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A sombra da falta de transparência no Prêmio de Mestres da Cultura Popular do Acre

Por Sérgio Souto – Cantor e compositor acreano


Há momentos em que a arte, em vez de ser celebrada, é submetida a um tribunal invisível, onde os juízes não são mestres, mas aprendizes de ocasião. Foi exatamente isso que se desenhou no Resultado Final da Avaliação Técnica do Edital Prêmio de Mestres da Cultura Popular do Estado do Acre nº 08/2025. Um processo que deveria ser luminoso, transparente e justo, acabou envolto em névoas de pareceres obscuros, notas inexplicáveis e escolhas que cheiram mais a apadrinhamento político do que ao reconhecimento cultural.


O que se viu foi a soberania de um sistema de pareceres que não se explica, não se abre, não se mostra. Parecerismo virou palavra-chave: um mecanismo que, em vez de valorizar mestres, parece servir para legitimar decisões arbitrárias. Ora, se os jurados julgam mestres, eles próprios precisam ser mestres. Não se pode aceitar que qualquer pessoa recém-chegada, sem vivência, sem chão de cultura, sem poeira de estrada, se sente à mesa para decidir quem carrega o título de mestre da música e da cultura popular acreana. Queremos saber quem são esses jurados, quais suas obras, seu currículo cultura.


Recebi nota máxima de dois jurados. Dois reconheceram o peso da minha trajetória, o valor da minha obra, o mestrado que a vida me concedeu. Mas o terceiro, como se fosse dono de um poder absoluto, me deu nota mínima. Essa discrepância não é apenas técnica: é um golpe. É a prova de que, no sistema atual, um único parecer pode derrubar décadas de história. Se tivesse me dado dez, eu estaria entre os cinco classificados. Mas não: a caneta de um julgador anônimo decidiu que eu não merecia.


Queremos saber quem os cinco nomes escolhidos. Queremos saber se suas histórias dialogam com a memória coletiva da cultura acreana. Se isso não for divulgado, fica tudo muito estranho: sintomático. O Resultado, dessa falta de transparência, é sinal de que o critério não foi a obra, não foi a trajetória, não foi o reconhecimento popular. Foi outra coisa. Foi política. Foi padrinho. Foi conveniência.


Por isso, cobro da Fundação Elias Mansur, em nome do Sr. Minoro Kimpara, uma resposta clara, pública e urgente. Não se trata de mágoa pessoal. Eu já tenho o meu mestrado na vida, conquistado no palco, nos 46 anos de estrada, na canção. O que está em jogo é a credibilidade de um prêmio que deveria honrar a cultura popular. Transparência não é favor: é obrigação.


Hoje, os pareceristas são soberanos. Podem dar a nota que quiserem, derrubar quem quiserem, consagrar quem bem entenderem. Isso é sinistro. Isso é perigoso. Isso é a negação da democracia cultural. Um prêmio que deveria ser celebração virou palco de arbitrariedade.


Repito: para julgar mestres, é preciso ser mestre. Não se pode brincar com a memória cultural de um povo. Não se pode transformar o reconhecimento em moeda de troca política. O Acre merece mais. A cultura popular merece mais. Os mestres merecem respeito.


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