Na véspera de Natal, o ac24horas.com mantém a tradição de selecionar, por meio de um projeto social ativo, uma família em situação de extrema vulnerabilidade para ser o foco de uma campanha online de arrecadação. Neste ano, a indicação veio do Conexão do Bem, que apresentou a dura realidade vivida por Cristiane Silva de Sousa e seu esposo, Antônio José da Silva Souza, moradores de uma área de invasão no bairro Habitasa, em Rio Branco. Assista ao vídeo que complementa essa matéria, no final do texto.
O casal vive com cinco dos nove filhos em uma casa improvisada, construída pelo próprio Antônio em um terreno público invadido, ao lado de um esgoto a céu aberto. A residência foi levantada com recursos de uma indenização trabalhista após a demissão de Antônio de uma construtora. Feita com madeiras reaproveitadas e doações de vizinhos, a casa não tem saneamento adequado. As sete pessoas dividem um banheiro a céu aberto, convivem com insetos, animais peçonhentos e com a constante insegurança de morar em uma área de risco.
Mãe de nove filhos, Cristiane Silva de Sousa carrega uma trajetória marcada por violência doméstica, migração forçada, trabalho informal e pobreza extrema. Natural de Curitiba (PR), ela vive no Acre desde 2004 e relata que precisou deixar sua cidade após ameaças de morte feitas por um ex-companheiro. “O juiz falou que, se eu ficasse na cidade, eu ia morrer. Ele disse pro juiz que ia me matar, que não importava se fosse preso, que seu não fosse dele não ia ser de mais ninguém. Ameaçou até matar o próprio filho”, contou.
Desde então, Cristiane diz que sempre trabalhou para sustentar os filhos. “Trabalhei em casa de empresário, de professora, de oficial de justiça. Nunca mexi em nada de ninguém. Podiam deixar a casa com chave comigo”, afirmou. Mesmo com problemas de saúde – como crises de gastrite, dores nos ossos e constantes idas ao médico – ela nunca deixou de buscar alternativas. “Já vendi churrasquinho, geladinho, fiz faxina. Sempre dei meu jeito para não faltar o básico.”
A situação da família se agravou nos últimos dois meses após a suspensão do Bolsa Família, único benefício fixo que garantia o mínimo de alimentação. Segundo Cristiane, o bloqueio ocorreu após mudanças no cadastro familiar e questões burocráticas envolvendo a situação escolar dos filhos. “Meu benefício está suspenso e eu não sei se em janeiro vai voltar. Enquanto isso, a gente está passando necessidade”, relatou.
Ela descreve uma rotina marcada pela escassez. “Tem dia que a gente vai almoçar quatro horas da tarde, esperando o dinheiro de um bico. Tem dia que não tem café da manhã. Hoje, o que tem é arroz, feijão, três ovos, uns pedaços de ossinho e um pacote de macarrão”, disse. O sofrimento maior, segundo ela, é ver os filhos sentirem fome. “Dói quando a criança acorda pedindo mingau, pedindo iogurte, e você não tem o que dar. Isso corta o coração.”
Antônio José da Silva Souza, pedreiro profissional, é o principal responsável pela construção da casa onde a família mora. Atualmente desempregado, ele sobrevive de bicos, que se tornam ainda mais escassos durante o inverno amazônico. “Eu durmo, acordo e saio atrás de serviço. Faço qualquer coisa: massa, tijolo, limpar quintal, o que aparecer, para não ver minha família passar fome”, relatou. Ele afirma que a falta de emprego fixo tem levado a família a momentos extremos. “Tem dia que a gente passa fome, tem dia que não toma café. Meu filho chora pedindo leite e eu fico desesperado, porque não tenho de onde tirar. Às vezes eu choro também”, desabafou.
Antônio rebate críticas de quem associa pobreza à falta de esforço. “Muita gente vai olhar e dizer que é preguiça, mas não é. Eu já procurei emprego em várias obras. Quando chove, não dá para trabalhar. Quando aparece serviço, eu vou”, afirmou. Ele reconhece que a falta de estudo limita oportunidades, mas reforça que não escolhe trabalho. “Eu encaro o que for.”
A decisão de morar na área de invasão foi tomada após a perda do emprego e a impossibilidade de pagar aluguel. “A gente pagava quase R$ 800 com aluguel e luz. Não tinha mais como. Usei a indenização para fazer essa casinha”, explicou Antônio. Apesar disso, a insegurança é permanente. “Isso aqui não é nosso. Hoje a gente está aqui, amanhã pode não estar”, disse Cristiane. O local também representa riscos à saúde das crianças. “Quando chove, aparece de três a quatro cobras”, relatou o casal.
Um Natal simples como sonho
Ao falar do Natal, Cristiane resume o desejo da família em poucas palavras. “Meu sonho de ceia é simples: umas frutinhas, um panetone, um frango assado, um refrigerante, um bolinho. Só isso. Ver meus filhos felizes em volta da mesa.”
Antônio reforça o apelo com fé e esperança. “A situação está difícil, mas eu creio que Deus vai nos fortalecer. A gente não quer luxo, só quer o básico para dar dignidade aos nossos filhos.”
Como ajudar
A campanha solidária promovida pelo ac24horas.com, em parceria com o Conexão do Bem, busca arrecadar alimentos, doações financeiras, móveis, eletrodomésticos e itens básicos, além de garantir uma ceia digna para a família neste Natal.
Quem puder ajudar pode entrar em contato diretamente pelo telefone (68) 9258-8995 (WhatsApp), para ser direcionado à melhor forma para a entrega da ajuda.
Veja o vídeo:


















