O Dia dos Namorados chegou, novamente. É um momento de jantares à luz de velas, caixas de bombons em formato de coração e (dependendo do seu status de relacionamento) assistir a antigas comédias românticas enquanto bebe vinho sozinho. De fato, é uma grande celebração. Mas de onde veio? Por que nos importamos tanto com isso?
Antes de responder essa pergunta, é preciso esclarecer que apenas no Brasil o “Dia dos Namorados” é comemorado nesta quarta-feira, 12 de junho. No resto do mundo, a data oficial dos apaixonados é 14 de fevereiro, quando é celebrado o “Valentine’s Day”.
O “Dia dos Namorados”, como conhecemos no Brasil, surgiu em 1948 e foi idealizado pelo publicitário João Dória, pai do ex-governador de São Paulo João Doria Jr, por motivos comerciais. O objetivo era melhorar as vendas da loja pela qual ele foi contratado durante o mês de junho, que é um período de desaquecimento comercial.
Já o dia 12 foi escolhido por anteceder ao Dia de Santo Antônio, conhecido como o santo casamenteiro. A repercussão positiva da ação fez com que outros comerciantes aderissem à data e, em seguida, toda a população. Desde então, 12 de junho passou a ser, oficialmente, o “Dia dos Namorados” no Brasil. Dito isso, vamos entender de onde surgiu o “Valentine’s Day” ou o “Dia dos Namorados original”.
As pessoas vêm tentando responder a essas perguntas há muito tempo. O New York Times ponderou sobre a origem do dia em uma reportagem publicada em 1853, mas chamou-o de “um daqueles misteriosos problemas históricos ou antiquários que estão condenados a nunca serem resolvidos”.
Agora, em 2024, 171 anos depois daquela ponderação, vamos tentar novamente. Abaixo está um breve guia sobre algumas das principais teorias sobre a origem do Dia dos Namorados, desde a Roma Antiga até os tempos atuais.
Pode ter sido uma bacanal romana
A explicação mais comum para a origem do Dia dos Namorados é o antigo festival de Lupercalia, da Roma Antiga, um rito de fertilidade turbulento, regado a vinho, em que homens e mulheres romanos formavam pares. Por décadas, inclusive, essa teoria apareceu em artigos de notícias.
A Lupercalia foi celebrada durante séculos em meados de fevereiro e, eventualmente, à medida que o Império Romano se tornou menos pagão e mais cristão, foi transformada numa celebração em homenagem a São Valentim. Noel Lenski, historiador da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, disse à Rádio Pública Nacional, em 2011, que o evento era conhecido por sua devassidão e nudez, até que o Papa Gelásio I o tornou um feriado cristão no século V.
— Foi mais uma festa de bebedeira, mas os cristãos colocaram as roupas de volta. Isso não impediu que fosse um dia de fertilidade e amor — disse Lenski. — Isso não impediu que fosse um dia de fertilidade e amor.
Há pouca informação confiável sobre a vida de São Valentim. Em 1923, o NYT disse que o dia poderia celebrar dois santos diferentes chamados Valentim, que foram transformados em um único personagem. (Mas nenhum deles parecia particularmente romântico).
De acordo com uma história popular, publicada no The Boston Globe em 1965, São Valentim foi preso após desafiar uma ordem do imperador Cláudio que proibia os soldados romanos de se casarem.
São Valentim acabou decapitado por seu zelo religioso, uma morte que os homens romanos decidiram celebrar tirando os nomes de jovens elegíveis de uma urna.
— Esse costume persistiu por muitos anos e acabou chegando à Alemanha e à Inglaterra — afirmou ao The Globe.
Uma chance de celebrar a primavera em fevereiro
Mas nem todo mundo está convencido dessa versão dos acontecimentos. Jack B. Oruch, professor de inglês da Universidade do Kansas, também nos EUA, que morreu em 2013, estudou o Dia dos Namorados como parte de sua pesquisa sobre o poeta Geoffrey Chaucer. Ele estava convencido de que Chaucer era a fonte de ideias modernas sobre São Valentim.
Em um artigo acadêmico publicado em 1981, Oruch argumentou que não havia evidências documentadas de uma tradição romântica ligada à São Valentim antes de Chaucer escrever os poemas “Parlement of Foules” e “The Complaint of Mars”, no final do século XIV.
Chaucer, portanto, pode ter ligado São Valentim ao romance porque era conveniente: o dia do santo, em 14 de fevereiro, ocorria em um momento que os britânicos do século XIV acreditavam que era o começo da primavera, com os pássaros começando a acasalar e as plantas começando a florescer, escreveu Orush. (Na verdade, a primavera só começa em 21 de março no hemisfério Norte. Em fevereiro, eles ainda estão no inverno).
Do ponto de vista de Chaucer, uma vantagem adicional era que os europeus da época achavam que “Valentine” (ou Valentim, em português) era um nome com um som agradável. Outros santos celebrados em meados de fevereiro tinham nomes com menos apelo poético: Santa Escolástica, Santa Austreberta, Santa Eulália e Santa Eormenhild.
Apesar de ser uma teoria convincente, o professor de inglês sabia que era difícil competir com histórias populares sobre romanos românticos.
— O artigo não fez diferença — disse Oruch, em uma entrevista de 2011, referindo-se à sua pesquisa. — — Todos os artigos sobre o Dia dos Namorados repetem os mesmos mitos todos os anos.
É hora de se expor
Seja qual for a sua origem, agora o Dia dos Namorados é algo importante. E pode até mesmo ser estressante para algumas pessoas porque “é uma noite com um significado extra muito profundo que atinge partes primitivas do cérebro ligadas ao desejo”, disse Helen Fisher, antropóloga física da Universidade Rutgers, nos EUA, que estuda a evolução da sexualidade humana.
Segundo ela, a necessidade de amor era “um sistema cerebral básico que evoluiu há milhões de anos”, muito antes da Lupercália.
— É um momento de auto avaliação e avaliação da sua situação — diz, especialmente se você for solteiro. — Este é um dia em que se reflete sobre o que você tem e o que não tem.
Além disso, o Dia dos Namorados é uma data para gastar dinheiro. A projeção era de que os americanos gastassem cerca de US$ 26 bilhões no Dia dos Namorados em 2023, ante US$ 23,9 bilhões em 2022, de acordo com a Federação Nacional do Varejo. Segundo a associação, mais da metade dos consumidores gastam, em média, US$ 192,80.
A maior parte desse dinheiro será gasta com parceiros românticos, mas uma parcela considerável será com amigos, colegas de trabalho e até animais de estimação. Isso, segundo Fisher, reflete uma mudança no feriado: de uma celebração de parceiros românticos à uma festa em que todos estão incluídos, que celebra diferentes tipos de afeto e apego.
E se o seu único namorado for o seu gato? A antropóloga – cujo trabalho envolve o uso de scanners para estudar os cérebros de pessoas romanticamente comprometidas e recém-abandonadas – disse que há alguém para todos.
— Este sistema cerebral é como um gato dormindo. Ele pode despertar a qualquer momento. Você apenas tem que chegar lá — conclui Fisher.