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Grupo de amigos se reúne e cria a Associação dos Cornos do Estado do Acre; Associação existe há 10 anos

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Uma simples molecagem em uma reunião qualquer de amigos acabou se transformando, há 10 anos, em uma espécie de irmandade de cornos e já recebe nome de associação com diretoria organizada e até carteira de identificação.


A Associação dos Cornos do Acre, a Ascornacre, congrega um grupo inicial e fixo que forma uma diretoria com presidente e vice, secretário e até tesoureiro. O idealizador da Ascornacre é o autônomo Tiago Farias, uma espécie de corno-mor do grupo que não tem vergonha de se autointitular “chifrudo”.


Tiago tem a companhia dos associados Tarso Hugo (vice-presidente), Ronacleudo Afon (2º vice-presidente) e Paulo Costa (secretário). São eles os cornos e maiores entusiastas do associação.

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O grupo se reúne quase que diariamente em uma lanchonete ao lado do Teatro Plácido de Castro, apelidada de a “Cantina dos Cornos”. Os integrantes não têm vergonha de dizer que o ambiente funciona como ponto de encontro de iniciação para autoajuda dos cornos.


Entre eles, o assunto traição é levado a sério, pois causa transtornos, separa pessoas, a depender do entendimento de cada casal, e resulta em sérios problemas de ordem psicológica.


Tiago Farias, o presidente, acredita que “chifre” é algo difícil de se evitar, mas quanto acontece, a pessoa precisa entender que o mundo não acabou, ao contrário, pode ser uma boa oportunidade de um recomeço. O difícil é entender, em meio a um contexto conturbado de traição, a possibilidade de descobrir novas amizades, novos relacionamentos, lembra.


Integrar a Ascornacre e interagir como associado seria algo como brincar com a própria desgraça até fazer desse dilema um caminho para o perdão e o retorno à felicidade.


Trechos da entrevista com Tiago Farias, presidente da Ascornacre


Como e quando surgiu a Ascornacre?


– A Ascornacre foi criada há 10 anos perto do Lacen (Laboratório Central) em um lanche numa conversa entre amigos. A gente tem um amigo, que é o Louro, o símbolo da Ascornacre, que passava na época uma situação difícil, pegou um chifre e queria se matar, se jogar de cima da ponte metálica. Na hora em que ele tentava se matar, eu e outro amigo, que também é da associação, salvamos ele em cima da ponte. Pegamos a bicicleta que ele tinha, colocamos dentro do bagageiro e levamos ele esse dia para esse lanche. Aí ajudamos ele. Foi daí que criou-se a ideia da Associação dos Cornos do Acre, que é pra cuidar, justamente, dos homens traídos. Segundo levantamento nosso, o Acre tem mais de 10 mil cornos, mas associados mesmo nós temos cerca de 600. Tem também um grupo de WhatsApp que também tem bastante corno. Então, começou com uma brincadeira, surgiu a ideia, criamos a carteirinha, o logotipo, aquela coisa toda, e ficou como fundador eu e outros amigos. A diretoria cresceu, a brincadeira foi crescendo nas redes sociais, no WhatsApp, e hoje há pessoas que fazem parte e integram direta e indiretamente a Ascornacre. Tem pessoas que estão lá, que foram traídos pela mulher, que a gente ajuda, a gente faz churrasco, toma aquela cervejinha, e vai chegando aquele pessoal e fazendo parte da Ascornacre. Até frase/lema a Ascornacre tem: “Rio Branco terra que me seduz, de dia falta água, de noite falta luz, na casa que não tem um corno é milagre de Jesus”.


Vocês têm CNPJ, sede própria?


– Hoje nós estamos lutando para ter uma sede própria. Queremos alugar um espaço, uma casa, organizar a entidade com pagamento de mensalidade, uma carteirinha, plano de saúde e odontológico, essas coisas que o corno precisa.


E sobre essa história da disputa pela presidência da associação?


– A Ascornacre é democrática. Tem outra chapa lá de outro corno, mas confiamos que vamos ser reeleitos para um mandato de mais quatro anos. Os cornos já conhecem o nosso trabalho. A nossa proposta é aumentar e expandir o nome da Ascornacre. Estamos no processo da elaboração de um site para que a associação tenha cara, voz e vez.


Ser corno é o único critério para ingressar na Ascornacre?

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– Tem que ter a comprovação que o cara pegou chifre, que ele foi traído, ou comentário de que o sujeito é corno. Basta o comentário: ah, a mulher do fulano traiu ele. O cara ouviu falar no WhatsApp, no Facebook, ou coisa assim. Só basta isso. Ele foi tachado como corno e imediatamente se ele quiser fazer parte da associação, a associação tá pronta para ajudar ele. Temos psicólogo, temos médico e temos advogado, que é a parte jurídica também. Hoje, o corno está muito bem amparado. O corno é um ser-humano que é desprezado pela sociedade. Ele não pode sair de casa que a negada diz: olha o corno! Então, ele cria aquela situação de complexo de interioridade muito grande. Ele fica depressivo, não pode ver uma corda que ele quer se enforcar, quer se jogar debaixo de um carro, de cima de uma ponte. O índice de mortalidade de corno aqui no Acre é muito grande. E a Ascornacre está aí para combater essa pandemia de corno se matando. Com a Ascornacre diminuiu em 35% o índice de mortalidade do corno.  E o corno ele sofre calado, não conta nada a ninguém. Obviamente ele não vai contar, não vai passar uma vergonha. E a gente tem até um informativo de como que o corno deve proceder diante de uma traição, o que ele deve fazer e quem ele deve procurar para fazer o tratamento.


Eu ouço falar em projetos de ação social entre vocês? Já ocorrem tais ações ou são projetos, algo ainda em elaboração?


– Nós temos, sim, um projeto de promover ação social, trabalho filantrópico, de comprar sacolões e distribuir para famílias carentes. Temos um projeto de visitar ribeirinhos, levar remédio, e visitar aqueles cornos mais longínquos. Visitar os que vivem na cachaça, que vivem no vício, que apanham da mulher. Tudo isso vai ser uma ação social. Queremos abranger todos eles. Queremos ajudar a restabelecer a saúde, a vida e o nome do corno, que é um nome que fica na lama. Precisamos de ajuda, de pessoas que colaborem com a gente, de empresários, para a gente fazer um dia de ação social numa comunidade, num bairro, para ajudar não só o corno mais carente, como a população de um modo geral.


É sério que há um levantamento do número de cornos?


– (risos) Não tem nem como contar. Mas eu te garanto que só aqui ao redor do Conjunto Village a gente tem uns 150 cornos cadastrados. Não tem nem como fazer, ainda, um top 10 dos bairros de Rio Branco porque é muito corno.


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