Em tempos de crise econômica, obrigação acaba virando mérito. É o que se depreende do texto enviado pela assessoria de comunicação do governo sobre o pagamento da última parcela do Prêmio de Valorização da Atividade Policial (PVAP).
Enquanto os secretários de Estado gabam os feitos do governador Sebastião Viana, policiais militares e do Corpo de Bombeiros tiveram de ir às ruas protestar contra a extinção da chamada etapa alimentação, que lhes retirou R$ 850 do salário.
Jogar confetes sobre a cabeça de quem não faz mais do que cumprir as obrigações, como isso fosse uma conquista, é apelar à ingenuidade dos que não se deixam enganar por platitudes.
Afinal, o governo que diz resistir à crise com bravura é o mesmo que penaliza a população carente ao cortar cerca R$ 20 milhões em repasses para a Secretaria de Saúde e para o Hospital das Clínicas, ao mesmo tempo em que anaboliza o caixa da Sefaz em mais de R$ 310 milhões.
Além do mais, ninguém esqueceu quem são os verdadeiros responsáveis pela crise que enseja o discurso fajuto da comunicação oficial. Bem como não foi olvidado o apoio incondicional do governador do Acre à presidente deposta Dilma Rousseff, graças a quem a economia do país foi pro buraco – e nós juntos.
Pior ainda que a lengalenga dos assessores de Sebastião, só mesmo a tática dos seus partidários incrustados na imprensa, que agora deram pra cobrar do governo Temer a solução de problemas gestados na administração anterior.
A ineficiência do governo local também tem sido jogada nas costas do novo presidente e de seus aliados. Como a BR-364, por exemplo. Dias atrás, um jornalista ligado ao governo teve o desplante de cobrar, numa matéria, a pavimentação da rodovia, que ele acha negligenciada após 15 dias de assinatura, pelo Dnit, da ordem de serviço.
Ora, já se vão mais de 18 anos que o PT governa este Estado, tendo colocado as mãozinhas impolutas em mais de R$ 2 bilhões, gastos com a obra – sendo que dela não sobrou muita coisa. Se não há estrada trafegável entre Sena Madureira e Cruzeiro do Sul, não haverá de ser ao senador Gladson que se deverá endereçar a cobrança.
Das duas uma: ou falta juízo a quem se encarrega de propalar semelhantes absurdos, ou tem sobrado despudor.
Aos redatores da Secretaria de Comunicação seria mais digno que falassem dos feitos sem apelar à cantilena de que o governo paga salários em dia. É cansativo, para dizermos o mínimo.
Afinal, nada mais comezinho que gerir uma montanha de dinheiro e fazer chegar uma fração dela aos que dedicam a vida ao serviço público – e que nem por isso vão poder se aposentar, como o governador e seu irmão senador, com um salário superior a R$ 30 mil.
O dito popular tem uma expressão bem pertinente ao que faz o atual governo com a classe dos policiais. Sebastião primeiro morde, e depois assopra.
Pena que o sopro não é o suficiente pra curar as mordidas.