Se torna cada vez mais misterioso o caso envolvendo o jovem Kennedy Magalhães, principal acusado de tentar empreender fuga, tomar a arma e efetuar um disparo fatal contra o cabo PM Alexandro que participava da abordagem na trágica segunda-feira, do dia 15 de agosto, na Rua Parati, no bairro Novo Horizonte, em Rio Branco.
Outro documento fundamental para a fase de julgamento, a perícia solicitada pelo Ministério Público do vídeo que mostra toda a ação dos militares e do principal acusado, não revelou que a arma foi retirada do colete do CB Alexandro.
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“É possível visualizar quando o acusado Kennedy tira algo do colete do CB Alexandro, não sendo possível definir que se trata de um objeto em específico”, diz a conclusão descrita no documento que a reportagem teve acesso exclusivo, assinado pelo perito criminal Bruno Santana Lustoza, do Instituto de Criminalística da Secretaria de Segurança Pública do Estado do Acre.
Segundo a perícia, “o vídeo é autêntico, não se constatou divergência de descontinuidade e/ou alteração ardil com objetivo de manipulação intencional fraudulenta a ludibriar o desenvolvimento das ações em evidência do seu conteúdo”.
PARA ENTENDER OS FATOS
No dia 15 de agosto deste ano, após uma abordagem na Rua Parati, no bairro Novo Horizonte, em Rio Branco, o Cabo PM Alexandro foi alvejado com um tiro no pescoço, após lutar com outros colegas de farda para evitar a tentativa de fuga do jovem Kennedy Magalhães durante uma rotina policial que parecia ser simples, mas que terminou com o desfecho trágico.
Após a repercussão do caso, a família de Kennedy divulgou um vídeo que mostra toda a movimentação que aconteceu em frente à casa do acusado e, a partir daí, acusação e defesa começaram a travar uma batalha apontando teses para o desfecho.
A defesa alegou que a abordagem policial foi desproporcional e que pelas dificuldades impostas pelos militares, em momento algum, seu cliente conseguiu retirar a arma do coldre frontal da vítima.
A tese da defesa foi reforçada com o resultado da primeira perícia que também é fundamental para elucidação dos fatos, o exame qualitativo de pesquisa de partículas de chumbo residuográfico, que não detectou, segundo o perito criminal Airton Ferreira de Castela, “partículas de chumbo nas mãos ou no corpo de Kennedy Magalhães”.
No dia 11 de outubro aconteceu no Fórum Criminal a audiência de instrução do caso, com as oitivas de testemunhas de acusação e defesa, entre eles, policiais que participaram da abordagem e o acusado de ser co-autor do crime, Jonathan Clarc dos Santos, além de vizinhos e amigos intimados.
Não houve pronunciamento por parte do juiz Alesson Brás que aguardava o resultado da perícia solicitada pelo Ministério Público Estadual sobre a autenticidade do vídeo. A defesa também solicitou a perícia da arma, o advogado quer saber se a pistola Taurus PT840 nº SDS85857 pode disparar sozinha, acidentalmente.
Para o delegado Carlos Bayma, que presidiu o inquérito, e o Ministério Público, não existem dúvidas, a denúncia oferecida foi acatada pela Justiça e Kennedy se transformou em réu em tempo recorde, no dia 06 de setembro do mesmo ano.
Novas provas – A perícia responde pelo menos a uma pergunta importante do Ministério Público e que vinha sendo alvo de vários questionamentos da sociedade que acompanha a elucidação do caso. Como a pistola Taurus voltou em direção ao Cabo PM Alexandre em movimento circular após o disparo?
Segundo a perícia, “a arma não fora jogada ao chão, na verdade ocorre o retorno do tensionamento do ‘fiel’ da pistola que era presa ao colete do CB Alexandro”. Ainda de acordo o documento técnico, a arma chega a se chocar contra a cabeça do militar caído ao chão após ter sido atingido por um disparo no pescoço. Essa parte importante é registrada com 00:01:59,09s do vídeo que tem tempo total de aproximadamente 09 minutos.
Novos questionamentos – O advogado do acusado, Romano Gouveia questiona porque a perícia técnica não respondeu aos questionamentos apresentados pela defesa. “É como se o contraditório não existisse, um desrespeito à Constituição” disse Romano.
Para o defensor de Kennedy, o laudo do vídeo é “inconclusivo, não demonstra em nenhum momento seu cliente como claro autor do disparo fatal, o que já tinha sido evidenciado em outra perícia de resíduo de pólvora nas mãos e no corpo do meu cliente”, acrescentou.
Ainda de acordo Romano, o vídeo não foi analisado em sua totalidade, deixando de mostrar o momento em que o pai de Kenedy é agredido com um tapa por um dos policiais que participaram da ação.
Romano pediu para ser incluído no processo de julgamento, vídeos e farto material que mostra acidentes com a arma Taurus especificamente no modelo vendido a diversas Polícias Militares no Brasil.
O advogado aposta ainda em dois fatos importantes solicitados à justiça: a reconstituição do suposto crime e a plenitude de defesa que é admitida no Tribunal do Júri. “Tenho certeza de que vamos conscientizar os jurados de que Kenedy deve ser julgado pelo grau de sua culpabilidade, sempre defendemos isso. A especificidade tem que ser concludente e não subjetiva”, concluiu.