Acossado por um movimento grevista de médicos, o prefeito Tião Bocalom foi cirúrgico em sua declaração ao afirmar, durante entrevista a programa de televisão, que “não sou mágico, tampouco salvador da pátria”. E é verdade. A ninguém é dada razão absoluta para exigir de nenhum gestor público a resolução imediata de problemas que se acumularam durante anos.
No caso dos médicos, vale ressaltar que as perdas salariais são decorrentes do represamento de reajustes que deveriam ter sido feitos aos poucos em administrações anteriores.
Assim como a ex-prefeita Socorro Neri não tinha como resolver todos os problemas herdados dos antecessores Marcos Alexandre e Raimundo Angelim, Bocalom não pode dar conta de todas as demandas deixadas pelos três.
Portanto, essa é, na minha opinião, a lógica sequencial da administração pública: cada um vai resolvendo um pouquinho dos problemas que ficaram e um pouco dos que vão surgindo e, assim, sucessivamente.
Ocorre, todavia, que nos períodos eleitorais não se escuta de nenhum candidato essa áspera e desestimulante frase: “eu não sou mágico, tampouco salvador da pátria”.
Quem ousar se comunicar nesse nível de honestidade intelectual já garante meio caminho para a derrota.
Campanha eleitoral é um verdadeiro black friday de facilidades.
Na busca tresloucada pelo voto a melodia é outra. Quem dera, no calor das disputas pelo poder, os problemas fossem apresentados em seus efetivos tamanhos e graus de dificuldades.
Mas não é bem assim. Durante as campanhas a varinha de condão é cabo eleitoral do primeiro pelotão. Tudo se resolve num passe de mágica. Não há problema apresentado que não tenha como solução o discurso fácil do “dinheiro tem, o que falta e gestão”.
Na fase pré-eleitoral, frases do tipo “não é possível” ou “isso é difícil” são sumariamente riscadas dos discursos e programas partidários. Ou seja: “mais vale uma esperança tarde que um desengano cedo”.
O ufanismo do PT fez escola. Tudo aquilo que os companheiros diziam que fariam era referência nacional.
Em tempo: ainda nem mandamos pro ferro velho os ônibus que circulam nas ruas esburacadas de Rio Branco e já recebemos a notícia de que logo teremos ônibus elétricos circulando na cidade, como se a campanha eleitoral não tivesse acabado.
Fato é que ao se declarar uma pessoa normal, Tião Bocalom, aos poucos, se despe da imagem de gestor cuja língua carregava a solução imediata para qualquer tipo de obstáculo. Pelo menos é o que retratam as pesquisas de opinião atuais.
Do fundo do meu coração, torço para o nosso prefeito levantar, sacudir a poeira e dar a volta por cima. Tempo há.
Como contribuição prometo estar sempre em dia com o IPTU, não jogar lixo na rua, ajudar no combate ao mosquito da dengue e de vez em quando fazer o exercício de minha crítica sincera.
Ao final de tudo, espero que, além de não ser mágico e salvador da pátria, o nosso prefeito também descubra que os gargalos da capital acreana são mais complexos e não podem ser gerenciados com os mesmos métodos aplicados na pequena e aprazível Acrelândia nas últimas décadas.
Luiz Calixto escreve todas às quartas-feiras no ac24horas.com