Representantes do movimento oposicionista ao governo do presidente boliviano Evo Morales, que anunciou em rede nacional de televisão a sua renúncia na tarde desse domingo, 10, divulgaram um manifesto por meio de megafones, para aglomerações postadas em frente ao palácio do governo de Pando e da prefeitura de Cobija, que a partir desta segunda-feira, 11, vão fazer vigília nos dois locais pedindo a renúncia do governador Luís Adolfo Flores Roberts, e do prefeito da capital do departamento, Luís Gatty Ribeiro, ambos membros do Movimento para o Socialismo (MAS).
Até a noite deste domingo, as pontes que ligam Cobija às duas cidades brasileiras de Epitaciolândia e Brasiléia continuavam fechadas. Contatos feitos com manifestantes posicionados nas duas passagens indicam que os bloqueios continuarão por tempo indeterminado. De ambos os lados, dezenas de caminhões estão parados aguardando autorização para atravessar. No lado boliviano, cerca de 40 caminhoneiros brasileiros estão impedidos de retornar ao Brasil desde o embargo das pontes, ocorrido na última terça-feira, 5.
Logo após o anúncio de Evo Morales, uma multidão tomou as ruas de Cobija em carreata. Até soldados da Polícia Nacional Boliviana desfilaram pelas “calles” da capital pandina em comemoração à decisão do ex-cocaleiro que vinha à frente do governo boliviano há 14 anos. Os comandos das Forças Armadas e da Polícia se juntaram à oposição e pressionaram para que Evo deixasse o cargo para “pacificar o país e evitar um banho de sangue”.
Mais cedo, Morales havia dito que convocaria novas eleições, após a Organização dos Estados Americanos (OEA) divulgar que o processo de 20 de outubro apresentava indícios de irregularidades. A essa altura, vários ministros de estado já haviam entregado seus cargos diante da escalada de tensão em todo o país. Jornais bolivianos informam que cerca de 15 autoridades ligadas ao governo e à Justiça Eleitoral foram detidos pela polícia.
A presidente e o vice-presidente do Supremo Tribunal Eleitoral María Eugencia Choque e Antonio Costas, foram detidos neste domingo por oficiais de inteligência da Polícia Boliviana e irão ao Ministério Público para serem processados por fraude nas eleições gerais de 20 de outubro passado. Os dois, que renunciaram a suas funções, tentaram deixar a cidade de La Paz, segundo o relatório do comandante da Polícia Boliviana, Yuri Calderón.
Evo venceu as eleições com 47,07% dos votos. O segundo colocado, o ex-presidente Carlos Mesa, teve 36,51%. Como houve uma diferença de mais de 10 pontos percentuais, o atual presidente foi reeleito em primeiro turno. As pesquisas sugeriam que Morales tinha 32% e apenas cinco pontos à frente de seu principal concorrente, o ex-presidente Carlos Mesa, do Comunidade Cidadã. Em um segundo turno entre os dois, Evo Morales seria derrotado por Mesa, segundo as sondagens feitas antes da eleição.
O resultado foi contestado pela oposição e, no dia 30 de outubro, a Bolívia e a Organização dos Estados Americanos – OEA – concordaram em realizar uma auditoria que indicou a existência de forte indícios de fraude eleitoral. O organismo internacional recomendou a realização de outra votação.