Efeito laranja só funcionou na capital que se transformou no último rincão do PT no Brasil. Partido que já teve 12 cidades nas mãos, consegue vitória apenas em quatro. FPA estanca no crescimento e mantém apenas 10 prefeituras.
Muitos dos jovens que foram as urnas na manhã de domingo (2) não sabem que, em 1990, o atual senador Jorge Viana (PT-AC), sem nenhuma experiência eleitoral perdia as eleições estaduais para Edmundo Pinto, do PDS, por uma diferença de treze mil votos. A derrota só não foi tão amarga pela criação naquela época, da Frente Popular do Acre (FPA), união de partidos e representantes políticos que, em menos de dez anos depois se tornaria a maior força política do estado.
Após ser eleito prefeito de Rio Branco em 1992, Jorge Viana chegou ao Palácio Rio Branco seis anos depois, em 1998, numa campanha que mobilizou doze partidos e resultou em sua vitória no primeiro turno. Dois anos mais tarde, elegia sete prefeitos petistas – um número histórico – e mais cinco prefeituras comandadas pelo Partido Progressista Brasileiro, o PPB. Entre as cidades estratégicas, Cesar Messias era eleito prefeito de Cruzeiro do Sul.
Sendo reeleito em 2002 com 64% dos votos, Jorge Viana iniciava a partir de 2006 uma linha sucessória que até hoje se mantem no poder. Depois de eleger o desconhecido professor, Binho Marques, com a ajuda da FPA elegeu e reelegeu o seu irmão, médico Sebastião Viana nas eleições de 2010 e 2014.
Em 2010, ainda se elegeu senador da República mais votado entre os concorrentes. Chegou a ser comparado ao Rei Midas, aquele cuja vontade se transformava em realidade e em tudo que tocava virava ouro, até a grama de seu jardim.
E não era à toa. Em 2008, dois anos após eleger Binho Marques governador do Acre, o Partido dos Trabalhadores saltava de sete para doze prefeituras comandadas desde Rio Branco, com Raimundo Angelim até regiões estratégicas como o Alto Acre. E os partidos que integravam a FPA, fazendo mais cinco prefeitos, totalizando 17 cidades administradas sob o domínio do Palácio Rio Branco.
Os escândalos nacionais e o declínio do PT no Brasil e no Acre
Tudo parecia caminhar perfeito. Em 2014, embora tenha vencido por uma margem pequena de votos, Sebastião Viana entrava para a história como o gestor que levaria a FPA há 20 anos no poder, até 2019. O que deve se concretizar.
O que os irmãos Jorge e Sebastião não contavam era com a má influência gerada por escândalos nacionais e o desgaste das principais figuras do partido em nível nacional, desde o Mensalão – compra de votos de parlamentares no Congresso Nacional – que teve como protagonista o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, como a Operação Lava Jato, maior investigação de corrupção e lavagem de dinheiro que o Brasil já teve.
Os sinais de desgaste político no Acre, passaram a ser evidenciados a partir das eleições de 2010, quando um outro Sebastião, o Bocalom, ex-prefeito de Acrelândia, por muito pouco não ganhou, ficando atrás no Segundo Turno por uma margem de 1.33%, uma diferença de 4.497 votos válidos. Bocalom com uma campanha pé no chão, sem estrutura, concorrendo pelo PSDB, lutando contra três máquinas administrativas, saiu fortalecido do pleito.
Dois anos depois, Sebastião Viana testa sua força nas urnas. A FPA lança o engenheiro paulista Marcus Alexandre como candidato a prefeito de Rio Branco numa dobradinha com o PCdoB, partido comandando por Edvaldo Magalhães e a deputada Federal Perpétua Almeida.
O Partido dos Trabalhadores ganhou em Rio Branco em uma virada surpreendente de votos para Marcus Alexandre, mas perdeu 50% da representatividade, declinou de doze para seis prefeituras com gestores eleitos. Perdeu em regiões e cidades importantes como os municípios de Brasileia e Xapuri. Com ajuda do PSB, PR e PCdoB, a FPA fez mais quatro prefeituras, mas saia de 17 para 10 as cidades comandadas por Sebastião Viana. A luz vermelha estava acesa.
Em 2013, a crise de identidade sofrida pelo PT em nível nacional era regionalizada com a Operação G7 desencadeada pela Policia Federal que através de 34 mandados de busca, apreensão e prisão, prendeu empreiteiros e secretários do Estado, suspeitos de envolvimento em um esquema de fraudes em licitações, envolvendo o maior projeto de seu governo: a Cidade do Povo. Mesmo desbastado Sebastião Viana conseguia se reeleger governador vencendo novamente com uma margem pequena de votos o ex-deputado federal Marcio Bittar (PSDB).
