“Seja de alvenaria ou de madeira, no asfalto, no rio ou no morro, as casas brasileiras são o retrato do mesmo cenário de descaso pelo governo, do Oiapoque ao Chuí”. É assim que começa o texto de uma reportagem especial do site Metrópoles sobre a triste realidade do saneamento básico no Brasil.
Segundo os dados do Censo 2022, divulgados no fim de fevereiro de 2024, nada menos que 102,7 milhões de brasileiros vivem com algum tipo de privação de saneamento básico no país. Com base nos números, o ac24horas fez um comparativo entre a situação da capital acreana, Rio Branco, e alguns dos demais municípios do estado.
Aparecendo entre os 10 piores municípios do Brasil, entre os 100 mais populosos, em saneamento básico, com base em 12 indicadores, segundo a 16ª edição do Ranking do Saneamento do Instituto Trata Brasil, Rio Branco está bem à frente dos outros 21 municípios do estado nos dados do Censo 2022, mas isso não muda a realidade geral.
A capital do Acre tem 67,98% da população com acesso a esgoto em rede geral, rede pluvial ou fossa ligada à rede. Essa realidade, no entanto, decai muito quanto são observados os dados referentes aos municípios do interior.
Em Mâncio Lima, por exemplo, esse índice é de 1,08%. Em Brasiléia, segunda melhor cidade nesse quesito, o índice é de 32,33%. Isso indica que a maioria da população do Acre não tem acesso à destinação adequada de dejetos (urina e fezes), conforme o Plano Nacional de Saneamento Básico (Plansab).
Quando o indicador é o abastecimento de água por rede geral de distribuição, Rio Branco tem 59,3% da população com acesso a esse benefício – um dado muito ruim, enquanto em Feijó, esse percentual é de apenas 15,86%.
Os dados indicam que quase a metade da população de Rio Branco não tem acesso a abastecimento de água potável. Na grande maioria dos demais municípios, esse índice é muito inferior a 50%, com exceção de alguns, como Cruzeiro do Sul, com 66,2%, Brasiléia, com 60,15% e Mâncio Lima, com 58,83%.
Pessoas em domicílio com lixo coletado são 94,67% em Rio Branco e 42,6% em Santa Rosa do Purus. Banheiro de uso exclusivo no domicílio é privilégio para 95,97% da população na capital e para apenas 39,03% em Marechal Thaumaturgo.
A desigualdade entre os dados da capital do Acre com a maioria dos demais municípios se repete em todos os indicadores pontuados pela reportagem especial do Metrópoles, segundo quem a falta de saneamento básico é um marcador da desigualdade territorial e social do Brasil.
As consequências de uma vida em meio ao esgoto e sem água segura para beber são um ciclo vicioso para as famílias às margens dos serviços básicos. Mais suscetível a doenças, essa população encontra mais dificuldades para estudar e conseguir um emprego melhor, entre outros empecilhos.
Não sendo nenhuma novidade, pois é mostrada com frequência em diferentes estudos, a situação caótica do saneamento básico no Acre precisa estar sendo relembrada para não ser negligenciada nas plataformas das campanhas eleitorais que buscam seduzir o eleitor para os próximos pleitos municipais, em outubro.