Entre outros erros, um dos mais graves cometidos pelo PT em duas décadas de absolutismo político no Acre foi a geração de expectativas inalcançáveis e utopias eleitoreiras.
Os mais lembrados e marcantes foram a saúde de primeiro mundo e a geração de 40 mil empregos.
Eu sempre paguei um preço altíssimo por me posicionar contra a potente máquina de propaganda petista, cujo objetivo era “fazer a cabeça” de incautos, que, na época, eram em quantidade bem expressiva.
Questionar essas utopias era o passaporte para ser criminalizado como personagem contra o Acre ou contra o “projeto”, ou no termo deles, gente que remava para trás.
Depois disso, outras promessas foram extremamente massificadas, entre as quais: sub-sede da Copa do Mundo no Acre, transformação do Estado num corredor de exportação através da ligação interoceânica, exploração de petróleo, criação extensiva de bodes e carneiros, criatórios cinematográficos de peixes, ZPE etc.
Todas essas expectativas, diga-se, desejadas por todos, foram elevadas à potência máxima, ainda que pessoas com a mínima capacidade de discernimento soubessem que essas metas eram inatingíveis.
O desenvolvimento econômico de uma região depende muito mais de investimentos do capital do que apenas de legislações e saliva de demagogos.
Infelizmente nosso Acre ainda vai demorar a reunir os requisitos básicos para pegar carona em qualquer movimento de desenvolvimento nacional e internacional.
O grande capital tem no seu radar outras “pistas de pouso” mais atrativas.
No Acre, há diversos empresários cujos sinais exteriores de fracasso são suficientes para provar que o sonho gerado pelo PT se tornou no pesadelo deles.
As filas de carretas a subir a altitude dos Andes ainda estão por se formar; os quartos dos hotéis estão vazios à espera da fração de turistas que subiriam ou desceriam de Cuzco. E a Receita Federal não teve, e nem terá, o trabalho de desembaraçar uma guia de exportação da Zona de Processamento de Exportação, a famigerada ZPE.
Recordo-me perfeitamente do dia em que uma importante jornalista da assessoria do governo petista me repreendeu dizendo que eu “só pensava contra” quando eu disse-lhe no aeroporto que aqueles voos para o Peru eram inviáveis.
Pois bem, o PT fez tanta escola que alguns membros da antiga oposição, e atuais governistas, resolveram plagiá-lo ao pôr asas noutra utopia: a construção de uma segunda ligação com o Peru, desta vez pela quase intransponível floresta amazônica, nos pântanos do Yucaiale, em Pucallpa, rasgando dois parques nacionais, no Brasil e no Peru.
Sem levar em consideração as questões ambientais e a astronômica soma de dinheiro que essa turma fez brotar em folhas de árvores, faço aqui alguns questionamentos:
– Qual a viabilidade econômica dessa ligação?
– Quais produtos deixamos de exportar por falta dessa ligação?
– Quais riquezas produzidas no Acre não puderam ser exportadas pela carreteira interoceânica, via Assis Brasil?
– Por qual razão os produtores do centro-oeste nunca mexeram uma palha por essa ligação, considerando que são donos de mais da metade da produção de grãos do país ?
Senhores, ponha as mãos na consciência, a bola no chão, e façam o povo acreano sonhar um sonho possível.
Luiz Calixto escreve todas às quartas-feiras no ac24horas.