Distante 42 km do município de Cruzeiro do Sul, a Vila Santa Luzia convive diariamente com a ameaça da malária. Só em dezembro do ano passado, a Unidade Mista de Saúde existente na localidade contabilizou 166 exames em pessoas com suspeita de terem contraído a doença. Trata-se de um número significativo para uma população estimada em 15 mil habitantes.
A Coordenação de Endemias de Cruzeiro do Sul confirma Santa Luzia como um dos locais de maior ocorrência de malária. Os outros dois são os bairros Lagoinha e Assis Brasil.
Com o aumento de 35% dos casos, o número de pessoas que contraíram malária saltou em Cruzeiro do Sul de 13.806, em 2013, para 18.699 no ano passado. Esse crescimento deve ser atribuído, segundo o coordenador de Endemias do município, Hélio Cameli, a fenômenos climáticos, mas principalmente à abertura de tanques para piscicultura na região.
Açudes abandonados são um convite para o Anopheles, o mosquito transmissor da malária. “Os ovos são depositadas nos tanques, e com as chuvas, a tendência é que eles eclodam, gerando as larvas”, explica Hélio.
Para piorar a situação dos doentes, o município de Cruzeiro do Sul ficou os últimos dois meses sem distribuir um dos remédios destinados ao tratamento da malária, cujo estoque já foi reposto. A Primaquina, usada em conjunto com o Cloroquina, atua no fígado do paciente, destruindo o chamado plasmodium. Com o uso apenas da Cloroquina, a malária pode reincidir.
Na saúde e na doença
Na Vila Santa Luzia é raro encontrar uma residência em que alguém não tenha contraído malária. O mais comum é que uma pessoa tenha sido vítima do Anopheles mais de uma vez.
É o caso da comerciante Albanízia Oliveira Souza, 56 anos, que em dezembro do ano passado contraiu a doença pela segunda vez. Na primeira, Niza, como é conhecida, foi acometida junto com o marido, Antônio Santos da Silva, com que está casada há quase 40 anos.
Com parentes morando na Vila Santa Luzia, eles são capazes de indicar quantos deles já padeceram com a doença. E apontam também as casas dos vizinhos, nas quais quase ninguém escapou da picada do mosquito.
“Aqui nessa rua quase todo mundo já pegou malária”, assegura Niza.
Melhor se precaver
Hélio Cameli sustenta que 2017 é um ano propício à reprodução do Anopheles. Por isso, os moradores de Cruzeiro do Sul e municípios adjacentes precisam tomar alguns cuidados que podem evitar a malária.
Um deles é usar os mosquiteiros impregnados com a alfacipermetrina – uma substância capaz de repelir os mosquitos, mas inofensiva à saúde humana. Hélio reclama que muitos moradores de Cruzeiro do Sul receberam doações de mosquiteiros e acabaram utilizando-os com outra finalidade, como cobrir hortas.
O uso de repelente também não deve ser descartado. Além disso, é preciso evitar os igarapés e a beiras de estrada nos horários de pico do mosquito, que costuma se alimentar ao anoitecer e ao amanhecer do dia.