“Governador acabe com a corrupção na Selic e Seop”. As faixas com essa frase escrita e expostas em pontos estratégicos da cidade na última sexta-feira (20) alimentaram o noticiário político e especulações de toda ordem. Além do erro de gramática (o vocativo, obrigatoriamente, precisa ser separado da oração por vírgula), o conteúdo do discurso é dúbio.
Há o aspecto óbvio: quem instalou as faixas queria expor à sociedade que existe corrupção em duas secretarias de Estado e o governante democrático que falta bater na mesa com força e coibir atos que podem lhe comprometer. Essa é a percepção mais imediata, mais evidente.
A segunda leitura que pode ser feita é mais generosa com o governante: a frase é dúbia porque sugere também que o governador está acima das danações da própria gestão. Neste caso, o discurso das faixas aproxima-se não de um alerta, mas de um pedido de ajuda feito a Cameli.
O próprio governo não teve dúvida de qual versão prevaleceria. O grupo que instalou as faixas mal havia terminado de se preparar para amarrar a raiva em cinco pontos da cidade e a turma oficial já recolhia a danação. Mas, como se vive hoje em tempos de comunicação instantânea, os traquinas instalavam as faixas e já iam fazendo fotos e vídeos.
O planejamento era para que cinco pontos estratégicos da cidade estivessem com esse grito de revolta (ou o pedido de ajuda). Eram eles: em frente à Secretaria de Estado de Licitações; em frente à Secretaria de Estado de Obras Públicas; em frente ao TCE; na estrada do Condomínio Recanto Verde (região onde mora o governador) e na praça em frente à Aleac. Começaram à meia-noite e a ideia era que terminassem às 5 da manhã.
É preciso ser claro: esse tipo de conduta ultrapassa a postura juvenil. Lembra disputas de grêmio estudantil ou arengas dentro do DCE. Neste aspecto, saber quem são os autores passa a ser uma questão menor. O fato é que o grupo-autor demonstrou não ter maturidade (ou condição) suficiente para se contrapor às ações de governo de uma maneira republicana, democrática, transparente. Há corrupção no governo? Então que isso seja evidenciado, demonstrado, denunciado na Aleac, no MP, no TCE. É preciso dizer a verdade sem receio.
Ou será que quem fez as instalações das faixas não tem condições de ser tão republicano porque, em boa medida, também já contribuiu para o ambiente de corrupção? Esta situação lembra muito o clássico da MPB “É” feito pelo mestre Gonzaguinha quando diz “E a gente não está com a bunda exposta na janela pra passar a mão nela!”
Tendo esta reflexão como referência, é preciso clamar para que o debate público no Acre conquiste nova dimensão. É preciso ser claro naquilo que se quer dizer. É preciso denunciar com lógica, com boa fundamentação técnica, e nos fóruns adequados. Dizer supostas verdades na calada da noite, como gatunos, soa meio Sucupira: é expor a problemática tendo todos os mecanismos para tornar real a “solucionática”. Quem tem a verdade como fundamento não precisa de faixas instaladas de forma tão juvenil e anônima.