O Índice de Vulnerabilidade Social (IVS) é um indicador sintético que visa oferecer uma medida objetiva dos níveis de vulnerabilidade socioeconômica de grupos populacionais, a partir de conceituação fundamentada na ausência ou insuficiência de um conjunto de ativos e atributos tomados como essenciais para patamares mínimos de bem-estar social.
É uma medida que se dá em três eixos temáticos que constituem suas dimensões: infraestrutura urbana, capital humano e renda e trabalho. O índice é calculado pela IPEA e instituições parceiras, que utiliza os dados da PNAD Contínua do IBGE. O IPEA conceitua o IVS
Nosso objetivo no artigo de hoje é comparar e analisar o IVS do Acre, no período de 2018 a 2022, comparando-o com os indicadores dos demais estados da federação. Vamos utilizar como fonte de dados o artigo intitulado “Atualização do Índice de Vulnerabilidade Social (IVS) a partir dos Dados da Pnad Contínua 2022: Breve Comentário Metodológico e Resultados Gerais”, publicado pelo boletim regional, urbano e ambiental do IPEA, nº 31, de janeiro a junho de 2024.
Acre tem o maior IVS do Brasil
Conforme o artigo do IPEA, se para 2020 e 2021 era patente o aumento da vulnerabilidade captada pelo IVS na ampla maioria das Unidades da Federação (UFs) brasileiras, revelando efeitos da pandemia principalmente sobre a renda e o mercado de trabalho, a edição de 2022 mostra uma reversão completa nesse cenário.
Antes da análise em si, é importante observar que os valores apresentados pelo IVS variam entre 0,000 (menor situação de vulnerabilidade) a 1,000 (máxima situação de vulnerabilidade) e são classificados como muito baixa (valores entre 0,000 e 0,200), baixa (entre 0,201 e 0,300), média (entre 0,301 e 0,400), alta (0,401 e 0,500) e muito alta (0,501 e 1,000).
Em 2022, o Brasil registrou o seu melhor Índice de Vulnerabilidade Social (IVS) desde 2018 (0,213). Todas as 27 Unidades Federativas registraram um progresso em seu quadro socioeconômico, em comparação a 2021, se recuperando dos efeitos da pandemia.
O Acre também apresentou o seu melhor IVS desde 2018. Caiu de 0,366 em 2021, para 0,332, em 2022, classificado como média vulnerabilidade. Porém, o índice do estado está situado num patamar alto, sendo o Estado que apresenta o maior índice dentre os estados e o Distrito Federal do Brasil. Depois do Acre, os estados com maiores vulnerabilidades, aparecem Pernambuco (0,300) e Paraíba (0,296). Na tabela a seguir dispõe-se o IVC do Brasil, da Região Norte e de todos os seus estados.
No ano de 2022, o Acre apresentou um IVC 55,9% maior que o do Brasil. 37,8% maior que o da Região Norte e 99% maior que o de Rondônia, o estado da Região Norte com o menor índice de vulnerabilidade (0,167). Percebe-se pela série histórica que, desde 2018, o Acre é o pior estado ranqueado no Brasil e na Região Norte.
O IPEA indica que o ano de 2022 marcou o menor registro da série para 21 UFs. Apenas para Acre (0,292 em 2013), Pará (0,265 em 2020), Roraima (0,212 em 2012), Paraíba (0,282 em 2012 e 2013), Rio Grande do Sul (0,182 em 2013) e Santa Catarina (0,112 em 2014) o menor resultado da série do IVS não se deu nesse ano.
Em 2022 a dimensão que mais influenciou a IVS do Acre foi a Infraestrutura Urbana
Na tabela a seguir temos o comportamento dos três eixos temáticos que constituem dimensões do IVS do Acre: infraestrutura urbana, capital humano e renda e trabalho para o período 2019 a 2022.
Percebe-se que de 2019 a 2021 a dimensão que mais influenciou o IVS do Acre foi a de renda e trabalho, que chegou a ser de 0,424 em 2021. A IVS da dimensão renda e trabalho teve uma redução de 77,6% de 2021 para 2022, resultado para os bons indicadores dos níveis de emprego e aumento da renda, referenciados em vários dos nossos artigos no decorrer desse período. A dimensão mais bem posicionada no IVS do Acre no período analisado é a de capital humano que chegou a 0,292 em 2020. Mesmo com o aumento para 0,326, em 2022, foi a menor dimensão que atuou para que o IVS para o patamar do Acre no ano.
Em 2022 a infraestrutura urbana (0,340) foi a dimensão de maior peso no IVS do Acre. O Acre ocupou a 25ª colocação no ranking dos estados, sendo superado somente pelo DF (0,402) e o RJ (0,404). Lembrando que essa dimensão é muito influenciada pelos investimentos estaduais e municipais (saúde, educação, saneamento, ramais, etc.).
A dimensão do capital humano do Acre em 2022, foi a maior do país: 0,326. Logo após o Acre aparecem AL (0,314) e Sergipe (0,308). Em termos de Brasil, de 2021 para 2022, a dimensão passou por ampliação, ainda que também pouco expressiva, apenas no Acre, Amapá e Sergipe.
A dimensão da renda e trabalho foi a mais bem ranqueada pelo Acre em 2022, com 0,329, foi a 19º colocação. O índice do Acre focou à frente de AL (0,335), do PA (0,342), de PE (0,353), do MA (0,359), da PB (0,366), do PI (0,370), da BA (0,373) e de SE (0,378).
O resultado do IVS pode ser interpretado como necessidades básicas insatisfeitas. Com uma classificação de média vulnerabilidade, não estamos confortáveis de ocupar a última colocação no ranking nacional. Nesse sentido, a leitura desses indicadores, pode dialogar e produzir efeitos sobre as propostas e os desenhos das políticas públicas, alargando seu escopo e colocando em evidência as responsabilidades do Estado, em todos os seus níveis administrativos (união, estados e municípios), na promoção do bem-estar dos cidadãos. O IVS sinaliza o acesso, a ausência ou a insuficiência de alguns serviços, os quais deveriam, a princípio, estar à disposição de todo cidadão, por força da ação do Estado.
Portanto o índice é uma ferramenta fundamental para a compreensão da realidade social do Acre. É um instrumento chave para que ajudar os gestores públicos e os políticos no desenho das políticas públicas, alocando os recursos em áreas prioritárias para aliviar a nossa elevada vulnerabilidade social.
Orlando Sabino escreve às quintas-feiras no ac24horas