Começou o sobe e desce dos rios. E com eles, os aperreios de sempre. É, justamente, esse cenário de improviso que preocupa. O momento é oportuno para fortalecer a ideia de “cidade resiliente”, um conceito nada inédito e, no entanto, tão difícil de se executar na agenda coletiva.
No Acre, a cidade que exige maior atenção é a Capital, Rio Branco. Concentra, praticamente, metade da população. Pobreza e exclusão entranhadas nos 212 bairros. Como tornar uma cidade empobrecida, com uma população empobrecida, com aparelhos coletivos pouco eficazes em uma cidade resiliente?
Uma cidade que consiga dar respostas rápidas para garantir a manutenção da vida diante de eventos climáticos extremos pode não ser uma cidade obrigatoriamente rica. Mas ela deve ter um trabalho em rede muito afinado, com capacidade de reagir com o mínimo esforço e o máximo efeito.
Rio Branco foi uma entre as 50 cidades selecionadas para a primeira fase do Programa Cidades Modelo Verdes e Resilientes. No Acre, apenas a Capital e Tarauacá foram escolhidas. O programa foi elaborado pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas e tem duas frentes de atuação: uma é a mitigação e a outra é a adaptação. Essa é a teoria. Na prática, o que se vê?
Especificamente na Capital, o que se vê é o protagonismo natural de um servidor público que é um exemplo de abnegação, o chefe da Defesa Civil de Rio Branco, Cláudio Falcão. Eis um problema. Uma cidade resiliente não pode depender da atuação de apenas um elemento, um órgão, uma instituição.
De janeiro, quando foi anunciado o programa Cidades Modelo Verdes e Resilientes, até agora, não se sabe exatamente quais os efeitos práticos dele. Está faltando comunicação? Pode ser. Mas o que falta mesmo é uma ação coordenada e transversal, que costure o trabalho de diversas instituições em busca de reagir com qualidade ou à seca extrema ou às alagações.
A Prefeitura de Rio Branco deixa óbvia a velha manipulação política possibilitada pelas enchentes. Diversos botijões de gás, colchões, fogões, camas e outros instrumentos foram flagrados, esperando o momento da foto pós-cheia do Rio Acre. Isso não é resiliência. Isso é manipulação. Rasteira, aliás.
O prefeito de Rio Branco até começou bem, aproximando-se institucionalmente da Ufac para realização de estudos sobre o Igarapé São Francisco (a Ufac é uma instituição estratégica: as instituições de pesquisa e ensino superior são fundamentais na busca por uma cidade resiliente). No entanto, também não se viu consequência efetiva dessa aproximação entre a PMRB e a Ufac. O que é de se lamentar.
Resumindo: apesar de todas as ferramentas que possibilitam prever os diversos cenários relativos às mudanças climáticas, de resiliente mesmo Rio Branco tem a entrega de sacolões e água potável, a construção dos boxes no Parque de Exposições Wildy Viana e a entrega dos móveis e eletrodomésticos com flagrantes estratégicos dos fotógrafos e cinegrafistas oficiais prontos para registrar o momento estratégico para 2026.
O sobe e desce das águas do Rio Acre é parte de um bailado com ritmo milenar. Não respeitamos essa dança por uma série de motivos. A consequência disto é que nós não estamos sabendo lidar muito bem com os efeitos das mudanças do clima. Por aqui, estamos completamente perdidos, mesmo com o rio apontando o rumo e impondo os limites.


















