É bonita a história que nos orgulhamos de contar a filhos e netos. Era madrugada de 6 de agosto de 1902 quando o gaúcho José Plácido de Castro tomava de assalto, junto com um punhado de seringueiros, a Mariscal Sucre do intendente Juan Dios Barrientos, dando início a um dos mais importantes capítulos da história do Acre e do Brasil, a Revolução Acreana, que tornou brasileiro este pedaço de chão.
O evento de tomada da Intendência Boliviana, que oprimia e sufocava com a cobrança de altos impostos a população brasileira que aqui lutava pela sobrevivência, tornou, desde então, Xapuri o “Berço da Revolução”, epíteto ao qual foi juntado, mais tarde, “A princesa do Acre”, dizem alguns em referência à beleza que possuía a rua do comércio pujante que a cidade já teve para quem chegava de navio pelo Rio Acre. Isso bem antes que a margem do rio fosse ocupada com autorização oficial por barracos e casebres tal qual se encontra até os dias atuais. Mais recentemente veio outra alcunha: “Xapuri, a cidade mundial da ecologia”.
A verdade é que, a despeito de tantos apodos inconsistentes, 117 anos passados da célebre frase de Plácido de Castro: “Não é festa, é revolução”, a cidade onde se iniciou a Revolução Acreana se encontra a anos-luz de alcançar na realidade prática o mesmo nível de importância que lhe atribui a história e a luta daqueles que, desde antes de o Acre se tornar brasileiro, deram suor e sangue por este rincão. Xapuri, como há muito tempo acontece, empreende uma luta inglória para alcançar o lugar de destaque que sugere sua fama montada, em muitos casos, em mitos e factoides.
E como já foi dito inúmeras vezes que uma cidade sem memória é uma cidade sem futuro, talvez o desapego com a valorização de datas em ocorreram eventos tão significativos como a Revolução Acreana e a falta de atenção aos exemplos deixados por aqueles que deram a vida para que a cidade não perecesse, sejam alguns dos muitos fatores a explicar o fato de, no presente, nos encontrarmos patinando tanto em busca do avanço social que a própria “história de glórias” impõe como obrigatório.
Neste dia 6 de agosto de 2019, na cidade de Xapuri, a Mariscal Sucre de 1902, nenhuma programação diretamente alusiva ao início do movimento armado que contribuiu de maneira decisiva para que a diplomacia brasileira viabilizasse a transformação oficial do Acre em território nacional. Mantenho contato a prefeitura e confirmo que não há eventos programados para o dia de hoje. Não que não se tenha tentado. O prefeito Ubiracy Vasconcelos pretendia devolver à população o prédio do Museu Casa Branca, mas trapalhadas com o convênio e com o projeto de restauração que remontam a administração passada adiaram a reinauguração. Pretendia-se também para essa data a reativação da histórica Banda de Música Dona Júlia Gonçalves Passarinho, mas, mais uma vez, o inesperado acontece. A empresa vencedora do processo licitatório não dá conta de entregar os instrumentos e desiste, de última hora, do certame. A segunda colocada é chamada, mas já é deveras tarde.
Indiretamente, o Tribunal de Justiça do Acre realiza neste dia 6 de agosto mais uma edição do Projeto Cidadão e a Associação das Igrejas Evangélicas do município realiza atividades da 13ª Semana Evangélica. Mesmo que o município figure como apoiador desses eventos, o resultado é muito pouco se for considerado que a Revolução Acreana foi na verdade uma guerra onde muitas vidas foram perdidas em nome de um sentimento que enche o peito de cada acreano: o orgulho de ser brasileiro.