A Operação Lava Jato – Após sentar na cadeira do Palácio Rio Branco, Sebastião Viana é indiciado pela Procuradoria Geral da República (PGR) na Operação Lava Jato. O seu partido, o PT, começa a ser investigado pelo maior esquema de corrupção e lavagem de dinheiro que o Brasil já teve. Estima-se que o volume de recursos desviados dos cofres da Petrobras, maior estatal do país, esteja na casa de bilhões de reais. Soma-se a isso a expressão econômica e política dos suspeitos de participar do esquema de corrupção que envolve a companhia.
Nesse esquema, que dura pelo menos dez anos, grandes empreiteiras organizadas em cartel pagavam propina para altos executivos da estatal e outros agentes públicos. O valor da propina variava de 1% a 5% do montante total de contratos bilionários superfaturados. Esse suborno era distribuído por meio de operadores financeiros do esquema, incluindo doleiros investigados na primeira etapa.
Outro fator que passou a contribuir com o declínio do PT em nível nacional, foi a aplicação do ajuste fiscal pela presidente Dilma no início de 2015. O país mergulhou em uma crise financeira sem precedentes com mais de 11 milhões de desempregados. A eleição deste ano foi fortemente marcada pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff.
Às vésperas da votação, a maior liderança do partido, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva se transforma em réu junto com a esposa. A 35ª fase da Operação Lava Jato, prendeu o ex ministro da Fazenda e Casa Civil Antonio Palocci. Conduziu coercitivamente para depor o consultor Marcio Antônio Marucci, um ex-assessor do Senado ligado ao senador Jorge Viana (PT-AC). As suspeitas são que ele pode ter relação com propina negociada pelo ex-ministro da Fazenda e Casa Civil Antonio Palocci, com a empreiteira Odebrecht.
Jorge Viana reaparece nas esquinas de Rio Branco pedindo votos para reeleger Marcus Alexandre, e tratado pelos veículos de comunicação em nível nacional como o suposto “menino da floresta” identificação dada na planilha do Departamento de Operações Estruturadas da Odebrecht, tratado pelos investigadores como o “departamento da propinas”. O senador vira suspeito de ser um dos beneficiados na Operação Lava Jato. Ele através de nota, negou o envolvimento.
Rio Branco se transformou no último rincão eleitoral do PT no Brasil
Coincidentemente, Jorge Viana que foi às ruas pedir votos para Marcus Alexandre, foi o único a aparecer nas inserções do programa eleitoral de Marcus Alexandre, que orientado por seus marqueteiros abandonou a cor vermelha, dispensou depoimento do governador Sebastião Viana, tudo para dissociar sua imagem dos escândalos nacionais envolvendo o partido, estratégia que deu certo. Um dado preocupante para o simbolismo vermelho.
A vitória com margem tranquila de Marcus Alexandre contra Eliane Sinhasique, garante a manutenção do partido dos trabalhadores até 2020 na capital dos acreanos e o comando da máquina pública do estado até 2018.
O eleitorado acreano foi de encontro a maioria do povo brasileiro que praticamente exterminou a sigla petista da gestão pública. O partido apenas disputa o segundo turno em mais uma capital, o Recife, onde João Paulo concorre pela vaga de prefeito com Geraldo Júlio, do PSB.
No comparativo entre o resultado das eleições municipais entre 2012 e 2016, o partido declinou de seis para quatro prefeituras. A Frente Popular manteve dez cidades, ganhou fôlego com as eleições de Brasileia e Xapuri, municípios que eram redutos oficiais do PT, perdeu as prefeituras de Feijó e Tarauacá, onde os números das últimas eleições para governo, garantiram vitórias sucessivas ao grupo de Sebastião Viana, o atual governador. O resultado dessas eleições é o pior desde o ano 2000 quando a sigla elegeu sete prefeitos, o equivalente a 31,82% do total.
Irmãos dispensam avaliação geral das eleições e focam na vitória de Marcus Alexandre
O senador e vice-presidente do Senado, Jorge Viana (PT-AC) não se arriscou a fazer nenhuma avaliação mais profunda do resultado das eleições municipais, através de sua página no facebook, nesta terça-feira, fez um único comentário relacionado à vitória de Marcus Alexandre em Rio Branco: “Venceu a boa política! Vamos seguir, juntos, trabalhando por Rio Branco”, escreveu.
Concidentemente, o seu irmão, Sebastião Viana, embora tenha justificado sua ausência das eleições na capital afirmando que foi designado para o interior do estado, não tocou em entrevista coletiva nos nomes dos prefeitos eleitos em Brasileia, Xapuri e Mâncio Lima, mas apenas no nome de Marcus Alexandre, vitória que ele atribuiu a expressiva marca de votos. O PT elegeu 40 vereadores.
“Sentimos o apoio popular para construir o nosso projeto com os pés no chão e humildade, com a população de mãos dadas…” afirmou.
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