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Serviços privados puxam geração de empregos e superam setores tradicionais no Acre

Foto: Odair Leal/Sesacre

Na economia capitalista moderna, o setor de serviços tornou-se o principal eixo da produção, do emprego e da geração de renda. Sua expansão está ligada às transformações estruturais do capitalismo, como o avanço tecnológico, a urbanização e o aumento da produtividade da indústria e da agropecuária, que liberam mão de obra para atividades terciárias.


Os serviços privados — como comércio, finanças, logística, tecnologia da informação e serviços profissionais — cresceram de forma mais acelerada, impulsionados pela lógica de mercado, pela inovação e pela busca de eficiência e competitividade. Em contraste, os serviços públicos tendem a apresentar crescimento mais moderado, condicionado por restrições fiscais e institucionais. Esse deslocamento reforça o papel dos serviços privados como motores do dinamismo econômico contemporâneo, ao mesmo tempo, em que redefine a estrutura do mercado de trabalho e os padrões de desenvolvimento no capitalismo atual.


No artigo de hoje, analisamos o crescimento da ocupação no setor de serviços privados da economia acreana em dois anos distintos: 2019 e 2025. Comparamos sua participação com o desempenho dessas atividades no Brasil, na Região Norte e no Acre. Para isso, foram utilizados dados da PNAD Contínua do IBGE, referentes ao terceiro trimestre de cada ano (2019 e 2025).


A tabela s seguir, evidencia mudanças estruturais relevantes no mercado de trabalho brasileiro entre o terceiro trimestre de 2019 e o de 2025, com destaque para o avanço do setor de serviços — especialmente os serviços privados — como principal vetor de absorção de mão de obra.


No Brasil, os serviços privados já constituíam o maior grupamento ocupacional em 2019 (34,3%) e ampliaram ligeiramente sua participação para 34,5% em 2025, acompanhados de uma variação positiva expressiva no número de ocupados (+10,7%). Esse resultado confirma a centralidade das atividades privadas de serviços — como transportes, finanças, tecnologia, serviços pessoais e profissionais — na dinâmica do emprego, superando amplamente os setores produtivos tradicionais. Embora os serviços públicos também tenham crescido, seu avanço reflete mais a expansão institucional do Estado, enquanto os serviços privados expressam diretamente o dinamismo do mercado.



Na Região Norte, o padrão é semelhante, porém mais intenso. Os serviços privados ampliaram sua participação de 27,2% para 27,9% do total de ocupados, com crescimento de 17,0% no período. Esse movimento ocorre em paralelo à retração relativa da agropecuária e à recomposição moderada da indústria e da construção, indicando uma transição estrutural para uma economia mais urbana e terciarizada. Ainda que os serviços públicos mantenham peso elevado, o crescimento mais acelerado dos serviços privados sinaliza maior diversificação das atividades econômicas e do mercado de trabalho regional.


O caso do Acre é ainda mais expressivo. Os serviços privados apresentaram a maior expansão relativa entre todos os grupamentos, elevando sua participação de 27,0% em 2019 para 30,0% em 2025, saindo de 80 para 100 mil pessoas ocupadas, com variação positiva de 25,0%. Esse desempenho contrasta com a perda de espaço da indústria e a estagnação relativa da agropecuária e da construção, evidenciando que a principal fonte de geração de empregos no estado tem sido o setor privado de serviços. Embora os serviços públicos continuem respondendo por parcela significativa da ocupação, o avanço mais intenso dos serviços privados indica uma mudança importante na estrutura econômica estadual, com maior peso das atividades mercantis, urbanas e voltadas ao consumo e aos serviços especializados.


Em síntese, os dados da PNAD Contínua confirmam que, entre 2019 e 2025, o crescimento do emprego no Brasil, no Norte e, sobretudo, no Acre foi liderado pelos serviços privados, reforçando seu papel como principal motor da dinâmica ocupacional no capitalismo contemporâneo e evidenciando uma transição estrutural para economias cada vez mais terciarizadas e orientadas pelo mercado.


A tabela a seguir, evidencia uma expansão significativa e, ao mesmo tempo, uma recomposição interna dos serviços privados no Acre entre o terceiro trimestre de 2019 e o de 2025. O total de pessoas ocupadas no setor passou de 80 mil para 100 mil, representando um crescimento de 25,0%, o que confirma os serviços privados como o principal motor recente da geração de empregos no estado.



O grupamento que mais se destacou foi o de informação, comunicação e atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas, que ampliou o contingente de ocupados de 25 mil para 37 mil pessoas, com crescimento de 48,0%. Além de liderar em volume, esse segmento elevou sua participação no total dos serviços privados de 31,3% para 37,0%, sinalizando um processo de maior sofisticação da economia urbana acreana, com avanço de atividades intensivas em conhecimento, serviços empresariais, intermediação financeira e suporte às cadeias produtivas.


Outro segmento com crescimento expressivo foi o de transporte, armazenagem e correio, que passou de 8 mil para 12 mil ocupados, aumento de 50,0%, elevando sua participação de 10,0% para 12,0%. Esse desempenho reflete a expansão das atividades logísticas, associadas ao crescimento do comércio, da circulação de mercadorias e ao aumento da integração regional e interestadual do Acre.


Em contraste, o segmento de alojamento e alimentação manteve o mesmo nível de ocupação absoluta (15 mil pessoas), mas perdeu participação relativa, de 18,8% para 15,0%. Esse comportamento indica estagnação relativa, possivelmente associada à maior sensibilidade do setor a choques econômicos e à recuperação desigual após a pandemia.


Os serviços domésticos apresentaram crescimento moderado, passando de 19 mil para 22 mil ocupados (+15,8%), embora com leve redução na participação percentual, de 23,8% para 22,0%. Esse movimento sugere expansão em termos absolutos, mas menor dinamismo quando comparado aos segmentos mais modernos dos serviços privados. Já o grupamento de outros serviços teve crescimento limitado (+7,7%), com redução de participação relativa.


Em conclusão, os dados da PNAD Contínua evidenciam que o crescimento recente do emprego no Acre tem sido fortemente liderado pelos serviços privados, confirmando a consolidação de uma economia cada vez mais terciarizada e orientada pelo mercado. Entre 2019 e 2025, o setor ampliou sua participação e seu contingente de ocupados, com destaque para os segmentos mais dinâmicos e intensivos em conhecimento — como informação, comunicação, serviços profissionais, financeiros e logística — que passaram a exercer papel central na estrutura produtiva e no mercado de trabalho estadual. Esse movimento sinaliza uma mudança estrutural relevante na economia acreana, marcada pela redução relativa dos setores tradicionais e pela crescente importância dos serviços privados como principal vetor de geração de emprego, renda e modernização econômica.



Orlando Sabino escreve às quintas-feiras no ac24horas