Giovanna Lancellotti abriu o jogo sobre a cena mais desafiadora e dolorosa de sua carreira como atriz. Ao viver Kami, uma personagem que é vítima de estupro em Dona de Mim, a artista teve de mergulhar em uma realidade traumática, cuja intensidade foi tanta que resultou em um mal-estar físico: ela vomitou de verdade após gravar as cenas da trama das sete da Globo.
“Essa sequência foi, com certeza, a mais difícil da minha carreira. Primeiro, porque eu tive pouco tempo para me preparar. Foi uma questão de três semanas. E eu, quando li, tive aquele baque como mulher, de ser o maior medo de todas nós, independentemente de idade, de classe social, todo mundo tem medo de que algo desse tipo aconteça”, declarou a atriz em conversa com a imprensa nos bastidores das gravações de Dona de Mim.
O ápice da exaustão ocorreu depois da gravação da cena pós-abuso, em que a personagem aparece no chuveiro. O impacto da sequência foi tão forte que atingiu até mesmo a diretora Mariana Duarte e a própria atriz, que manifestaram sintomas físicos ao chegarem em casa.
“Quando a gente gravou a cena do pós-estupro mesmo, que é a cena do chuveiro, quando ela chega em casa e tal, foi uma diária longa, de 28 cenas, e todas muito exaustivas, eu voltei para casa em choque. Porque é difícil o seu corpo entender que ‘ó, é brincadeira, hein? Vamos voltar agora, hein? Vamos brincar com os cachorros’. Tipo assim, não, tem alguma coisa que fica ali, é físico”, revelou Giovanna.
“E aí eu lembro que no dia seguinte ela [Mariana Duarte] me ligou e falou: ‘Você ficou bem? Porque eu vomitei quando eu cheguei em casa’. Eu falei: ‘Nossa, Mari, eu também’. As duas passaram mal. Então é algo que realmente é uma coisa, é uma energia, né? Mexe. E isso para a pessoa que não viveu isso [de verdade], né? Agora você imagina uma pessoa que passou por uma situação como essa”, contou.
Para alcançar a veracidade exigida pelo papel, Giovanna se dedicou a um mês de estudo intenso. A atriz consumiu vasto material audiovisual, como filmes, séries e documentários sobre o tema, e buscou depoimentos de amigas que já haviam vivido situações de abuso e se sentiam à vontade para compartilhar.
Além do preparo individual, Giovanna destacou a importância do apoio da equipe, especialmente da diretora da cena. “Então, também era um olhar de uma mulher ali, a Mari chorou em várias cenas gravando”, disse ela.
Para a atriz, a história de Kami ganha ainda mais relevância com as recentes manifestações contra o aumento de casos de feminicídio no país. Giovanna explicou que sua maior motivação foi a responsabilidade de representar a dor de inúmeras mulheres da vida real.
“Foi um mergulho muito profundo em termos de interpretação, porque eu nunca passei, graças a Deus, por isso, mas eu sabia que eu tinha o compromisso de tocar o coração de tantas mulheres que passam por isso todos os dias. Então, eu sabia que era um lugar de identificação muito dolorido e muito certeiro e que eu tinha que ter a maior verdade ali possível para eu conseguir atingir um bom resultado como atriz”, disse.
Dona de Mim, que já está em sua reta final, é uma novela que se propõe a ser mais realista, e retratar problemas e questões enfrentadas no Rio de Janeiro em 2025. Isso inclui momentos de violência, ainda mais pelo fato de um dos personagens ser policial. Todavia, uma parcela do público reclama que a autora Rosane Svartman faz os telespectadores sofrerem demais.
Giovanna Lancellotti confessou que também se surpreendeu com a trama de Kami em um primeiro momento. No entanto, a artista defendeu a importância de se abordar um tema tão sensível quanto a violência contra mulheres justamente em uma novela das sete.
“Quando aconteceu com a Kami, que era uma menina tão solar, quando eu li de primeira, nossa, mexeu muito comigo. Mexeu com todo mundo. ‘Nossa, eu não acredito, vão abordar esse tema?’. E é realmente numa novela das sete. Ninguém espera que vai ter algo assim”, opinou a atriz.
“Mas, gente, isso acontece a luz do dia. Como aconteceu com ela. Então, eu acho que sim, tem que se mostrar isso numa novela das sete, numa novela das seis, que é o que acontece, a gente passa todos os dias”, finalizou.


















