Pois bem. Um dito popular se enquadra a muitos que deram uma passada maior que as pernas, mas não estavam preparados para tanto: “Quem nunca comeu melado, quando come se lambuza”.
Raros são os que não conhecem alguém próximo que virou a cabeça tão logo ascendeu em alguma função. Esse é o caso típico do senador Márcio Bittar, eleito na esteira do desgaste do PT e que foi carregado nos ombros da popularidade do governador Gladson Cameli.
De militante comunista, Bittar, espertamente, passou a enxergar o oportunismo de surfar na onda Bolsonarista, cujo rebojo principal é dividir a sociedade brasileira, polarizando-a em dois extremos perigosos: esquerda e direita.
Para se cacifar junto ao presidente e sua equipe econômica, o sul mato-grossense Bittar, se dispôs a executar algumas tarefas rejeitadas por outros parlamentares de mais expressão.
Do baixo clero, o senador eleito pelos acreanos passou a ter acesso ao presidente e ao ministro mais poderoso do Brasil.
O primeiro serviço foi tentativa de embutir na PEC que tratava da renovação do auxílio emergencial para amenizar os efeitos catastróficos do desemprego causado pela pandemia, a desvinculação dos percentuais constitucionais destinados ao SUS e ao Fundeb.
Debaixo da saraivada de críticas da sociedade e sob forte pressão da “esquerda” no Congresso, Bittar foi obrigado a retirar da cartucheira a bala destinada a dar o tiro mortal no coração da saúde e da educação.
Ainda assim, em troca da aprovação de um auxílio de valor reduzido para apenas 1/3 dos beneficiários, o relator aprovou seu relatório com várias armadilhas contra o serviço público e contra a própria governabilidade de Bolsonaro.
Alçado à condição de relator do Orçamento Geral da União, um dos cargos mais importantes e cobiçados do Parlamento, Bittar recebeu um prato cheio para se afirmar como um senador influente.
Acontece que Bittar “meteu os pés pelas mãos” e, sem habilidade política e conhecimento mínimo necessário para saber que despesas obrigatórias, óbvio, não podem ser cortadas, passou sua amolada peixeira em quase R$ 30 bilhões de verbas destinadas a funções obrigatórias, como Previdência Social, Fundo de Amparo ao Trabalhador e seguro-desemprego.
Com a disponibilidade proporcionada pelos cortes dos recursos vinculados, o relator comandou a farra das emendas parlamentares, turbinando-as em valores jamais vistos na história da República.
Pelos poderes conferidos ao relator governista, na imprensa nacional Bittar está sendo comparado ao sujeito que recebeu um cheque de confiança em branco e o preencheu com valor estratosfericamente acima do combinado com o dono do talão e da conta.
Perguntado por um repórter se concordava com o orçamento aprovado o ministro Paulo Guedes gesticulou com o dedo indicador: nan, nan, nin, nan não.
Por causa da lambança e do meladeiro históricos, Bittar está encurralado e sendo pressionado a rasgar o cheque.
Fato é que Márcio Bittar deixou seu patrono, Jair Bolsonaro, numa sinuca de bico: caso o presidente sancione o Orçamento, este incorrerá em crime de responsabilidade, o que pode causar-lhe um processo de impeachment. Caso decida pelo veto, Bolsonaro desmoralizará o senador que se dispôs a cumprir a tarefa que o deixou em maus lençóis tanto com o governo quanto com os parlamentares.
Luiz Calixto escreve todas às quartas-feiras no ac24horas.