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João… entre as luzes do Natal, sombras e solidão

FOTO: WHIDY MELO

João, uma criança de nove anos esquecida pelos homens e pelo Papai Noel, reflete em sua pobreza uma espécie de imagem de Cristo. Seu sofrimento, abandono e esperança silenciosa são um lembrete do verdadeiro significado do Natal, muitas vezes ofuscado pelo brilho das festas e pela busca desenfreada pelo consumo.


É um órfão que vive nas ruas do centro da cidade após perder os pais em situação violenta e, depois, sua avó. Após passar por casas de parentes, escolheu a rua por considerá-la mais segura.


Nesta época do ano, o Natal assume para ele um significado diferente, distante do mundo colorido e consumista que o cerca. Apesar da fome que enfrenta, João vivencia o Natal em meio a cenários festivos, cujas cores intensas apenas servem para mascarar sua dor e solidão.


Enquanto a cidade se transforma à noite, com luzes acesas e celebrações tomando conta dos arredores, João sente ainda mais o contraste entre sua realidade e o ambiente festivo.


Ele dorme sob a marquise de um prédio antigo, próximo a uma grande igreja onde o nascimento de Cristo é celebrado com alegria. Ali, sua presença passa despercebida, como se fosse apenas uma pequena sombra entre tantas luzes.


Depois do Natal, todas as luzes que transformam a cidade em um palco de alegria e celebração se apagarão. Os guizos falsos, que por alguns dias mascaram a dor de quem vive à margem, se desfarão. A alegria, tão ruidosa quanto passageira, dará lugar ao silêncio e à solidão que acompanham João nas ruas do Centro, principalmente à noite.


Nesse cenário, ele continuará invisível, esquecido pelas pessoas que vivem em outro mundo muito distante do seu até que venha o próximo Natal. O ciclo da indiferença se repete: a cidade retornará suas rotinas ignorando sua existência e sua dor.