O surto do vírus ebola, que mandou à cova mais de 1.550 pessoas em cinco países africanos, já mete medo até no Brasil. Servidores públicos que prestam assistência a estrangeiros que entram ilegalmente no país pelo Acre começaram na sexta-feira (29) a negar atendimento a refugiados senegaleses. Passaram a agir assim depois que a ministra da Saúde do Senegal, Awa Marie Coll Seck, confirmou o primeiro caso de ebola no país.
“Por receio do contágio, o pessoal do Ministério do Trabalho, que emite as carteiras de trabalho, está negando atendimento aos senegaleses”, contou ao blog o governador do Acre, Sebastião Viana (PT). Secretário de Justiça e Direitos Humanos do Estado, Nilson Mourão informou que “há receio e sobressalto também na Polícia Federal”, responsável pela emissão de vistos temporários para os refugiados.
Segundo Nilson Mourão, havia nesta sexta-feira num abrigo da capital, Rio Branco, pelo menos 20 senegaleses. “Esse número muda todo dia, está sempre chegando mais”, disse o secretário. Trazidos por coiotes, como são chamados os traficantes de seres humanos, os senegaleses chegam pela fronteira que separa a cidade peruana de Iñapari do município acriano de Assis Brasil —uma rota de imigração ilegal inaugurada pelos haitianos.
Tião Viana havia solicitado ao governo federal o envio de uma equipe técnica para fazer o controle sanitário na fronteira. “O alerta foi feito há vários meses”, disse Mourão. “Foram informados os ministérios da Justiça e da Saúde, além da Anvisa e da Secretaria de Direitos Humanos. Faz tempo que os senegaleses entraram nessa rota de imigração. Embora não houvesse casos de ebola no Senegal, o país faz fronteira com países que sofrem com a epidemia. E nós estávamos preocupados.”
Súbito, sobreveio a primeira confirmação. Um estudante procedente da Guiné foi diagnosticado com ebola num hospital de Dakar, capital do Senegal. Difundida por agências internacionais, a notícia ganhou a internet. E ateou medo nos servidores que têm contato com refugiados no Acre. “Eu havia pedido providências sanitárias ao governo federal, mas nada foi feito”, lamentou Tião Viana. “A confusão será grande.”
Coincidentemente, a ministra Ideli Salvatti (Direitos Humanos) visitava o Acre nesta sexta. Foi informada sobre a encrenca. No final da tarde, ela participou de uma reunião com Mourão e representantes dos servidores dos órgãos federais que têm a resposabilidade de acolher os imigrantes que chegam diariamente ao Acre. O encontro ocorreu no abrigo temporário dos refugiados.
“Temos que atentar para os riscos”, afirmou Nilson Mourão. “É preciso que o Ministério da Saúde envie imediatamente uma força-tarefa para fazer o monitoramento do ingresso dos senegaleses. Essa demanda é absolutamente necessária e urgente.” O Acre é mera porta de entrada dos refugiados. Depois da emissão dos documentos, eles seguem para São Paulo. Uma parte fica na capital paulista. Outro grupo segue viagem para outros Estados.
Ministra Ideli Salvatti reafirma compromisso federal em apoio aos estrangeiros
Em agenda pelo Acre na tarde de sexta-feira, 30, a ministra dos Direitos Humanos, Ideli Salvatti, reafirmou o compromisso do governo federal em apoiar os imigrantes de origem haitiana e africana que entram no Brasil pela fronteira com Peru e Bolívia. Além de observar a situação pessoalmente, a ministra deixou claro que o Brasil deseja o fim da imigração ilegal e que a fronteira está monitorada para que não haja riscos do Ebola entrar no país.
Cerca de 25 mil imigrantes já entraram no país de forma irregular pela fronteira com o Acre. Aqui, eles são encaminhados para um abrigo em Rio Branco, na Chacará Aliança, onde possuem alimentação e podem retirar seus documentos. Em seguida são encaminhados para os grandes centros, onde realmente desejam ficar. O abrigo, mantido pelo governo do Estado com apoio federal, hoje tem 267 imigrantes, sendo 189 homens e 78 mulheres.
“É com muito carinho que o governo e o povo brasileiro recebem vocês na nossa terra. Mas, por favor, se tiverem contato com seus parentes e amigos que ainda queiram vir para cá, não permitam que eles faça o caminho ilegal”, disse a ministra para os imigrantes ao manter a campanha do governo federal para que eles não entrem mais no país de forma ilegal. Segundo ela, os que ainda desejam vir para o Brasil devem procurar as embaixadas.
A ministra ainda afastou a ideia de que o vírus Ebola, que causa uma epidemia na África atualmente, possa entrar no Brasil pela fronteira junto com os imigrantes e que governo federal prepara um controle de saúde maior na entrada do país, principalmente com os africanos. Segundo o secretário de Justiça e Direitos Humanos, Nilson Mourão, por motivos ainda desconhecidos, o número de africanos reduziu drasticamente em seu movimento migratório. Hoje se encontram apenas 20 senegaleses no abrigo. Cerca de 50 imigrantes ainda entram no Brasil por dia pelo Acre.
Centro de Libras
Ideli Salvatti também visitou o Centro Integrado de Libras (CIL) em Rio Branco. O centro tem a missão de dar suporte na vida de pessoas com surdez, desde a tradução nos serviços públicos, até acompanhamento de palestras. Com média de 300 atendimentos mensais, o CIL já é referência para as pessoas com deficiência auditiva.
O governo federal possuí a meta de instalar este tipo de atendimento pelo menos em cada capital do país e a ministra se surpreendeu que fosse um trabalho tão avançado no Acre. “Primeiros queremos chegar com esse serviço de suporte a todas as capitais e depois as segundas maiores cidades de cada estado. E o que é feito aqui no Acre já está maravilhoso, é o modelo que queremos”, afirmou Ideli.
A ministra ainda se dispôs a procurar recursos para melhorar o serviço oferecido pelo CIL, como um novo veículo para o transporte dos tradutores. Ainda em sua visita ao Acre, Ideli Salvatti conheceu o funcionamento da Organização das Centrais em Atendimento (OCA), que atualmente realiza 160 mil atendimentos mensalmente.