O Conselho de Ética da Câmara dos Deputados decidiu nesta terça-feira, por 11 votos a 9, recomendar a perda do mandato do presidente afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Com isso, encerra-se a primeira parte da novela mexicana cujo suspense se manteve em torno da deputada Tia Eron (PRB-BA), que acabou por votar contra Cunha.
A segunda parte da trama é saber se o peemedebista tem apoio suficiente em uma votação no plenário para se livrar da cassação. A verificar.
Mas antes da conclusão, as premissas.
A primeira é que Tia Eron mudou o voto, originalmente a favor de Cunha, graças às pressões da mídia convencional e da alternativa, formada pelas redes sociais. Nisso o caso da deputada baiana se assemelha ao de Alan Rick, também do PRB – o parlamentar “murista” que foi apeado do lado de cá do impeachment graças à cobrança dos internautas.
Ambos tiveram que decidir entre as conveniências políticas e a voz rouca das redes sociais. Venceram estas últimas, com ajuda dos trancos dados pela imprensa.
Imediatamente após o anúncio do resultado no Conselho de Ética, os aliados da presidente afastada comemoraram. Mas a segunda premissa é que essa é uma vitória de Pirro. Senão, vejamos.
O PMDB de Michel Temer não deverá apresentar candidato a presidente da República nas eleições de 2018. Foi o acordo firmado por Michel Temer na hora de cabalar o apoio do PSDB à interinidade periclitante.
Cunha, portanto, não ameaça desgastar o partido mais do que já fez o noticiário focado na Lava Jato. O que significa que não haverá pressão sobre uma sigla que aprendeu – como dizem com razão os companheiros – a governar sem precisar o apoio que vem das urnas.
A terceira premissa é que o governo interino, ao contrário do que podem achar os apressadinhos, não será impactado pela decisão dos membros do Conselho de Ética. Isso porque há muito tempo Eduardo Cunha tinha se transformado em um peso enorme para Temer carregar.
Formuladas as premissas, vamos à conclusão.
Por óbvio que algumas verdades pareçam, elas não são assimiladas de pronto pela maioria justamente por sua gritante obviedade. Este é um dado que atrapalha quem se acostumou a pensar nas curvas sinuosas da política e a elas recorre sempre que se vê em um caminho reto e aplainado.
Em outras palavras, a queda de Cunha continua ruim para o PT. Ou alguém duvida que a Lava Jato não tenha carimbado os companheiros Lula e Dilma a ponto de ambos serem evocados a cada novo escândalo?
Antes de prosseguir com a festa, a militância lulista precisa entender que Cunha é só mais um sob o rolo compressor da operação que vai compactar muito mais gente até as eleições presidenciais de 2018.
Os processos de Lula já estão sobre a mesa do juiz Sérgio Moro. E junto com Cunha, o petista, claro, pode ir pras “cucunhas”.