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Uma vitória minúscula não autoriza mudanças maiúsculas

Todas as afirmações lógicas partem de bons pressupostos, então, o meu primeiro nessa coluna pós-eleições é o de que os resultados proclamados pelo TSE representam efetivamente os votos identificados na telinha e confirmados na tecla verde da urna eleitoral.


Isto posto, aos números: Somos 156.551.334 brasileiros aptos a votar. Dos quais, 32.299.558, equivalentes a 20,06% não deram as caras, são as abstenções. Mais 1.768.678, equivalentes a 1,12% foram lá e votaram em branco, outros 3.930.765 (3,16%) votaram nulo. Somando tudo temos que quase 25% dos eleitores jogaram fora a oportunidade de decidir os destinos do país. Deixaram com os outros, são, por assim dizer, um bando enorme de “maria vai com as outras” e serão afetados por políticos e políticas sobre as quais renunciaram ao direito de escolher. Meus últimos três textos nesta coluna semanal foram para pedir que não o fizessem. Para pedir que fossem às urnas e votassem conforme sua consciência e valores. 


O Resultado é que o ex-presidiário Lula da Silva, o candidato progressista foi eleito com 60.345.999 votos, que equivalem a 38,54% do total, derrotando o candidato conservador, Jair Bolsonaro, que teve 58.206.354 (37,18%), ou seja, por uma diferença de 1,36% do eleitorado apto a votar. Note-se que essa diferença é inferior aos votos nulos e, considerando a soma nulos+brancos+abstenções, a diferença com que ganhou o ex-presidiário é mais de 17 vezes MENOR que o número de não votantes em qualquer dos candidatos. Com memória de cálculo e tudo, vai aí o meu segundo pressuposto: Foi uma vitória numericamente minúscula.


Consideremos que, desde sua retirada da prisão por manobras jurídicas desabrigadas na CF e, consequente transformação em candidato, o Lula da Silva passou a mandar diretamente ou pelos interesses que representa em todo o establishment brasileiro. Do STF à Papuda onde estão os líderes das facções criminosas, passando pela velha mídia, partidos políticos, presidência do Senado, TSE, agentes culturais, ditaduras vizinhas, universidades, big techs, etc., etc., etc., praticamente nada foi esquecido no apoio ao Lula da Silva e na perseguição ao adversário, cuja atitude permitida foi fazer motociatas e lives. Pois bem. Temos aí também provada uma vitória minúscula do Sistema, e este é o meu terceiro pressuposto.


Agora, a sentença: Vitórias minúsculas não autorizam mudanças maiúsculas, radicais. Explico. Com a polarização estabelecida, não será mamão com açúcar dar um cavalo de pau à esquerda como assinala o programa de seu partido, já que o seu próprio ele nunca apresentou. Estou confiando no congresso “centro direita”? Não, já acordei faz tempo. Confio em que o Brasil é muito grande e diverso para que todas aquelas imundícies teóricas ou, pelo menos, partes importantes delas, sejam implementadas. Não haverá espaço na sociedade para ações deletérias sustentadas por pouco mais de um terço dos eleitores, muitos deles iludidos por promessas de “picanha”. Veja-se os movimentos ao redor. Os países “esquerdizados” estão todos quebrados e a ponto de explodirem.


O ex-presidiário receberá um país com velocidade de crescimento importante, com as peças ajustadas, inflação sob controle, emprego em crescimento, um projeto consistente, saúde fiscal e monetária, confiança dos investidores, mas tudo isso em um rumo. Mude o rumo e terá que refazer todos os pilares. Vai extinguir o teto fiscal e rodar a maquininha de fazer dinheiro? Trazer novamente o Banco Central para o palácio e afrouxar a política monetária? Vai reestatizar empresas privatizadas? Criará a moeda peso-real para lastrear as porcarias vizinhas? Dará aumento salarial sem o correspondente aumento na produtividade? Abrirá os cofres aos companheiros sindicalistas? Sustentará com nosso dinheiro as ditaduras amigas à custa do BNDES? Vai açular suas milícias campesinas e urbanas contra a propriedade privada? Vai desencarcerar na canetada centenas de milhares de criminosos? Vai desmilitarizar as polícias? Calará toda a impren$$a e canais e páginas e mídias sociais? Vai pra cima do agronegócio “fascista”? Além da “picanha”, tudo isso e muito mais foi covardemente prometido aqui e acolá durante a campanha, sem nunca ser corajosamente explícito, a não ser entre semelhantes. Pois adivinho, sem ser mãe Dinah, que se SIM, o país quebra e a sociedade, aquela dos 62%, portanto, majoritária, que não votou no ex-presidiário, se rebelará. Se, NÃO, tenho razão e não haverá mudanças radicais, não foi autorizado.


Sem falar na pauta dos costumes. Ou será que o ex-presidiário vai mesmo liberar a suruba moral anticristã como esperam certos grupos que abraçou? Duvido. O melhor do presidente Bolsonaro foi soprar e exibir a brasa conservadora que se manteve morna durante décadas. Acreditem. Os deputados e senadores que foram eleitos por esta parcela da sociedade brasileira serão sumariamente substituídos pelo voto se abandonarem seus compromissos morais. Nem preciso dizer quantas Joices andam hoje por aí arrastando os grilhões da traição.


A não ser que pensem os vitoriosos fazer no Brasil o que fizeram em seus países Chavez, Fidel e Ortega, por exemplo. Mas, aí, serão outros quinhentos, podem crer.



Valterlucio Bessa Campelo escreve às sextas-feiras no site ac24horas e, eventualmente, no seu BLOG, no site Liberais e Conservadores do Puggina, na revista Navegos e em outros sites.