Valterlucio B. Campelo

A precipitação da precipitação – muita calma nessa hora

Por
Valterlucio Campelo

Vimos nos últimos dias que muitos analistas, alguns de boa-fé, se danaram a tratar como precipitação a declaração anterior do Senador Alan Rick de apoio à candidatura de Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo à presidência da república, não havendo, como não há, condições de que Jair Bolsonaro entre na disputa. Para uns foi um tiro no pé, pois de agora em diante, Alan Rick estaria órfão de candidatura presidencial, já que o bolsonarismo representado pela candidatura de Flávio Bolsonaro ficaria por conta de Bocalom. Presume-se que a migração do Senador Alan Rick para o PR teria sido uma jogada estratégica para se pendurar numa vigorosa candidatura presidencial (Tarcísio de Freitas) e, com a indicação de Flávio Bolsonaro, teria dado com os burros n’água.


Com todas as vênias, ouso discordar dos respeitáveis argumentos. Em primeiro lugar a filiação do senador ao PR foi algo influenciada, mas não dependente de uma candidatura do Tarcísio. Alan tinha poucas opções, era o MDB ou o PR. Com o primeiro frequentando o cafofo do Lula, o PR se tornou quase compulsório. Lá se vai o argumento da filiação oportunista.


Em segundo, conclui-se que a ausência de Tarcísio da disputa presidencial em favor de Flavio Bolsonaro teria efeito devastador na votação do Alan Rick. Também não confere. Curiosamente, pelo menos por enquanto, o eleitor acreano vota mais em quem apoia o Bolsonaro do que em quem Bolsonaro apoia. As eleições de 2022 demonstraram isso de modo cabal, basta ver a votação dos candidatos ostensivamente apoiados por Bolsonaro. Além disso, registre-se que nas votações do Senado Alan Rick é oposicionista (80%), e suas declarações em temas cruciais como a anistia e a prisão do Jair Bolsonaro não deixam dúvidas quanto à sua efetiva posição político-ideológica. Parece que por aqui esse negócio de transferir votos é mais complexo do que imaginamos.


Em terceiro, diria que ainda é muito cedo. O tratamento que estamos dando à disputa eleitoral faz parecer que a votação se dará no mês que vem. Faltam nove meses para o pleito e, em condições de instabilidade político-institucional como a que estamos vivendo, não é prudente cravar coisa nenhuma, menos ainda sobre as possibilidades das candidaturas. É certo que Flávio se manterá na disputa? E se negociações na cobertura do sistema resultarem em sua renúncia em favor de uma candidatura associada de maior viabilidade eleitoral e contemplação de uma anistia ampla, geral e irrestrita? Há muita movimentação e várias possibilidades neste sentido. 


Considerando todos esses fatores, não parece haver razão para dizer que houve precipitação na ida do Alan Rick para o Republicanos, nem que tal decisão tenha sofrido qualquer revés importante. Nos próximos dias, incluindo o recesso, muita gente trabalhará fora do expediente para que as águas retornem ao leito normal e, quem sabe, possa surgir logo adiante uma chapa de unificação da direita nacional. 


No Acre teremos a repercussão do julgamento da ação que envolve o governador no STJ e, muito provavelmente, os anúncios das decisões de apoio do MDB e da candidatura já sabida do Tião Bocalom. A partir daí, o quadro estará bem mais claro e, provavelmente, iniciaremos o ano eleitoral com o páreo formado. A não ser que o governador tenha um ás na manga tão inesperado que ninguém ousa antecipar, serão três candidatos à direita efetivamente disputando a eleição e um à esquerda assistindo ao baile e perseguindo uma vaga no senado. 


Valterlucio Bessa Campelo escreve semanalmente nos sites AC24HORAS, DIÁRIO DO ACRE, ACRENEWS e, eventualmente, no site Liberais e Conservadores do jornalista e escritor PERCIVAL PUGGINA, no VOZ DA AMAZÔNIA e em outros sites. Seu último livro “Arquipélago do Breve” encontra-se à venda através de suas redes sociais e do e-mail valbcampelo@gmail.com.


 


Compartilhe
Por
Valterlucio Campelo