A decisão do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que suspendeu o julgamento da Ação Penal 1.076 — um dos principais desdobramentos da Operação Ptolomeu — pautou a edição especial do programa Boa Conversa desta terça-feira, 19. O julgamento, previsto para ocorrer nesta quarta-feira, 20, no Superior Tribunal de Justiça (STJ), foi interrompido após acolhimento de pedido da defesa do governador Gladson Cameli.
O programa, apresentado pelo jornalista Marcos Venícius e com comentários dos colunistas Astério Moreira e Luís Carlos Moreira Jorge, analisou os impactos jurídicos e políticos da decisão.
Marcos Venícius destacou que a suspensão cria um “fator novo” no caso. “A brecha que se cria, Astério, é um fator novo. É uma possibilidade — não estou entrando no mérito das provas — mas uma possibilidade de desencadear toda a queda do processo. Isso porque não teria havido autorização judicial para obtenção dos documentos que deram início à investigação e colocaram o Gladson na mira da PF e do MPF”, afirmou.
Astério Moreira também comentou o cenário. “Marcos, a gente sabe que, se o governador Gladson Cameli se afastar do cargo em abril para concorrer ao Senado, uma vaga pode ser dele. Os demais disputariam apenas uma vaga. Esse é o desdobramento político. Mas é bom ressaltar que há muita especulação sobre a decisão do ministro, porém a questão específica aqui é jurídica”, disse.
Segundo o colunista, a defesa de Gladson Cameli já havia apontado anteriormente no STJ a ausência de autorização judicial para que o Coaf fornecesse os dados que embasaram o início da investigação. “Essa é a brecha jurídica. Não tem política, não tem JV, não tem Lula, não tem Gleisi, não tem advogado de Dilma. Se não houvesse brecha jurídica, Gilmar Mendes não teria concedido a suspensão — fosse ele até pai do Gladson”, concluiu Astério.
Moreira descartou a existência de uma conspiração em que Jorge Viana estaria por trás da decisão do ministro Gilmar Mendes. Segundo o colunista, não há “casamento político” entre Gladson Cameli e Jorge Viana. “Então, não foi isso que foi visto, não foi porque se juntou politicamente e aí teve uma conspiração nacional. Ontem eu vi muita gente falando: ‘não, porque o Jorge Viana é amigo do Gilmar Mendes’. Amigo do Gilmar Mendes é o Tião Viana, rapaz. Porque o Gilmar Mendes foi indicado pelo Fernando Henrique Cardoso, e quem era senador, quem pegou quatro anos de Senado no governo do Fernando Henrique Cardoso foi o Tião Viana. Então não tem nada a ver. É uma questão jurídica. Tanto é que eu acho que o Jorge ficou foi ‘P’ da vida quando disseram: ‘não, mas o Jorge está por trás’. Ele até comentou com algumas pessoas, assim, num plano muito pessoal, não emitiu juízo de valor, não disse nada. A gente sabe que ele ficou até chateado com essa história. O que é que teria a ver? Ali não dá casamento, meu amigo, não dá casamento. O Jorge Viana não dá casamento político [com Gladson], não tem, é impossível. Não dá”, disse.
Astério afirmou ainda que a candidatura de Gladson Cameli ao Senado não interessa a nenhum dos concorrentes. “Não interessa para o Jorge Viana a candidatura do Gladson, não interessa. Não interessa para ele nem para ninguém que vai disputar o Senado. Todo mundo queria ver o Gladson Cameli fora do páreo. Todo mundo, todo mundo. Quem vai fazer dobradinha com ele ali no Progressistas, eu não sei. A princípio, o governador Gladson Cameli disse que apoia o Márcio, e o Márcio disse que apoia o Gladson. Está uma salada. Mas o que interessava para todo mundo era a queda do governador, e foi o que não aconteceu. Por enquanto, candidatíssimo, pré-candidatíssimo”, comentou.
Durante o bate-papo, o jornalista também comentou sobre os desdobramentos da decisão do ministro Gilmar Mendes. Segundo ele, falta o documento que comprova a autorização judicial para que a inteligência financeira participasse da investigação ou contribuísse com provas — posição que reforça a análise feita por Astério Moreira. “Não acontece esse ano”, afirmou.
Marcos Venicius destacou ainda que existe a possibilidade de que os desdobramentos do caso só ocorram no próximo ano. “Inclusive das eventuais provas e documentos que seriam analisados serem avaliados apenas no ano que vem”, acrescentou.
Moreira destacou na entrevista que acredita que o MDB deverá apoiar a candidata do governo, a vice-governadora Mailza Assis.
Segundo ele, a sigla tem adotado uma postura pragmática diante do cenário eleitoral. “Sendo bem objetivo, o MDB disse o seguinte: nós não queremos cargo no governo, não estamos discutindo isso porque não é o governo que o MDB construiu. Vai tentar construir um. O MDB quer estruturar uma chapa de deputado federal, e para isso precisa do governo”, afirmou.
O colunista explicou que outros partidos da base também enfrentam dificuldades para montar chapas competitivas. “O governo tem o PSDB, que não está conseguindo se estruturar — é o melhor que tem ainda. Tem o Podemos, tem o PSDB e agora o MDB. O senador Alan, do Republicanos, tem condição de ajudar o MDB a ter uma chapa de deputado federal? O próprio Republicanos está com certa dificuldade de estruturar sua chapa”, avaliou. Para Moreira, esse cenário deve influenciar diretamente a posição dos emedebistas. “Então passa muito por aí. Eu acho — é uma opinião minha, respeito a de todos — que o MDB vai, de qualquer maneira, com o governo, porque terão mais condições de montar a chapa”, concluiu.
O jornalista Marcos Venicius também mencionou a ausência do presidente da Apex-Brasil, Jorge Viana, no Acre durante o período pré-eleitoral para sua campanha ao Senado no próximo ano. “O Jorge não tá aqui, ô Asterio. Eu tô falando isso e parece que o pessoal fica assim…”, comentou.
Venicius também comentou a visita do senador Márcio Bittar e de outras autoridades ao presídio para verificar as condições de uma possível acolhida ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Segundo o jornalista, a atitude revela uma preocupação tardia. “Nunca se preocupou com a situação do sistema penitenciário do Acre. Estou dizendo isso mais uma vez porque ele foi se preocupar lá com o líder maior dele. Eu acho que o Márcio nunca entrou no presídio para ver a situação real de como as coisas acontecem. Se fosse o ‘Zé Droguinha’ mandando uma carta dizendo: ‘Senador, venha ver a situação do meu pavilhão’, ele teria ido? Não teria, né? Então, a gente está pontuando aqui”, afirmou.
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