Manaus é a segunda capital do País onde nasceram mais crianças a cada 100 mil habitantes, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) do ano de 2012. A capital deixa para trás, e com folga, cidades muito mais populosas como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Salvador.
O IBGE aponta que os registros de nascimentos em Manaus nos últimos dez anos quase dobraram. Em 2003, nasceram 24.019 crianças vivas. Em 2012, o número foi de 37.962. Os dados apresentam um desafio, a longo prazo, para a administração e planejamento públicos da cidade.
Em números absolutos, Manaus (com 1,8 milhão de habitantes) é a quarta capital onde houve maior número de registros de nascimentos do País, no ano passado. Ficou atrás apenas de São Paulo, Rio de Janeiro (com 6.390.290 habitantes) e Brasília (com 2.648.532 habitantes). Para se ter ideia da proporção, em São Paulo, nasceram 175.309. Como a população da capital é muito maior (11,376 milhões de habitantes), a média de nascimento para cada 100 mil habitantes é de 1540,9. A média em Manaus é de 2039,0 a cada 100 mil habitantes.
Em comparação às capitais da região Norte, Manaus é a líder isolada, em números absolutos, em nascimento de crianças vivas. Apesar de ter uma diferença de 451.408 habitantes em relação a Belém, por exemplo, em Manaus nasceram 77,2% crianças a mais que na capital do Pará em 2012. Belém tem, segundo o último Censo do IBGE, uma população de 1.410.430. habitantes.
Em dez anos, o número de crianças nascidas vivas na capital do Amazonas deu um pulo de quase 100% nos registros. Em 2003, foram 24.019 nascidos vivos. Seis anos depois, em 2009, o registro era mais de 50% maior: 35.653 nascidos vivos. Em 2010, foram 36.790 os registros de crianças nascidas naquele ano. E, só em 2012, nasceram na cidade 37.962 crianças.
O ritmo acelerado no registro de nascimento deixa Manaus em segundo lugar, em números relativos, considerando os nascimentos a cada 100 mil habitantes, num ranking de capitais.
A taxa de nascimento em Manaus é de 2039,0 a cada 100 mil habitantes. O primeiro lugar, Boa Vista do Ramos (RR) registrou 2205,7 nascimento a cada 100 mil habitantes. O detalhe é que Boa Vista tem uma população de 296.959 e um registro de 6.550 crianças em 2012. Em Manaus, com 1,8 milhão de habitantes, nasceram quase 38 mil crianças.
Maternidades em 2014
Os registros das maternidades públicas da capital do Amazonas apontam que o índice deve continuar em crescimento. Segundo a Secretaria de Estado de Saúde, as sete maternidades públicas do Estado registraram, juntas, entre janeiro e maio deste ano, a realização de 9,4 mil partos, uma média de 1,9 mil ao mês. Na única maternidade municipal – a Moura Tapajós – os registros no primeiro semestre foram de 1.152 partos. Totalizando 10,552 mil crianças até agora.
Economia estimula
O geógrafo Geraldo Alves de Souza declarou que os números de registros de nascimento em Manaus devem ser analisados com parâmetros sérios. Uma das principais preocupações do professor é a de que pessoas despreparadas peguem os dados de forma isolada e apontem como causador do aumento do registro de nascimento as concessões de bolsas pelos governos.
“Atribuir esse aumento de nascimento de crianças porque o governo dá bolsa é um discurso perigoso e talvez até infundado. Pelo contrário, o próprio IBGE aponta previsão de diminuição no índice de crescimento da população do Brasil daqui a 20, 30 anos”, disse.
Para o geógrafo, as características econômicas de Manaus, que é um polo econômico na região Norte podem ser mais determinantes na busca de razões para o aumento dos registros. “Manaus tem uma dinâmica da economia que a coloca como polo regional dentre as capitais amazônicas. Recebe muitos imigrantes cujas características são: pessoas jovens, que vem estudar e trabalhar. Mulheres e homens, recém-casados, em idade fértil. E a média, por família, é de 2 e 3 filhos. Não é uma cidade que atrai idosos que não terão mais filhos”.
Cidade sem estrutura adequada
Para professores universitários ouvidos pela reportagem, Manaus é uma cidade que “atrai as pessoas e ao mesmo tempo as judia”.
“A cidade não tem infraestrutura de mobilidade urbana, lazer, assistência em saúde, educação em níveis de qualidade apesar do seu alto índice de crescimento econômico. A pujança econômica não acompanha a perspectiva social”, declarou o geógrafo Geraldo Souza.
Para o professor da Faculdade de Educação da Ufam, Jacob Paiva, a execução de ações na educação, por exemplo, estão sempre atrás da necessidade atual. Para ele falta planejamento. Só para este serviço público, há vários parâmetros a serem considerados, além do crescimento populacional, para se calcular criação de novas vagas, como a valorização da carreira de professor.
De acordo com dados do IBGE, as atuais 808 vagas em creches públicas oferecidas hoje em Manaus não chegam a preencher nem 1% da necessidade de vagas de crianças de 0 a 3 anos com renda mensal entre R$ 2.550 até nenhuma remuneração.
Geraldo Souza afirma que esse é um dado importante para apontar a falta de acolhimento às mães com idade para estarem ativas no mercado de trabalho.
“Não há creche para abrigar os filhos dessas famílias. Não sei se falta análise sobre isso. O que falta é vontade política de fazer uma cidade mais acolhedora. Mais promotora de qualidade de vida. Uma cidade onde o governo se preocupasse com esses detalhes: tem creche de qualidade, tem educação pública de qualidade? Como estão circulando as pessoas de baixa renda?”.