Fellipe Sampaio/STF
O deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) afirmou que está “seguro” nos Estados Unidos e que tem “anuência” do governo norte-americano para estar no país.
Ramagem foi condenado a 16 anos, um mês e 15 dias de prisão em regime inicial fechado por participação no plano de golpe de Estado no Brasil, no contexto das eleições de 2022.
“Nas palavras até do governo americano para mim: ‘Que bom que temos um amigo que está em segurança, a salvo, aqui nos Estados Unidos’. Então, a gente tem esse apoio dos norte-americanos de tudo o que está acontecendo no Brasil”, disse o deputado em entrevista conduzida pelo blogueiro Allan dos Santos no canal Conversa Timeline, no YouTube.
Em outro momento da conversa, transmitida ao vivo no último sábado (22), Ramagem volta a reforçar que o governo dos EUA tem ciência de sua presença.
“Eu estou seguro aqui com a anuência e o conhecimento do governo americano. Essa perseguição contra mim, grave, a gente vai acabando por ter ciência, consciência disso, desvendando os porquês ao longo do tempo”, afirmou.
O deputado credita a “perseguição” a sua aliança com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e ao fato de ser uma das pessoas que estaria “protegendo o Brasil” do que ele chama de “sistema oligárquico” e “tirano”.
A CNN entrou em contato com a PF (Polícia Federal), o STF (Supremo Tribunal Federal) e o governo dos Estados Unidos para que se manifestem sobre as falas do parlamentar. Não houve retorno até a publicação desta reportagem.
O STF (Supremo Tribunal Federal) condenou Ramagem pelos crimes de organização criminosa armada, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito e golpe de Estado.
Delegado da PF (Polícia Federal), Alexandre Ramagem foi chefe da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) durante a gestão Bolsonaro. Segundo as investigações que culminaram em sua condenação, o deputado era uma das pessoas responsáveis por construir e direcionar mensagens, difundidas pelo ex-presidente, para atacar o processo eleitoral.
Na última quarta-feira (19), o ministro Alexandre de Moraes, do STF, decretou a prisão preventiva do deputado. A PF identificou indícios de tentativa de fuga: ele teria saído do Rio de Janeiro rumo a um estado do Norte, seguido por via terrestre até um país vizinho e, de lá, embarcado para os Estados Unidos.
Ramagem ainda não havia começado a cumprir a pena de 16 anos de prisão, porque o processo da trama golpista não transitou em julgado — ou seja, ainda está sendo contado prazo para a apresentação de recursos. As defesas dos réus do núcleo 1, ao qual Ramagem pertence, têm até esta segunda-feira (24) para apresentar novos recursos à Primeira Turma do STF contra as condenações.
No domingo (23), a esposa do parlamentar, Rebeca Ramagem, afirmou em uma publicação nas redes sociais que eles foram para os Estados Unidos a fim de “proteger a família”.
A questão da família também foi citada pelo deputado durante a entrevista, lamentando a possibilidade de suas filhas o verem ser preso.
“É lógico que eu não ia ficar no Brasil. Eu consegui essa possibilidade de sair… Minhas filhas me vendo ser preso, sem ter cometido crime algum. Eu sofrer diante de uma ditadura. Eu não sei quanto tempo vai levar, mas a gente vai virar esse Brasil.”