A deputada Michele Melo (PDT), agora ex-líder do governo na Assembleia Legislativa, foi a convidada do Bar do Vaz, transmitido ao vivo na tarde desta terça-feira, 5, no ac24horas. Na prosa com o jornalista Roberto Vaz, a parlamentar pedetista abriu o jogo sobre os bastidores que marcaram o desligamento dela da representação do governo na Casa do Povo.
“Não estava tudo bem. Inclusive fiz uma conversa com o secretário Alysson antes de ele ir para Cruzeiro do Sul e justamente coloquei e fiz os apontamentos de que as coisas não iam bem, só que qualquer decisão ficou postergado para depois da ExpoJuruá. Ai quando as pessoas estão amontoadas na Casa do Povo, na nossa casa, chega um ponto crucial que a gente tem de decidir quem quer representar, então decidir representar o povo”, disse Michele durante a entrevista.
A ex-líder afirmou que sua autenticidade não permite viver de redes sociais e saber que o povo está sofrendo, se referindo ao acampamento dos desabrigados da “Terra Prometida”, que estão acampados na Aleac desde a semana passada.
Ela também não escondeu o seu descontentamento com o secretário-adjunto de governo, Luiz Calixto, e afirmou que as atuações do gestor desalinhou a base. “Aconteceu muitas coisas que desalinharam e desalinham a base. As informações demoram a chegar para mim. Eu não sei dos projetos de leis que entram na casa, não me é comunicado como líder, fica difícil orientar a base e poque o governo está enviando o PL e tomando aquelas decisões. Os projetos chegavam e o líder oculto [Luiz Calixto], conversava com cada um dos deputados. Eu não tinha questão pessoal contra ele até ele se achar no direito de vir até o meu WhatsApp numa sexta-feira a noite me chamar de mentirosa. Ele transformou em pessoal quando ele me desrespeitou como pessoa“, frisou.
Melo voltou a reforçar que a sua indicação a liderança do governo foi única e exclusivamente do governador, apesar de nos bastidores alguns membros do governo se colocarem como “padrinhos”. “A minha indicação foi do governador que quando eu conversei com ele. Inclusive muita gente me questionou por ser líder e eu entendi que o governador foi eleito pelo povo e quando o governador me pede ajuda para cuidar das pessoas, eu não tinha como me furtar. Mas ele não me pediu para defendê-lo de todas as coisas de forma indefensável. Ele me pediu para ajudá-lo a fazer o governo dar certo”, esclareceu.
Questionado que nos bastidores a informação que circulava era que ela tinha mais dialogo com o líder oposicionista Edvaldo Magalhães (PCdoB) do que os próprios deputados da base, Michele negou prioridade no trato com o comunista, mas destacou que como parlamentar é necessário dialogar com todas as forças da política. “Não procede estar conversando mais com Edvaldo da oposição do que os próprios deputados da base. Não procede de forma alguma. Muitos dos deputados da base eu criei uma relação de amizade, de uma relação pessoal. Agora veja, se eu sou líder do governo e existe um líder da oposição, obviamente eu discuto com ele sobre as pautas que ele vai trazer. Isso é uma forma que eu saiba o que vem a tona e de que eu posso achar informações. E você sabe que na política, o inimigo a gente traz para mais perto. Edvaldo foi mais decente comigo do que talvez algumas pessoas do governo”, disse a pedetista.
A deputada revelou ainda que o dialogo com o governador Gladson era escasso e frisou que muitas vezes quem trazia esse dialogo era o chamado “Núcleo Duro” do governo. “Eu sentei com o secretário de governo e disse a ele que nao tem como trabalhar se não houver dialogo, se não houver alinhamento, não tem como trabalhar se vocês sequer me avisam dos projetos que vão chegar na Aleac. Tudo acontece muito rápido na Assembleia. Não dá para ali em cima da hora você tá ligando para um, ligando para outro e muitas vezes essas pessoas não estão aqui, estão em viagem, ou em agendas institucionais. Estão ocupados fazendo outras coisas que não é cuidar da articular política do governo. Eu disse para eles que pareciam que eles estavam querendo me boicotar”, disse.
Melo revelou que mesmo sendo líder do governo chegou a “pegar um chá de cadeira de 4 horas de secretário”. “Eu passei por isso. Eu sendo a líder do governo. Não falava com o Gladson na hora que eu queria. Fazia mais de 2 meses que eu pedia agenda com o governador e não conseguia”, desabafou.
Apesar do atrito no governo, Michele prefere o carinho por Gladson. “Ele sempre me tratou super bem. Como há muito tempo eu não falo com ele, então não tenho como tecer um julgamento do que ele tem o deixa de pensar. Então eu tenho o nosso último estágio, que é estágio do carinho e da conversa. Até então nós não tivemos outra para que eu possa mudar de posição. Eu sinto que algumas coisas não chegam para o governador da forma que deveria chegar porque passam por julgamento de outras pessoas, de terceiros. Isso complica para a verdade chegue tao qual ela é. E uma coisa a gente precisa manter alinhando quando está unido politicamente: o compromisso e a verdade”, pontuou.
Sobre cargos indicados no governo, Michele reforçou que se preocupa com a demissão das pessoas, mas que isso não seria o propósito principal para continuar na base ou até mesmo acreditando no governo Gladson. “Eu não fiz a conversa do tamanho e espaço que a gente sempre faz na política. Obviamente, a gente como líder, a gente sabe que o Estado do Acre é totalmente movido pelo serviço público, a gente quase não tem emprego e se a gente tem a possibilidade de indicar alguém que tá desempregado, a gente indica. Não vamos ser hipócritas. Mas isso não é a minha base para ser líder. Tanto é que quando me perguntaram o que eu queria, eu disse que precisava acreditar no Gladson. Eu não pedi tantas coisas, tanto isso, tantos aquilo. Eu pedi para acreditar no Gladson e obvio se pudesse resolver a situação de algumas pessoas, eu agradeceria, mas não é isso que me prende na liderança ou na base do governo. Eu temo que podem ser mais pessoas que poderão ficar desempregados. Já conversei com todas as pessoas e ela me falaram que sentiram também incomodadas com a situação. Os cargos são do governo e eles têm o direito de fazerem o que quiserem”, destacou.
Michele negou também que o interesse de indicar a sua companheira Jiza Lopes no comando da Fundação Hospitalar fosse um dos condutores para radicalizar contra o governo. “Eu nunca coloquei a faca no pescoço do governo ou do governador. Nunca coloquei e isso todos do governo sabem, o que existe é um diálogo ruim entre o secretário de saúde e o presidente da Fundação. Isso é de conhecimento de todos e uma das conversas que tive com o secretário sobre os problemas da saúde ele me falou que uma das mudanças seria a presidência da Fundação e levei até o secretário Alysson e o Calixto que o Pedro me falou das possibilidades. Nunca coloquei uma faca no pescoço. A minha companheira é uma pessoa extremamente capaz, mas nunca foi na forma de impor que eu quero esse cargo. Nunca foi assim. Tanto é que o cargo é e continua com o João Paulo, eu gosto do João Paulo, mas precisávamos da saúde pública funcionando. Eu dou graças a Deus de não terem aceitado a indicação”, enfatizou.
Ao final da entrevista, Michele reforçou que esperava que Gladson dialogasse com os assentados do acampamento Terra Prometida e revelou que algumas pessoas do governo já a veem como alguém da oposição. “Eu particularmente vou continuar muito ao lado do povo. Se o governo se alinhar com o povo, ele vai tá alinhado comigo. Se o governo não se alinhar com o povo, ai eu vou o embate ferrenho”, finalizou.
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