Roberto Feres
Gladson começou sua administração sinalizando o fortalecimento do agronegócio, ou seja, das cadeias produtivas da agropecuária. A soja aparece como vitrine dessa nova era do crescimento acreano. O gado e a madeira ainda são nossos carros chefes.
Herdou, dos 20 anos da Florestania petista, enormes queixas dos empresários rurais, ora impedidos pela burocracia ambiental, ora reféns de barreiras tributárias e fiscais que favoreceram a cartelização e a estatização do beneficiamento e distribuição da produção local.
Agronegócio é tratar a cadeia produtiva como um todo, seja ela a da soja, cana, gado, peixe, borracha, madeira. E, para tanto, mais que facilitar o crédito e a burocracia para o produtor, cabe ao estado fortalecer o mercado, reprimindo a concentração de intermediários e garantindo a infraestrutura de transporte, energia, estocagem, assistência técnica, certificação e despacho aduaneiro.
Pontuando, temos estradas mal construídas que ainda não são confiáveis para o trânsito permanente. Além das grandes distâncias, há a insegurança de que os produtos fluam permanentemente e em carretas de grande porte.
Nossa energia é cara e falha com grande frequência. Meia hora sem luz numa granja ou numa fornalha é sinônimo de perda de toda a produção.
Os órgãos federais de certificação (Min. Agricultura) e fiscalização aduaneira (Min. Fazenda), imprescindíveis para viabilizar o comércio com o Perú e Bolívia, por exemplo, não atendem minimamente a fraquíssima demanda atual. É comum vermos filas de cargas aguardando o desembaraço nos postos de fronteira.
Mesmo a estrutura de processamento de exportação construída pelo governo que sai, consta que só serviu para manter emprego de um vigia e da burocracia gestora. Situação parecida é com uma agência estatal de negócios, para a qual cabe um artigo exclusivo.
Salvam-se a Embrapa com suas ilhas de excelência e a facilidade, por parte do estado, de recuperar a operacionalidade de suas unidades de assistência técnica e licenciamento.
Verdade seja dita que o governo anterior bem que tentou fomentar atividades produtivas para o fortalecimento da produção rural. O modelo, com forte e onerosa intervenção pública na gestão dos empreendimentos, pecou em desconsiderar a enorme logística das cadeias produtivas.
É urgente a efetiva privatização desses empreendimentos e a solução dos gargalos a que foram sujeitos. Um trabalho que precisa ser conjunto entre as agências do estado e as entidades rurais e industriais.
Já vimos, no passado recente, que criar peixes, galinhas e porcos, produzir álcool de cana, artefatos de madeira e preservativos de látex natural, por exemplo, tem sido menos rentável que o extrativismo manejado da madeira ou a pecuária extensiva.
O passo decisivo não está na disposição de alguns empresários plantarem soja, mas no enfrentamento político da produção como um processo onde todas as suas fases se completam, lembrando, ainda, que são os pequenos produtores da agricultura familiar que abastecem nossas mesas e geram a maioria dos postos de trabalho no campo.
*Roberto Feres, perito criminal e professor universitário, é formado em engenharia civil, mestre em engenharia urbana e doutor em ecologia e recursos naturais.