie é um alerta para as autoridades competentes em manejos de recursos naturais do Acre. Em relação a contribuição do Rodrigo, o biólogo reforça a importância da ciência cidadã.
“Apesar de ser tão jovem, ele mergulhou nesse universo das aves e tem feito descobertas incríveis aqui para o Acre, contribuindo de maneira espetacular com diversas informações ornitológicas e até com o livro que publicou. Um menino extremamente talentoso, um jovem prodígio”, finaliza.
Além do registro do anu-branco, Rodrigo também fotografou pela primeira vez no estado a asa-branca (Patagioenas picazuro). “Espero que esses encontros possam ajudar a ciência a saber melhor o que está acontecendo com a nossa floresta amazônica, já que as fotos são provas que essas espécies de áreas abertas estão conseguindo chegar aqui”, diz.