Policiais nas ruas – não para garantir a integridade física de quem protesta –, mas para protestar contra medidas de governos, é sempre um indício de que algo não vai bem. Nesta quarta-feira, centenas de policiais militares e bombeiros tiveram que demonstrar seu descontentamento contra a medida de Sebastião Viana que retira de seus soldos a etapa alimentação.
Trata-se de uma redução de 850 reais no salário dos que já não ganham consoante os riscos que precisam correr em tempos de violência galopante; que precisam conviver com o stress de um trabalho ao qual nem todos são aptos; que em decorrência da pressão cotidiana têm uma perspectiva de vida menor que o restante da população brasileira.
Graças à infeliz decisão do governo em penalizar a tropa, o coronel Ulysses Araújo apresentou, dias atrás, sua carta de demissão ao governador petista. E a justificativa não poderia ser mais exemplar: entre conviver com a insatisfação dos colegas de farda e manter-se no comando da corporação, ele preferiu a mais honrosa das saídas ao perfilar-se ao lado daqueles cujos riscos conhece tão bem.
Ante os fatos, a questão a ponderar é a seguinte: quantos aspones Sebastião Viana teria que exonerar para que os militares mantivessem o salário intacto? Cem? Trezentos? Quinhentos? E quantos assessores ociosos, cuja única obrigação diária é louvaminhar o governador até o cúmulo da adulação, estão hoje pendurados na administração pública?
Tal questionamento nos remete a uma questão fundamental. A de que o atual governo tem tomado medidas sem que os mais esclarecidos dos cidadãos deste Estado conheçam as verdadeiras razões por trás delas. Ou alguém sabe dizer quanto o Estado gasta com os cargos em comissão, as viagens e as diárias que oneram a máquina pública ao ponto do sufocamento?
O portal da transparência do governo não lista os cargos comissionados de forma clara, misturando, quiçá intencionalmente, seus ocupantes aos servidores do quadro efetivo e inativos do Estado. Para saber o valor que os apaniguados de Sebastião custam aos cofres públicos seria necessária uma verdadeira garimpagem nas informações, o que, por si só, é o suficiente para dissuadir a curiosidade até mesmo dos jornalistas mais empenhados.
A outra questão pertinente a formular neste momento é a queda de braço que o Estado tem perdido para o crime organizado e para os desgarrados meliantes que agem por conta própria.
Não é possível conter o avanço da criminalidade sem o aporte de recursos necessários ao trabalho dos policiais, tampouco lhes retirando dos vencimentos a parcela considerável da etapa alimentação.
Ter nas ruas homens e mulheres insatisfeitos com o que ganham para arriscar a vida todos os dias não é o mais acertado para um governo que se diz empenhado em fortalecer a segurança pública.
A bandidagem, uma vez mais, agradece.