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A construção da felicidade 

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A finalidade de todo o esforço educacional é a construção da felicidade. Por mais incrível que possa parecer, a ideia de construção é a mais adequada para imprimir com precisão para que serve a educação. A felicidade não é algo que cai do céu ou que possa ser doado. E essa construção é feita todos os dias, tanto pelo esforço individual de cada aprendiz quanto, coletivamente, das instituições de que faça parte. Apesar de ser um fenômeno do campo da subjetividade, ser feliz é um estado de espírito construído; ainda que seja sentida individualmente, é o resultado de esforços plurais. Ninguém consegue ser feliz sozinho. Por isso essa construção não pode ser um empreendimento solitário: é preciso, muitas vezes, conquistar a colaboração dos outros. Como consequência, solidariedade, compreensão, cumplicidade, sensibilidade, altruísmo, humildade, autocontrole e perdão, dentre outros valores que precisam ser trabalhados e cultivados, formam o caráter e a personalidade dos indivíduos com a Nova Educação. Este ensaio tem como objetivo mostrar os contornos da construção da felicidade como finalidade educacional.


Se alguém perguntasse a qualquer professor ou aluno das escolas de hoje e lhes perguntasse o que fazem ali, provavelmente a resposta mais comum seria “aprender”. Estão ali para aprender. E se lhes fosse perguntado “aprender para quê?”, se alguém conseguisse responder soaria algo parecido com “ser alguém na vida”, resposta quase sempre dada por indivíduos das classes menos privilegiadas financeiramente. Disso advém duas constatações simples: primeiro, os alunos e profissionais da educação não sabem para que fazem o que fazem; e segundo, não se reconhecem como sujeitos, como seres. Nas creches, as crianças estão ali, no máximo, para brincar, sendo comum a prática de colocá-las ali como se fossem objetos armazenados temporariamente enquanto os pais trabalham ou desenvolvem suas atividades – não sendo incomum transferir para a escola a tarefa “árdua” de lidar com elas. No ensino fundamental o caráter armazenador das escolas aumenta enormemente.


As escolas e profissionais não estão ali para serem felizes. Não é prazeroso estar ali. Muita gente chega e adentra as portas da escola olhando o relógio, contando o tempo que terão que permanecer ali, como se fosse um sacrifício enorme habitar temporariamente aquele ambiente. Felicidade não se faz com gente infeliz. Profissionais da educação precisam aprender a produzir suas felicidades através da geração da felicidade nos outros. É que a forma como os aprendizes são instruídos ou ensinados afeta seu caráter e sua personalidade. Se forem mal tratados desde a infância, aprenderam que o mal tratamento é o normal, e não o bem. Da mesma forma que os hospitais primam pela precisa assepsia de suas unidades cirúrgicas, as escolas precisam fazer o mesmo em relação à psique e espiritualidade de seus profissionais. E quanto mais jovem forem os aprendizes, maior a precisão da assepsia, dada a altíssima capacidade de influência psíquica e espiritual que eles têm.

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Profissionais de educação precisam aprender para se convencer que a felicidade pode ser produzida e que os espaços da escola (e de toda e qualquer instituição) podem abrigá-la. Não é fácil fazer isso, principalmente quando se é pioneiro. Mas as experiências individuais e institucionais mostram que isso revoluciona o aprendizado e a vida das pessoas, tanto aprendizes quanto profissionais da educação. E o princípio da felicidade é o amor. Amar é fazer o bem. Quanto mais fazemos o bem ao outro, mais ele tenderá a ter momentos de felicidade. E quanto mais pessoas fizerem o bem para os outros, maiores também serão as probabilidades de que aquele ambiente se torne um reservatório de bondade, de felicidade. 


As instituições que realmente fazem o bem são aquelas em que as pessoas sentem um clima de leveza e empatia. Esse ambiente exerce uma forma de atração na mente e no corpo espiritual das pessoas, de maneira que se lhes torna extremamente agradável estar e permanecer ali. O aprendiz acorda, por exemplo, e se sente atraído pela escola, diferentemente do que se verifica hoje, em que o que os estudantes menos querem é ir para a aula, e os poucos que querem o querem por outras finalidades, como encontrar com os amigos ou namorar.


A construção da felicidade é feita em forma de onda. Primeiro se aprende a fazer o bem entre si. Colegas fazem o bem para outros colegas da mesma sala, o que é fácil perceber o resultado alcançado. Depois fazem-no para colegas de outras turmas da escola e prossegue-se com todo o ambiente escolar, alcançando animais, plantas, árvores, micro-organismos e assim por diante. E a construção continua, irradiando-se para a vizinhança, bairro, cidade, até alcançar a consciência cósmica, na fase adulta.


Essa é uma prática não pode ser apenas discursiva. É preciso agir. É fazer. Sem que se faça, não há como conferir o resultado almejado. A Nova Educação é consequente: só sabemos de verdade aquilo que somos capazes de fazer. Mas só fazer não basta: é necessário que os resultados pretendidos sejam alcançados, avaliados, para reforçar ou reformular o aprendizado. E quanto mais os resultados se aproximam do que foi planejado, maior a probabilidade de contentamento, o que reforça o contentamento no próximo desafio. Essa prática permite que os indivíduos sintam profundo contentamento tanto quanto estão praticando o bem quanto com os resultados alcançados. E, se fracassarem, ao invés de se melindrarem, renovam suas energias para refazerem o empreendimento.


A construção da felicidade precisa ser uma prática comum por parte de todos os seres humanos. Vivemos para sermos felizes – ou, pelo menos, para não sermos tão infelizes a ponto de fazermos emergir em nós as consequências danosas da depressão e do suicídio. E isso é feito a partir da trilogia pensar-sentir-agir no bem. Essas três dimensões da individualidade, se trabalhadas adequadamente desde a mais tenra idade, permitirão que a integralidade humana seja desenvolvida: pensamento, sentimento e ação, como mostraremos nos capítulos seguintes.



Daniel Silva é PhD, professor, pesquisador do Instituto Federal do Amazonas (IFAM) e escreve todas às sextas-feiras no ac24horas  


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