A classe política não tem descrédito junto à população à toa. Sempre que possível, alguns parlamentares oferecem como próprio deles um avanço que, de fato, não foi de sua lavra. O Exame Nacional de Proficiência Médica, por exemplo, não é uma proposta exclusiva do senador Alan Rick (Republicanos/AC). Mas quem olha a divulgação na internet jura que é.
OAB da Medicina
O Exame Nacional de Proficiência Médica é um avanço. Com relação ao “Exame da Ordem”, ficou popularmente conhecido com a simpática expressão “OAB da Medicina”. O espírito é o mesmo: avaliar se os graduados têm domínio mínimo para receitar ao menos uma cibalena.
CFM
Uma matéria dessas só é aprovada pelo parlamento com o apoio do poderoso lobby Conselho Federal de Medicina. O exame é uma medida de cuidado; é um avanço, diante do crescimento vertiginoso de escolas médicas com qualidade duvidosa.
Rastro
O Governo do Pará suspendeu a rastreabilidade do gado bovino até 2031. Politicamente, o governador Helder Barbalho capitaliza junto à classe de pecuaristas, insatisfeita porque diz ter investido, desde 2019, com o início do programa Boi na Linha, e não ter sido beneficiada com abertura de novos mercados.
Será?
A quais “mercados” o Pará se refere? Porque o próprio setor pecuário celebra um cenário promissor no comércio externo. O Programa Nacional de Rastreabilidade Individual de Bovinos e Bubalinos (PNIB), do Ministério da Agricultura, prevê que todo país esteja pronto para saber “o caminho do boi” até 2033.
Clara
Trata-se, portanto, de uma clara jogada de marketing político do governador Helder Barbalho. Esperneia, fantasiando uma defesa da classe de pecuaristas, adia o início da rastreabilidade até dois anos antes de quando todo mundo estará obrigado a se enquadrar ao programa.
Veículos
O Acre fecha novembro com 3.613 vendas e alta de 17% no acumulado no setor de automóveis novos e usados, segundo a Fenauto – mas segue menor mercado da região. Cresce, sim, mas ainda distante dos vizinhos, revelando uma economia que reage lentamente e depende muito mais de motos do que de automóveis.
Comércio
O setor supermercadista admite dificuldade para contratar, um sintoma de baixa qualificação e alta rotatividade. O Feirão ajuda, mas não resolve o problema estrutural de mão de obra — que persiste ano após ano.
Cronograma, seu feio!
A promessa da sexta ponte de Rio Branco reforça a narrativa do “Ano do Executar”, mas a história recente do Acre aconselha cautela. O desafio não é anunciar: é concluir, e o passado já mostrou que o cronograma é sempre o maior adversário.
Movimento
Com a iminente saída de Tião Bocalom da Prefeitura de Rio Branco no próximo ano, para disputar o governo estadual, o clima político na Câmara começa a esquentar. Nos bastidores, vereadores já se movimentam para definir quem deve disputar a presidência da Mesa Diretora e quem poderá compor uma eventual vice-prefeitura na gestão que deve ser assumida por Alysson Bestene.
Disputa
Entre os nomes cotados para comandar o Parlamento, Samir Bestene surge com força. Experiente, com quase cinco anos de atuação na Casa, o vereador é apontado por colegas como alguém com trânsito político e capacidade de articulação para liderar a Câmara em um momento de transição. Mas é bom ter cuidado com o avanço do vereador Bruno Moraes.

Foi só denúncia
E por falar em denúncias, até agora não há qualquer comprovação contra o superintendente da RBTrans, Clendes Vilas Boas, acusado suspostamente de assédio. Mesmo assim, ele segue entre os gestores mais criticados ao longo do ano pela opinião pública.
Cadê?
Uma leve provocação ao prefeito de Sena Madureira, Gerlen Diniz: “Cadê o Festival da Castanha, prefeito?”. No ano em que foi emancipada “Capital Nacional da Castanha”, a cidade de Sena não faz um gesto simbólico valorizando a conquista? O início da safra seria ideal.
Bora!
Bora, Gerlen! Nem só de Mazinho vive Sena Madureira!
Projeção
Preconceitos à parte da grande imprensa, que, em muitas ocasiões, só oferece uma imagem caricata dos políticos do Norte e Nordeste, impressiona como repercutiu a falta de bom senso (e de senso público) da deputada federal Antônia Lúcia (Republicanos/AC). De fato, é uma agenda muito desqualificada e tosca para não ser notícia.
Também
Impressiona também como a bancada federal do Acre perdeu em densidade. À exceção de Socorro Neri (Progressistas/AC), que tem se destacado na agenda educacional sobretudo, os demais são auto-explicativos. Ninguém escreve isso com alegria. A cena toda é lamentável.
Infraestrutura
As escolas do Norte continuam dependendo do Fust para alcançar um mínimo de conectividade, mostrando como políticas emergenciais viraram rotina permanente. Sem mudança estrutural, o ciclo da desigualdade digital se repete.
Conectividade
Mesmo com o Acre incluído no lote anterior do Escolas Conectadas, a nova rodada reforça o atraso estrutural do Norte, que continua dependendo de editais para alcançar um mínimo de equidade digital. A inclusão avança, mas ainda expõe décadas de negligência.

Mobilidade
O Anel Viário de Rio Branco opera como símbolo de uma cidade que cresceu sem planejamento e tenta corrigir agora um congestionamento que virou rotina. Com só 30% prontos, o desafio é entregar sem repetir o histórico acreano de obras que travam pelo caminho.
Emprego
O Feirão com mil vagas evidencia a contradição local: há oferta, há demanda, mas falta qualificação para fechar a conta. A ação é bem-vinda, mas revela o quanto a economia acreana ainda depende de mutirões para reduzir sua própria vulnerabilidade.
Renda
Com renda média de R$ 2.538, o acreano segue bem abaixo da média nacional, num retrato que escancara a desigualdade regional do país. O avanço registrado pelo IBGE é tímido demais para mudar a vida real das famílias na ponta.
Atendimentos
A migração temporária de Seagri, Emater e Cageacre para espaços improvisados reflete o improviso histórico das estruturas públicas. A solução evita paralisações, mas confirma que o Estado ainda opera mais sob contingência do que planejamento.

