O grupo católico “Amigos de São Sebastião”, uma associação informal de filhos de Xapuri que na sua maioria residem fora do município, criada para auxiliar o projeto de revitalização da igreja, não referendou as denúncias feitas ao site ac24horas na semana passada por dois dos seus membros contra o chefe da paróquia de Xapuri, o padre Francisco das Chagas.
O que se pôde apurar após a publicação da reportagem foi que o religioso foi acusado levianamente de comprar uma caminhonete Amarok para a paróquia sem que houvesse necessidade para tal, com o agravante de a aquisição ter sido feita sem a autorização da Diocese de Rio Branco.
As afirmações feitas por ambos os informantes também colocavam em dúvida a boa gestão financeira da paróquia de São Sebastião.
Todas as situações levantadas foram desmentidas pelo Conselho Paroquial da Igreja em Xapuri e pelo Vigário Geral da Diocese, o padre Leôncio Asfury, maior autoridade da igreja católica acreana após o bispo Dom Joaquim, que se encontra em Roma participando do Sínodo da Amazônia.
O Conselho Paroquial informou que a decisão de se adquirir o veículo foi tomada por unanimidade dos participantes depois de mais de um encontro realizado para apreciar o assunto. O padre Asfury afirmou que o bispo Dom Joaquim foi informado da deliberação do Conselho Paroquial e assinou os documentos referentes à compra e ao emplacamento do carro.
Apesar de nenhuma nota haver sido divulgada publicamente, fontes garantem que a decisão de tornar pública uma mera insatisfação com medidas administrativas do padre e de seu conselho gestor, travestindo-se isso em acusações infundadas, não agradou a maioria dos membros do grupo, que ensaiam a divulgação de uma nota pública esclarecendo que os denunciantes não os representam e manifestando solidariedade ao sacerdote.
Em trechos de manifestações internas do grupo aos quais tivemos acesso, fica claro que não há contestações ao pároco e sua equipe senão àquelas voltadas para discordâncias com a maneira do vigário gerenciar a paróquia de São Sebastião, uma das mais históricas e representativas do Acre.
A reportagem foi publicada depois de o site ter sido procurado por uma pessoa cuja participação na linha de frente do grupo era notória. Pedindo sigilo de identidade, informou o desejo dos demais componentes para que o assunto fosse veiculado sem que os nomes dos responsáveis fossem citados, o que não foi atendido pela redação do jornal.
O professor José Cláudio Mota Porfiro, terminou por assumir as afirmações e críticas feitas ao sacerdote na publicação. Depois de ser desautorizado por vários participantes do grupo nas redes sociais, José Cláudio recuou do tom de denúncia que havia usado inicialmente dizendo que na verdade não há acusações contra o padre, e que a intenção do grupo agora é a de se preservar a idoneidade moral do pároco de Xapuri.
“Não há, exatamente, muita coisa contra o padre, não. Na realidade, depois de muitas informações encontradas e outras desencontradas, a minha intenção, ou a nossa intenção, pode ser dita que é, exatamente, preservar a idoneidade moral do padre. Ou seja, não houve acusação, e se houve alguma acusação não foi, exatamente, da nossa parte. O que a gente quer é a gente quer é que exista uma prestação de contas muito substanciada”, afirmou em mensagem enviada pelo aplicativo Whatsapp.
A reportagem do ac24horas teve grande repercussão tanto em Xapuri quanto em Rio Branco. Nas redes sociais, a revolta contra as acusações e o apoio de internautas ao padre Chagas foram unânimes. Até o site e o jornalista autor da matéria, no exercício da liberdade de imprensa, foram alvos de críticas de uma legião de fiéis e admiradores do líder religioso, que é tido como uma forte referência espiritual na cidade.
Consultados, alguns membros do Conselho Paroquial e fiéis da paróquia de São Sebastião afirmaram que jamais existiu qualquer dúvida em Xapuri quanto à idoneidade e ao equilíbrio de Chagas. Muitos disseram não entender como foi possível surgir denúncias dessa natureza contra um pároco que administra a igreja rodeado de uma extensa equipe de paroquianos que o assessora tanto administrativa como financeiramente.
Quando consultado pela reportagem, o padre Asfury reconheceu o direito de os membros do grupo contestarem a direção da paróquia a respeito de qualquer decisão tomada, mas garantiu que não havia anormalidades na administração da igreja em Xapuri. Ele lembrou que a autonomia do Conselho Paroquial é prevista no Código de Direito Canônico e afirmou que o padre Chagas é um homem extremamente íntegro.
“Não se pode desrespeitar a autonomia do Conselho Paroquial e Econômico, que conduzem a administração da paróquia junto com o padre. E nós temos grande respeito e admiração pelo padre Chagas. A simplicidade dele esconde muita sabedoria ali dentro, muita responsabilidade e muito respeito com a paróquia, muita decência”, afirmou.
O Padre Chagas
Homem simples, ex-seringueiro da região do Purus, alfabetizado já adulto e ordenado aos 40 anos de idade, o padre Francisco das Chagas Monteiro dos Santos, 67 anos, se tornou com o passar do tempo uma das figuras mais carismáticas de Xapuri e com uma forte presença na vida das comunidades mais necessitadas do município, onde está desde o ano de 2005.
Mostrando-se sereno e inabalável durante os momentos em que a reportagem do ac24horas se tornou um dos assuntos mais comentados da cidade, o pároco colocou todas as informações sobre a aquisição do veículo e ainda sobre as prestações de contas da igreja à disposição dos membros de toda a comunidade xapuriense, católicos ou não.
O site ac24horas ressalta que procurou checar com rigor a procedência das informações recebidas, tendo constatado a ligação das fontes citadas na reportagem com o grupo em questão, estando todos os áudios e mensagens devidamente gravados e arquivados. Acrescenta o veículo de comunicação que continua no seu firme propósito de bem informar a sociedade acreana, se pondo à disposição para qualquer esclarecimento que se faça necessário.