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Na alagação, falemos de onde vem o socorro e para onde o extremismo de direita nos leva

Os ministros de Lula estiveram no Acre para ver a situação da alagação e, obviamente, trazer recursos. Na entrevista à imprensa, falaram sobre a necessária união de todos, pediram foco no atendimento às famílias em sofrimento e alertaram para a necessidade de se buscar soluções duradouras. Era o esperado. Assim como é esperado que os políticos com e sem mandato, do executivo ou do legislativo, trabalhem para minimizar sofrimentos e, mais adiante, na construção de soluções efetivas. Isso é mais importante que as indefectíveis fotos autopromocionais nas redes sociais. O que, aliás, é algo que ninguém mais aguenta.


Nessa hora, no meio do aperreio da situação, uma questão se mostra especialmente importante, porque diz respeito à forma como estamos organizando a chamada “esfera pública” em nosso estado. O tema em questão é essa realidade dura de termos uma bancada federal praticamente toda bolsonarista, identificada com a ideologia de extrema-direita e inimiga do governo Lula. Não se trata de partidarizar a postura de solidariedade humana que o momento requer. Trata-se de olhar com objetividade e clareza diante de fatos que expõem a miopia política em que nos encontramos.


Veja o caso exemplar de um senador bolsonarista que, dia desses, numa entrevista à TV Acre, falou dos milhões de reais que estão sendo liberados para os municípios, sem mencionar o governo Lula, que tão prontamente acolheu aos pedidos. É tão simples e bonito agir com honestidade e gratidão, não é mesmo? Estaria tudo bem se o ato de não mencionar o governo federal numa situação dessas fosse um procedimento padrão, afinal, o dinheiro é da sociedade, certo? A questão é que, se o governo fosse o preferido do senador, provavelmente a atitude seria outra, o que indica uma certa desonestidade intelectual, para dizer o mínimo.


Neste momento, a prioridade deve ser mesmo o atendimento aos que foram forçados a sair de casa, quase sempre levando apenas um pouco do que possuem. É preciso apoiar com alimentação e água, oferecer segurança para as famílias, proteger as crianças e os idosos. É preciso oferecer o necessário conforto emocional de que, passado o pior, a vida poderá ser reconstruída.


A presteza e eficiência do poder público são mesmo fundamentais. Para isso, bons planos, gente competente e honestidade são imprescindíveis. Aí precisamente reside outro problema. Aliás, problemas. De onde virá o socorro seguro e duradouro diante da imensa escassez de bons gestores que enfrentamos? E não falo apenas dos políticos. Falo dos gerentes e de outras gentes de nível intermediário que têm a obrigação de trabalhar sério para que as coisas aconteçam. Falo daqueles encarregados de contratar homens e máquinas que retiram e transportam os pertences das famílias, auxiliam desabrigados ou limpam ruas sujas de lama. Dos que com seu trabalho viabilizam os mantimentos e gerenciam a logística de atendimento.


O papel do governo federal é mesmo o de garantir auxílio financeiro, direcionar fundos e facilitar transações. Aos governos estadual e municipais cabe apresentar projetos consistentes e montar estruturas de gestão capazes de realizá-los. De deputados e senadores,o esperado é que emprestem peso político e a capacidade de abrir portas junto ao governo federal, apoiando a tramitação dos projetos apresentados.


A vinda dos ministros Valdez Góes, do Desenvolvimento Regional, e da acreana Marina Silva, do Meio Ambiente e Mudanças do Clima, anunciando recursos e prometendo apoio para soluções duradouras, indica que Brasília está fazendo a sua parte. Será que aqui estamos preparados para fazer a nossa?


Como disse, com uma bancada quase exclusivamente bolsonarista, nossos parlamentares deixam a desejar. Salvo o senador Sérgio Petecão e, vez ou outra, a deputada Socorro Neri, nenhum outro tem canais nos ministérios que possam efetivamente ajudar na viabilização de soluções duradouras para os graves problemas que as enchentes revelam. O resumo da história é que essa alagação avassaladora e surpreendente mostra o quanto precisamos de políticos mais pragmáticos, mais interessados em resolver problemas e lutar por soluções para os dramas do povo. Com ideólogos de extrema-direita e vigilantes da moral alheia ocupando os espaços da política, dificilmente chegaremos a algum lugar.