O desemprego no Brasil ficou em 14,2% no trimestre encerrado em janeiro, segundo divulgou nesta quarta-feira (31) o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Trata-se da maior taxa já registrada para o período desde o início da pesquisa.
Já número de pessoas desempregadas atingiu o patamar recorde de 14,3 milhões, contra 11,9 milhões há 1 ano. Até então, o maior contingente de brasileiros desocupados da série histórica, iniciada em 2012, tinha sido o registrado no trimestre encerrado em março de 2017 (14,1 milhões).
Veja os destaques da pesquisa:
– Taxa de desemprego ficou em 14,2%, maior taxa para um trimestre encerrado em janeiro
– Número de desempregados foi recorde, de 14,3 milhões
– Número de ocupados cresceu 2% e chegou a 86 milhões
– Das pessoas em idade de trabalhar, só 48,7% estavam ocupadas
– Taxa de informalidade subiu para 39,7% da população ocupada
– Falta trabalho para 32,4 milhões de brasileiros (trabalhadores subutilizados)
– 5,9 milhões desistiram de procurar uma oportunidade
Os dados fazem parte da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad). No levantamento anterior, referente ao trimestre encerrado em dezembro, a taxa de desemprego estava em 13,9%, com 13,9 milhões de desempregados.
Na comparação com o trimestre anterior, de agosto a outubro de 2020 (14,3%), o IBGE considerou que a taxa de desemprego ficou estatisticamente estável. Já em relação ao mesmo trimestre móvel de 2020 (11,2%), a alta foi de 3 pontos percentuais.
“Embora a taxa de desocupação tenha ficado estável em 14,2% frente ao trimestre anterior, é a mais alta para um trimestre até janeiro”, destacou o IBGE.
A maior até então para o período de novembro a janeiro, na série iniciada em 2012, tinha sido a de 2017 (12,6%).
A mediana das previsões em pesquisa da Reuters era de que o desemprego ficaria em 14,1% no período.
Em 1 ano, mais 2,4 milhões de desempregados
Na avaliação do IBGE, o contingente de 14,3 milhões de desempregados (recorde para a pesquisa) ficou estável frente ao trimestre de agosto a outubro de 2020 (14,1 milhões de pessoas). Em 1 ano, porém, houve alta de 19,8% (mais 2,4 milhões de pessoas) no número de desocupados no país.
O IBGE considera como desempregado apenas os trabalhadores que efetivamente procuraram emprego nos últimos 30 dias anteriores à realização da pesquisa.
Número de ocupados no Brasil tem leve alta
Já o contingente de pessoas ocupadas aumentou 2% e chegou a 86 milhões. Isso representa 1,7 milhão de pessoas a mais no mercado de trabalho em relação ao trimestre encerrado em outubro.
A população ocupada, no entanto, ficou 8,6% abaixo da registrada há 1 ano (8,1 milhões de pessoas a menos).
Já o nível de ocupação, que é o percentual de pessoas ocupadas na população em idade de trabalhar, ficou em 48,7%. Ou seja, menos da metade da população em idade para trabalhar estava ocupada no país.
“Apesar de perder força em relação ao crescimento observado no trimestre encerrado em outubro, a expansão de 2% na população ocupada é a maior para um trimestre encerrado em janeiro. Esse crescimento ainda tem influência do fim de ano, já que novembro e dezembro foram meses de crescimentos importantes”, afirmou a analista da pesquisa, Adriana Beringuy.
Trabalho informal x formal
Segundo o IBGE, a maior parte do aumento na ocupação veio do trabalho informal, com os seguintes destaques:
número de empregados sem carteira assinada subiu 3,6% em relação ao trimestre anterior, o que representa um aumento de 339 mil pessoas;
contingente de trabalhadores por conta própria sem CNPJ aumentou em 4,8% no mesmo período, totalizando 826 mil pessoas a mais;
Trabalhadores domésticos sem carteira somaram 3,6 milhões de pessoas, com crescimento de 5,2% frente ao trimestre anterior.
Já número de empregados com carteira de trabalho assinada somou 29,8 milhões de pessoas, com estabilidade frente ao trimestre anterior e queda de 11,6% frente ao mesmo período de 2020. Em 1 anos, são 3,9 milhões de trabalhadores com carteira assinada a menos no setor privado, segundo o IBGE.
A taxa de informalidade ficou em 39,7% da população ocupada, reunindo um total de 34,1 milhões de trabalhadores informais. No trimestre anterior, a taxa havia sido 38,8% e no mesmo trimestre de 2020, 40,7%.
Falta de trabalho atinge 32,4 milhões de brasileiros
Número de subutilizados chegou a 32,4 milhões, ficando estatisticamente estável frente ao trimestre anterior, mas com alta de 22,7% (mais 6 milhões de pessoas) em relação a igual trimestre de 2020. Dentre eles, 5,9 milhões desistiram de procurar uma oportunidade no mercado de trabalho, os chamados desalentados.
O contingente classificado pelo IBGE como trabalhadores subutilizados reúne, além dos desempregados, os desalentados, aqueles que estão subocupados (trabalham menos de 40 horas semanais), e os que poderiam estar ocupados, mas não trabalham por motivos diversos.
A taxa de subutilização ficou em 29%, contra 29,5% no trimestre de agosto a outubro de 2020 e de 23,2% no mesmo trimestre de 2020.
Serviços domésticos e agricultura são destaques
Dos 10 grupamentos de atividades pesquisadas, o IBGE avaliou que apenas 3 tiveram variação acima da estabilidade estatística no número de ocupados no trimestre encerrado em janeiro, na comparação com o trimestre anterior:
Serviços domésticos: aumento de 4,8% no número de ocupados ou 228 mil pessoas a mais no mercado
Agricultura: alta de 2,7%, ou mais 225 mil pessoas
Informação, Comunicação e Atividades Financeiras, Imobiliárias, Profissionais e Administrativas: aumento de 3,1%, ou mais 313 mil pessoas
Renda média cai
Com um maior número de trabalhadores informais ocupados, o rendimento médio habitualmente recebido caiu 2,9% frente ao trimestre encerrado em outubro de 2020 e foi estimado em R$ 2.521. Na comparação com o mesmo período do ano anterior, houve estabilidade.
A massa de rendimento real habitual ficou estável na comparação com o trimestre anterior, sendo estimada em R$ 211,4 bilhões. Já na comparação com o mesmo trimestre do ano anterior, a queda de 6,9% representa uma redução de R$ 15,7 bilhões.
Perspectivas
Indicadores antecedentes têm mostrado uma queda no ritmo da atividade econômica e da confiança de empresários e consumidores neste começo de ano em meio ao agravamento da pandemia.
Mesmo com a reação do emprego formal nos últimos meses, economistas avaliam que uma melhora mais consistente do mercado de trabalho só deverá ser observada no segundo semestre, a depender também do avanço da vacinação e da redução das incertezas econômicas.
“Os dados do início de 2021 apontam indubitavelmente para um primeiro trimestre em queda e até a reversão da parte mais aguda pandemia e o início do Auxílio Emergencial não poderemos fazer prognóstico melhor”, avaliou André Perfeito, economista da Necton.
A média das projeções do mercado para o crescimento do PIB em 2021 tem sido revisada para baixo e está atualmente em 3,18%, segundo a última pesquisa Focus do Banco Central.