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Cruzeiro do Sul e o Vale do Juruá, onde o esporte sempre teve predominância masculina, conta agora com a primeira mulher faixa-preta de jiu-jítsu da história do município. É a nutricionista Angela Futema Godoy, de 48 anos.
Ela e outras 7 mulheres de variadas idades e profissões foram graduadas na segunda-feira,1ª, junto com homens e crianças no Teatro dos Nauas, em Cruzeiro do Sul, na graduação anual da Academia CT Náuas. Graus e faixas foram distribuídos a praticantes de 5 a 50 anos.
Angela conheceu o jiu-jítsu quando morou no Japão, em 2001. Segundo ela, o esporte lhe ensinou a ter disciplina, a vencer e perder, e que a vida é feita de ciclos e desafios a superar. Já no Brasil, em 2008, ainda faixa-roxa, no tatame, conheceu seu marido Flavio, que era faixa-marrom, cor que ela alcançou em 2012. Na gravidez, Angela deixou de lado o esporte, que só retomou 10 anos depois. Em 2024, voltou para o tatame com o marido Flávio, que já é faixa-preta, e o filho Enzo.
“Que presente da vida! Sou imensamente grata ao Sensei Eduardo Martins do CT Náuas pela chance de me tornar a primeira mulher faixa-preta do Vale do Juruá. Agradeço a Deus por me guiar e me dar saúde. Ao meu marido, Flávio, por ser meu parceiro de vida e de treino. Ao meu filho Enzo, que me inspira a cada dia. Ao Sensei Eduardo da Rocha e Barbosa e a todos os professores que me moldaram. E a cada colega de tatame, que me empurrou, me ensinou e me levanta”, contou emocionada.
A Academia CT Náuas de jiu-jítsu foi fundada em 1998 e a participação do público feminino no esporte aumentou significativamente nos últimos anos. Atualmente, dos quase 300 alunos, 50 são do sexo feminino.
Na cerimônia de graduação, além de Angela Godoy, na faixa-preta, Raissa Silva, Júlia Andrade, Ana Gabryela Carvallho, Márcia Machado, Patrícia Oliveira e Iara Fernanda foram graduadas na faixa-azul. Damila Souza e Aline Bezerra graduadas à faixa-roxa.
Quem pratica conta que o esporte garante saúde física e mental. A enfermeira Aline Bezerra, que é faixa-roxa agora, achou no tatame o remédio para a depressão que enfrentava.
“O jiu-jítsu se tornou, para mim, muito mais do que um esporte. Em meio à depressão, quando tudo parecia pesado demais e o mundo parecia ficar cada vez menor, encontrei no tatame um lugar onde eu podia respirar, sentir meu corpo presente e retomar, pouco a pouco, o controle da minha própria história. Cada treino virou uma forma de silêncio interno, um espaço onde minha mente descansa e meu coração se fortalece. O jiu-jítsu me ensinou que a minha força não precisa ser explicada — ela é sentida. A cada queda, aprendi que levantar faz parte; a cada posição difícil, entendi que paciência e estratégia também são poder. Foi ali que reencontrei a disciplina, a autoconfiança e a coragem que a depressão tentou apagar. Hoje, o jiu-jítsu é minha terapia em movimento, minha válvula de escape, minha prova diária de que posso superar meus limites”.
Raissa Silva, faixa-azul ,que é Policial Militar, se sente mais segura no trabalho depois que passou a fazer jiu-jítsu. “Na nossa profissão o perigo é iminente, não podemos errar e um erro pode custar nossa vida. Após algumas ocorrências com contato físico, senti necessidade de buscar algo a mais do que nos foi oferecido durante academia de polícia. Decidi fazer uma aula experimental de jiu-jítsu e foi muito difícil, pois não tinha noção nem de como “cair certo”, porém gostei e continuei frequentando, houve algumas pausas, devido problemas pessoais e de saúde, mas segui. O sentimento é de gratidão ao sensei Eduardo que foi o meu primeiro Sensei, e também ao Sensei Arisson, que não deixou eu desistir, sempre me motivando, e disposto a ensinar com excelência, e aos colegas de tatame que sem eles também não conseguiria evoluir sozinha. Muito feliz e grata por essa grande conquista”, enfatiza ela.
A Policial Civil Damila Pereira de Souza, de 38 anos, faixa-roxa, compartilha como a arte marcial impactou sua vida pessoal e profissional. “Na carreira policial, o jiu-jítsu aumentou minha autoconfiança e habilidade de lidar com situações de confronto físico, além de melhorar o controle do estresse e da pressão no trabalho. E na vida pessoal a prática me tornou mais forte emocional e fisicamente, aumentando minha segurança em qualquer situação. Paras as mulheres eu digo que é um investimento em si mesma. O jiu-jítsu é empoderamento. Comece com uma aula, sinta o ambiente e você verá o quanto pode transformar sua vida”.
Para o professor Eduardo Martins, o jiu-jítsu influencia positivamente a vida de crianças, adolescentes e adultos. Para ele, as graduações incentivam a todos. “É muito importante e todo mundo fica feliz pela sua evolução e o reconhecimento por parte do professor. O jiu-jítsu pode mudar, pode influenciar na vida de uma pessoa em tudo, desde a determinação, superação, disciplina, respeito. E para os adultos também, o anti-estresse, para a pessoa que gosta de competir. Então, muda totalmente a vida da pessoa. Ela passa a traçar uma meta para ela e conforme o que ela almeja, ela pode alcançar. Isso só depende exclusivamente dela”, pontua o professor.